Texto extraído do livro "Memória Rubro-negra: de Moto Club a Eterno Papão do Norte" sobre o título do Moto no primeiro Torneio Maranhão-Pará, em 1972:
Moto Club campeão do Torneio Maranhão-Pará de 1972
Levantando o troféu de campeão
Moto Club campeão do Torneio Maranhão-Pará de 1972
Jogadores sendo recepcionados no aeroporto em São Luis
Festa em campo
Torcida do Moto comemorando o título do primeiro turno nas ruas de São Luis
1º TURNO (todos jogos disputados em Belém/PA)
20.02.1972
REMO 3-2 MOTO CLUBE
PAYSANDU 2-0 SAMPAIO CORRÊA
22.02.1972
PAYSANDU 3-4 MOTO CLUBE
REMO 0-0 SAMPAIO CORRÊA
24.02.1972
MOTO CLUBE 3-2 SAMPAIO CORRÊA
PAYSANDU 1-1 REMO
2º TURNO (todos os jogos disputados em São Luís/MA)
27.02.1972
MOTO CLUBE 1-0 REMO
SAMPAIO CORRÊA 2-0 PAYSANDU
29.02.1972
SAMPAIO CORRÊA 1-3 REMO
MOTO CLUBE 2-1 PAYSANDU
02.03.1972
REMO 3-2 PAYSANDU
MOTO CLUBE 0-0 SAMPAIO CORRÊA
CAMPEÃO: Moto Clube (MA)
20.02.1972
REMO 3-2 MOTO CLUBE
PAYSANDU 2-0 SAMPAIO CORRÊA
22.02.1972
PAYSANDU 3-4 MOTO CLUBE
REMO 0-0 SAMPAIO CORRÊA
24.02.1972
MOTO CLUBE 3-2 SAMPAIO CORRÊA
PAYSANDU 1-1 REMO
2º TURNO (todos os jogos disputados em São Luís/MA)
27.02.1972
MOTO CLUBE 1-0 REMO
SAMPAIO CORRÊA 2-0 PAYSANDU
29.02.1972
SAMPAIO CORRÊA 1-3 REMO
MOTO CLUBE 2-1 PAYSANDU
02.03.1972
REMO 3-2 PAYSANDU
MOTO CLUBE 0-0 SAMPAIO CORRÊA
CAMPEÃO: Moto Clube (MA)
Moto Club de São Luis, Sport Club Paysandu, Clube do Remo do Pará e Sampaio Corrêa Futebol Clube. De um lado, a força e a tradição do futebol paraense, sendo representado pelos dois maiores desse Estado. Do outro, a rivalidade entre rubro-negros e bolivianos à disposição do futebol maranhense para as disputas da novata competição. A união entre os dois Estados resultaria em um torneio que, se não foi adiante, não chegou a entrar oficialmente no calendário do futebol das duas Federações, valeu pela força e pela rivalidade em campo. Surgia o I Torneio Maranhão-Pará, que seguia os mesmos moldes do que já havia sendo realizado entre maranhenses e os seus vizinhos piauienses. Sobre o Maranhão-Piauí, a competição já havia sido realizada em 1967 e 1968 e deu resultados positivos para ambos os Estados. Aliás, ainda em 1972, antes das disputas entre maranhenses e paraenses, chegou a São Luis um telegrama da Federação Piauiense de Desportos, propondo a realização do Torneio Interestadual Maranhão-Piauí, sendo exigência dos mafrenses a participação de Moto Club e Sampaio Corrêa, o que dificultou a confirmação do certame, já que Maranhão Atlético Clube e Ferroviário, embora contando com um número menor de torcedores em nossa cidade, reivindicaram os mesmos direitos de participação. Assim, foi proposto, de início, um quadrangular eliminatório para classificar os dois representantes maranhenses no torneio, mas os piauienses desejaram apenas tricolores e rubro-negros, que têm melhor renda em Teresina. No seletivo corria-se o risco de classificar os outros dois clubes de menor apelo popular em São Luis (leia-se fracasso de renda na competição).
Baseado na experiência de competições passadas com os piauienses, e prevendo o sucesso de público e renda, o Sampaio defendeu a realização do torneio com os paraenses para melhorar o intercâmbio com o Pará e fugir da rotina do Piauí. Contudo, os primeiros contatos com os vizinhos nortistas mostraram que a competição deveria ser mais bem estudada por ambas as Federações. Questões financeiras configuravam-se como um entrave para a realização da primeira edição do torneio. A Federação Paraense não concordou em realizar o torneio com os clubes locais dentro das mesmas condições financeiras para São Luis e Belém, já que os marajoaras pediram uma diferença de um mil cruzeiros em cada jogo sobre a cota que pagariam aos maranhenses na cidade de Belém. Em seguida, Remo e Paysandu aceitariam jogar por uma cota de 12 mil cruzeiros. Os dirigentes motenses, a contrário dos bolivianos, não concordaram. Foi acordado que, caso o time motense desistisse, o Sampaio Corrêa aceitaria as condições dos clubes paraenses para uma permuta de jogo com um dos dois para aproveitar as últimas datas antes do início da Taça Cidade, que começaria no dia 5 de Fevereiro. A FMD recomendou aos dirigentes de Sampaio e Moto só aceitarem os jogos com os marajoaras em condições idênticas, tanto em São Luis quanto em Belém do Pará. Para o Presidente José Oliveira, há necessidade de se valorizar os nossos clubes que têm feito contratações caras e não estão nada a dever aos paraenses.
A princípio, a competição não foi aceita pelos dois times maranhenses, uma vez que os paraenses queriam ganhar cota superior a Moto Club e Sampaio Corrêa, o que vinha tornando difícil a sua concretização. Contudo, as questões financeiras, enfim, foram resolvidas e o I Torneio Maranhão-Pará, organizado pelo empresário Francisco Meireles, seria realizado nas capitais maranhense e paraense. Em Belém, os maranhenses, receberão dez mil cruzeiros (cada clube) além da hospedagem e na semana vindoura, pagarão aqui doze mil cruzeiros a Remo e Paissandú. Os jogos em Belém serão dirigidos por árbitros paraenses, enquanto em São Luis estarão em ação árbitros locais.
A base do Papão do Norte para as disputas do Torneio Maranhão-Pará de 1972 era a seguinte: Brito; Reginaldo (veio da Tuna Luso trazido por Nagib Heickel), Marins (zagueiro carioca que foi em seguida pro River do Piauí), Clécio (zagueiro pernambucano que, além do Moto, jogou ainda no Sampaio e MAC) e Romildo (veio do Guarany de Sobral para jogar no Sampaio, mas, segundo informações não oficiais, ele teria entregado um jogo ao Moto e acabou demitido pelo Tricolor; em seguida transferiu-se para o Moto); Joari (meia que veio do Guarany de Sobral), Marcos do Boi (cearense, Marcos era um jogador indisciplinado, pois faltava aos treinos, sumia da concentração, etc.; porém, era um grande jogador, grande batedor de falta) e Iomar (maranhense que morava no Monte Castelo, foi para o Moto por empréstimo junto ao MAC, não era craque, mas sim um ótimo “carregador de piano”); Wanderley (cearense, ponta-direita rápido e habilidoso), Zé Branco (artilheiro nato, veio do Guarany de Sobral. Após romper os ligamentos do joelho numa bola dividida contra o goleiro Carlos Afonso, do MAC, nunca mais repetiu as mesmas atuações) e Garrinchinha (maranhense que jogou de ponta-direita no Botafogo carioca, era rápido e driblador).
No desembarque de bolivianos e motenses em Belém, houve uma série de hostilidades por parte dos clubes maranhenses, fato até natural pela rivalidade entre ambos, demonstrada claramente até fora de campo, ao ponto de não se unirem no mesmo local em Belém para a hospedagem. Apesar de os dois times deixaram São Luis dias após o carnaval e sem o correto tempo de treinamento, tricolores e rubro-negros tiveram destacada atuação nos jogos realizados nos Estádios da Curuzu e Evandro Almeida (Baenão), arrancando elogios da crônica esportiva de Belém. O Primeiro Turno da competição teria início na capital marajoara, movimentando durante quinze dias o futebol paraense e maranhense, proporcionando aos torcedores dos dois Estados bons espetáculos de futebol. Há muito os dois centros não organizavam competições nem mesmo amistosas e agora com os torneios as quatro maiores formas dos dois Estados, teremos oportunidade de mudar um pouco a rotina dos amistosos com o futebol do Pará, que pouco proveito nos tem trasido, além de conhecer e equilatar as possibilidades atuais dos marajoaras e fazer um teste melhor com nossas equipes.
A Federação Paraense pretendia, ainda, sugerir à Federação Maranhense de Desportos a oficialização do certame, que seria realizado anualmente e até instituiu o troféu que receberia o nome do Dr. Pedro Amaral, diretor do DNER, em Belém, e um dos engenheiros responsáveis pela construção da Transamazônica. O troféu seria disputado em dois turnos (São Luis e Belém) e teria posse transitória.
O Papão do Norte apresentava um elenco forte para essa competição. Sob o comando do experiente treinador Marçal Tolentino Serra, que seria campeão brasileiro nesse mesmo ano pelo Sampaio Corrêa, a base motense era formada pela seguinte onzena: Brito; Reginaldo, Marins, Clécio e Heraldo Gonçalves; Faisca e Joari; Wanderley, Marcos, Zé Branco e Iomar. No Primeiro Turno da competição, o Papão mostrou porque era, naquela época, uma das maiores potências do futebol da região Nordeste. Antes do último jogo em Belém, contra os bolivianos, o time motorizado alcançou dois grandes resultados: A surpreendente façanha do rubro-negro maranhense ao empatar com o Clube do Remo, depois de estar perdendo por 2x0 e a estrondosa vitória diante do Paysandú, por 4x3, quando já amargava o escore de 3x1, encheu de justificado orgulho a sua fiel torcida, que ao ser marcado o ‘goal’ da vitória, estourou um foguetório em toda a idade, principalmente na área suburbana.
Vale destacar que, quando o Papão perdia pelo placar de 3x1 para o Paysandu, Gimico estava no banco de reservas. Ele virou-se para o treinador Marçal Tolentino Serra e pediu para entrar porque sentia que dava para virar o jogo. Porém, Marçal não deu ouvidos. Ele insistiu várias vezes para o técnico deixá-lo entrar, até que conseguiu. Quando estava em campo, infernizou a defesa adversária e ajudou o time a virar o placar para 4x3. A partir desse jogo, passaram então a chamá-lo de Satanás. Nessa partida, o Moto jogou debaixo de muita chuva e foi apoiado por muitos maranhenses que foram à Curuzu. Torcedores do Remo ainda reforçaram os motenses nas arquibancadas.
A vitória do time motense sobre o Sampaio Corrêa por 3x2 em terras paraenses coroou a boa fase do Papão no Torneio Maranhão-Pará e deu o título simbólico de campeão do Primeiro Turno ao Moto Club de São Luis, que ganhou os jogos em Belém na raça, no entusiasmo e na coragem. E seguiu-se uma verdadeira festa na capital maranhense, aproveitando o clima de carnaval que ainda movimentava a nossa cidade. Os torcedores rubro-negros, na recepção aos dois times no Aeroporto do Tirirical, seguiram em ônibus especiais, que partiram da Praça do Pantheon, em frente à Biblioteca Pública, enquanto outros seguiram em condução própria. Uma inédita manifestação de carinho foi prestada à delegação do Moto. Liderados pelo Presidente rubro-negro, Pereira dos Santos, a grande torcida do Papão foi às ruas para acompanhar o desfile que, de maneira até surpreendente, se formou para homenagear a delegação rubro-negra.
O aparelho da VASP tocou no Tirirical às 12,50, quando incalculável multidão esperava motenses. O desembarque foi marcado por abraços, gritos de ‘Moto, Moto’... ou ainda em menos número de aplausos também aos sampaínos. A torcida rubro-negra compareceu em massa e o desfile se formou pelas principais ruas da cidade, prolongando-se até por volta das 16 horas. Do aeroporto Cunha Machado, os jogadores foram conduzidos em carro aberto do 24º Batalhão de Caçadores, num desfile improvisado pela vibração dos torcedores, tanto – e principalmente – do Moto, como do Sampaio Corrêa. A todo instante o desfile era interrompido pelos problemas do transito, já que faltaram os batedores do DETRAN. O desfile na verdade não estava programado e foi improvisado pela vibração e entusiasmo que tomou conta dos motenses. Os jogadores do Sampaio Corrêa, talvez decepcionados com o resultado de 3x2 frente ao rubro-negro (na vitória sobre o Sampaio em Belém, o Moto vinha de um longo jejum contra o Tricolor), não ligaram ao entusiasmo de sua torcida que também foi ao aeroporto. Os sampaínos receberam ordens liberando toda a delegação e rapidamente os jogadores fugiram do contato com os torcedores, tomando taxis para suas respectivas residências. O fato deixou decepcionado grande número de torcedores bolivianos.
Os dirigentes de Remo e Paysandu, em uma jogada para tentar salvar a reputação dos paraenses na competição, tentaram reformular a tabela para o returno: ficou acertado que o Segundo Turno começaria com todos os clubes zerados, sendo que o Moto fica com a garantia da conquista do turno e com direito de disputar o título do torneio com o campeão do returno. Comercialmente, o Torneio Maranhão-Pará teria mais sentido com o returno começando do zero, pois com os pontos corridos tudo poderia ficar decidido logo na primeira partida em São Luis e as duas últimas rodadas perderiam totalmente o interesse do público, o que representaria um sensível afastamento do torcedor maranhense dos jogos finais.
O empresário Francisco Meireles esteve novamente em São Luis, desta vez para acertar os últimos detalhes da acomodação dos clubes paraenses em nossa capital. Os marajoaras ficarão hospedados nas dependências do Ginásio Costa Rodrigues, liberadas pela Coordenadoria dos Esportes. As refeições serão servidas no local do alojamento pelo restaurante Palheta. Segundo a tabela confeccionada para a o returno, na penúltima rodada, o Moto jogaria por um empate contra o Paysandu para conquistar o torneio. Paysandu e Remo faziam o chamado “Clássico da Amazônia” e lutavam, além do título em isolado, pela conquista para o futebol do Pará. Na capital maranhense, novo baile em vermelho e preto, desta vez com direito a duas vitórias contra os vizinhos paraenses, o que aumentaria a pontuação final do Papão no torneio e a supremacia do futebol do nosso Estado frente ao marajoaras: no segundo turno, disputado em São Luis, o Moto venceu o Remo por um tento a zero. Derrotou o Payssandu por dois a um e finalmente empatou sem abertura de contagem, ontem à noite, com o Sampaio Corrêa. O rubro-negro maranhense consagraria-se campeão invicto do Torneio Maranhão-Pará, depois de empatar com o Sampaio Corrêa. O juiz Wilson Vanlume teve uma participação apenas regular, sem chegar a prejudicar o encontro, mas permitindo certo grau de indisciplina no gramado. O Presidente da Federação Maranhense de Desportos entregou ao Papão do Norte o troféu de campeão. O Remo, que venceu o seu rival bicolor por 3x2 na preliminar, ficaria com o vice-campeonato.
Sobre o jogo decisivo, realizado no dia 02 de Março de 1972 e que valeria ao Moto Club o título de campeão da primeira edição desse curto torneio, o Sampaio Corrêa possuía um timaço, a base da equipe que seria campeã do Brasileirinho de 1972. O time boliviano entrou a campo com a seguinte formação, considerada a melhor em toda a história do Sampaio Corrêa Futebol Clube: Paulo Figueiredo, Célio Rodrigues, Neguinho, Nivaldo e Valdeci; Gojoba, Djalma e Soares, Prado, Lelé e Pelezinho. O Papão do Norte, por sua vez, perfilou assim para a última partida no torneio, contra o tricolor: Assis; Reinaldo, Marins, Clécio e Romildo; Joari, Marcos e Iomar; Wanderley, Zé Branco e Garrinchinha. Na partida contra o seu rival, o Moto não esteve tão bem como nos anteriores. Somente durante os primeiros quinze minutos é que conseguiu imprimir maior velocidade aos seus atacantes e colocar em perigo a meta adversária, defendida por Paulo Figueiredo. Com o passar do tempo, o Moto Club segurou o jogo, na pretensão de um empate que lhe garantisse o título e a condição de campeão invicto absoluto do Torneio. No primeiro tempo o Moto chutou contra o gol do adversário apenas quatro bolas, enquanto o Sampaio fez Brito se movimentar em sua meta, por seis vezes. Com o empate conquistado perante o Sampaio Corrêa, o time motense conseguiu sagrar-se campeão invicto da competição, após vencer quatro partidas e empatar duas. As quase 9 mil pessoas presentes no Nhozinho Santos na partida decisiva entre rubro-negros e bolivianos presenciariam o Papão alcançar um dos títulos mais festejados em toda a sua história. A façanha do Papão no Torneio Maranhão-Pará seria uma extensão do carnaval em nossa cidade. E a torcida rubro-negra tinha motivos de sobra para isso...
Baseado na experiência de competições passadas com os piauienses, e prevendo o sucesso de público e renda, o Sampaio defendeu a realização do torneio com os paraenses para melhorar o intercâmbio com o Pará e fugir da rotina do Piauí. Contudo, os primeiros contatos com os vizinhos nortistas mostraram que a competição deveria ser mais bem estudada por ambas as Federações. Questões financeiras configuravam-se como um entrave para a realização da primeira edição do torneio. A Federação Paraense não concordou em realizar o torneio com os clubes locais dentro das mesmas condições financeiras para São Luis e Belém, já que os marajoaras pediram uma diferença de um mil cruzeiros em cada jogo sobre a cota que pagariam aos maranhenses na cidade de Belém. Em seguida, Remo e Paysandu aceitariam jogar por uma cota de 12 mil cruzeiros. Os dirigentes motenses, a contrário dos bolivianos, não concordaram. Foi acordado que, caso o time motense desistisse, o Sampaio Corrêa aceitaria as condições dos clubes paraenses para uma permuta de jogo com um dos dois para aproveitar as últimas datas antes do início da Taça Cidade, que começaria no dia 5 de Fevereiro. A FMD recomendou aos dirigentes de Sampaio e Moto só aceitarem os jogos com os marajoaras em condições idênticas, tanto em São Luis quanto em Belém do Pará. Para o Presidente José Oliveira, há necessidade de se valorizar os nossos clubes que têm feito contratações caras e não estão nada a dever aos paraenses.
A princípio, a competição não foi aceita pelos dois times maranhenses, uma vez que os paraenses queriam ganhar cota superior a Moto Club e Sampaio Corrêa, o que vinha tornando difícil a sua concretização. Contudo, as questões financeiras, enfim, foram resolvidas e o I Torneio Maranhão-Pará, organizado pelo empresário Francisco Meireles, seria realizado nas capitais maranhense e paraense. Em Belém, os maranhenses, receberão dez mil cruzeiros (cada clube) além da hospedagem e na semana vindoura, pagarão aqui doze mil cruzeiros a Remo e Paissandú. Os jogos em Belém serão dirigidos por árbitros paraenses, enquanto em São Luis estarão em ação árbitros locais.
A base do Papão do Norte para as disputas do Torneio Maranhão-Pará de 1972 era a seguinte: Brito; Reginaldo (veio da Tuna Luso trazido por Nagib Heickel), Marins (zagueiro carioca que foi em seguida pro River do Piauí), Clécio (zagueiro pernambucano que, além do Moto, jogou ainda no Sampaio e MAC) e Romildo (veio do Guarany de Sobral para jogar no Sampaio, mas, segundo informações não oficiais, ele teria entregado um jogo ao Moto e acabou demitido pelo Tricolor; em seguida transferiu-se para o Moto); Joari (meia que veio do Guarany de Sobral), Marcos do Boi (cearense, Marcos era um jogador indisciplinado, pois faltava aos treinos, sumia da concentração, etc.; porém, era um grande jogador, grande batedor de falta) e Iomar (maranhense que morava no Monte Castelo, foi para o Moto por empréstimo junto ao MAC, não era craque, mas sim um ótimo “carregador de piano”); Wanderley (cearense, ponta-direita rápido e habilidoso), Zé Branco (artilheiro nato, veio do Guarany de Sobral. Após romper os ligamentos do joelho numa bola dividida contra o goleiro Carlos Afonso, do MAC, nunca mais repetiu as mesmas atuações) e Garrinchinha (maranhense que jogou de ponta-direita no Botafogo carioca, era rápido e driblador).
No desembarque de bolivianos e motenses em Belém, houve uma série de hostilidades por parte dos clubes maranhenses, fato até natural pela rivalidade entre ambos, demonstrada claramente até fora de campo, ao ponto de não se unirem no mesmo local em Belém para a hospedagem. Apesar de os dois times deixaram São Luis dias após o carnaval e sem o correto tempo de treinamento, tricolores e rubro-negros tiveram destacada atuação nos jogos realizados nos Estádios da Curuzu e Evandro Almeida (Baenão), arrancando elogios da crônica esportiva de Belém. O Primeiro Turno da competição teria início na capital marajoara, movimentando durante quinze dias o futebol paraense e maranhense, proporcionando aos torcedores dos dois Estados bons espetáculos de futebol. Há muito os dois centros não organizavam competições nem mesmo amistosas e agora com os torneios as quatro maiores formas dos dois Estados, teremos oportunidade de mudar um pouco a rotina dos amistosos com o futebol do Pará, que pouco proveito nos tem trasido, além de conhecer e equilatar as possibilidades atuais dos marajoaras e fazer um teste melhor com nossas equipes.
A Federação Paraense pretendia, ainda, sugerir à Federação Maranhense de Desportos a oficialização do certame, que seria realizado anualmente e até instituiu o troféu que receberia o nome do Dr. Pedro Amaral, diretor do DNER, em Belém, e um dos engenheiros responsáveis pela construção da Transamazônica. O troféu seria disputado em dois turnos (São Luis e Belém) e teria posse transitória.
O Papão do Norte apresentava um elenco forte para essa competição. Sob o comando do experiente treinador Marçal Tolentino Serra, que seria campeão brasileiro nesse mesmo ano pelo Sampaio Corrêa, a base motense era formada pela seguinte onzena: Brito; Reginaldo, Marins, Clécio e Heraldo Gonçalves; Faisca e Joari; Wanderley, Marcos, Zé Branco e Iomar. No Primeiro Turno da competição, o Papão mostrou porque era, naquela época, uma das maiores potências do futebol da região Nordeste. Antes do último jogo em Belém, contra os bolivianos, o time motorizado alcançou dois grandes resultados: A surpreendente façanha do rubro-negro maranhense ao empatar com o Clube do Remo, depois de estar perdendo por 2x0 e a estrondosa vitória diante do Paysandú, por 4x3, quando já amargava o escore de 3x1, encheu de justificado orgulho a sua fiel torcida, que ao ser marcado o ‘goal’ da vitória, estourou um foguetório em toda a idade, principalmente na área suburbana.
Vale destacar que, quando o Papão perdia pelo placar de 3x1 para o Paysandu, Gimico estava no banco de reservas. Ele virou-se para o treinador Marçal Tolentino Serra e pediu para entrar porque sentia que dava para virar o jogo. Porém, Marçal não deu ouvidos. Ele insistiu várias vezes para o técnico deixá-lo entrar, até que conseguiu. Quando estava em campo, infernizou a defesa adversária e ajudou o time a virar o placar para 4x3. A partir desse jogo, passaram então a chamá-lo de Satanás. Nessa partida, o Moto jogou debaixo de muita chuva e foi apoiado por muitos maranhenses que foram à Curuzu. Torcedores do Remo ainda reforçaram os motenses nas arquibancadas.
A vitória do time motense sobre o Sampaio Corrêa por 3x2 em terras paraenses coroou a boa fase do Papão no Torneio Maranhão-Pará e deu o título simbólico de campeão do Primeiro Turno ao Moto Club de São Luis, que ganhou os jogos em Belém na raça, no entusiasmo e na coragem. E seguiu-se uma verdadeira festa na capital maranhense, aproveitando o clima de carnaval que ainda movimentava a nossa cidade. Os torcedores rubro-negros, na recepção aos dois times no Aeroporto do Tirirical, seguiram em ônibus especiais, que partiram da Praça do Pantheon, em frente à Biblioteca Pública, enquanto outros seguiram em condução própria. Uma inédita manifestação de carinho foi prestada à delegação do Moto. Liderados pelo Presidente rubro-negro, Pereira dos Santos, a grande torcida do Papão foi às ruas para acompanhar o desfile que, de maneira até surpreendente, se formou para homenagear a delegação rubro-negra.
O aparelho da VASP tocou no Tirirical às 12,50, quando incalculável multidão esperava motenses. O desembarque foi marcado por abraços, gritos de ‘Moto, Moto’... ou ainda em menos número de aplausos também aos sampaínos. A torcida rubro-negra compareceu em massa e o desfile se formou pelas principais ruas da cidade, prolongando-se até por volta das 16 horas. Do aeroporto Cunha Machado, os jogadores foram conduzidos em carro aberto do 24º Batalhão de Caçadores, num desfile improvisado pela vibração dos torcedores, tanto – e principalmente – do Moto, como do Sampaio Corrêa. A todo instante o desfile era interrompido pelos problemas do transito, já que faltaram os batedores do DETRAN. O desfile na verdade não estava programado e foi improvisado pela vibração e entusiasmo que tomou conta dos motenses. Os jogadores do Sampaio Corrêa, talvez decepcionados com o resultado de 3x2 frente ao rubro-negro (na vitória sobre o Sampaio em Belém, o Moto vinha de um longo jejum contra o Tricolor), não ligaram ao entusiasmo de sua torcida que também foi ao aeroporto. Os sampaínos receberam ordens liberando toda a delegação e rapidamente os jogadores fugiram do contato com os torcedores, tomando taxis para suas respectivas residências. O fato deixou decepcionado grande número de torcedores bolivianos.
Os dirigentes de Remo e Paysandu, em uma jogada para tentar salvar a reputação dos paraenses na competição, tentaram reformular a tabela para o returno: ficou acertado que o Segundo Turno começaria com todos os clubes zerados, sendo que o Moto fica com a garantia da conquista do turno e com direito de disputar o título do torneio com o campeão do returno. Comercialmente, o Torneio Maranhão-Pará teria mais sentido com o returno começando do zero, pois com os pontos corridos tudo poderia ficar decidido logo na primeira partida em São Luis e as duas últimas rodadas perderiam totalmente o interesse do público, o que representaria um sensível afastamento do torcedor maranhense dos jogos finais.
O empresário Francisco Meireles esteve novamente em São Luis, desta vez para acertar os últimos detalhes da acomodação dos clubes paraenses em nossa capital. Os marajoaras ficarão hospedados nas dependências do Ginásio Costa Rodrigues, liberadas pela Coordenadoria dos Esportes. As refeições serão servidas no local do alojamento pelo restaurante Palheta. Segundo a tabela confeccionada para a o returno, na penúltima rodada, o Moto jogaria por um empate contra o Paysandu para conquistar o torneio. Paysandu e Remo faziam o chamado “Clássico da Amazônia” e lutavam, além do título em isolado, pela conquista para o futebol do Pará. Na capital maranhense, novo baile em vermelho e preto, desta vez com direito a duas vitórias contra os vizinhos paraenses, o que aumentaria a pontuação final do Papão no torneio e a supremacia do futebol do nosso Estado frente ao marajoaras: no segundo turno, disputado em São Luis, o Moto venceu o Remo por um tento a zero. Derrotou o Payssandu por dois a um e finalmente empatou sem abertura de contagem, ontem à noite, com o Sampaio Corrêa. O rubro-negro maranhense consagraria-se campeão invicto do Torneio Maranhão-Pará, depois de empatar com o Sampaio Corrêa. O juiz Wilson Vanlume teve uma participação apenas regular, sem chegar a prejudicar o encontro, mas permitindo certo grau de indisciplina no gramado. O Presidente da Federação Maranhense de Desportos entregou ao Papão do Norte o troféu de campeão. O Remo, que venceu o seu rival bicolor por 3x2 na preliminar, ficaria com o vice-campeonato.
Sobre o jogo decisivo, realizado no dia 02 de Março de 1972 e que valeria ao Moto Club o título de campeão da primeira edição desse curto torneio, o Sampaio Corrêa possuía um timaço, a base da equipe que seria campeã do Brasileirinho de 1972. O time boliviano entrou a campo com a seguinte formação, considerada a melhor em toda a história do Sampaio Corrêa Futebol Clube: Paulo Figueiredo, Célio Rodrigues, Neguinho, Nivaldo e Valdeci; Gojoba, Djalma e Soares, Prado, Lelé e Pelezinho. O Papão do Norte, por sua vez, perfilou assim para a última partida no torneio, contra o tricolor: Assis; Reinaldo, Marins, Clécio e Romildo; Joari, Marcos e Iomar; Wanderley, Zé Branco e Garrinchinha. Na partida contra o seu rival, o Moto não esteve tão bem como nos anteriores. Somente durante os primeiros quinze minutos é que conseguiu imprimir maior velocidade aos seus atacantes e colocar em perigo a meta adversária, defendida por Paulo Figueiredo. Com o passar do tempo, o Moto Club segurou o jogo, na pretensão de um empate que lhe garantisse o título e a condição de campeão invicto absoluto do Torneio. No primeiro tempo o Moto chutou contra o gol do adversário apenas quatro bolas, enquanto o Sampaio fez Brito se movimentar em sua meta, por seis vezes. Com o empate conquistado perante o Sampaio Corrêa, o time motense conseguiu sagrar-se campeão invicto da competição, após vencer quatro partidas e empatar duas. As quase 9 mil pessoas presentes no Nhozinho Santos na partida decisiva entre rubro-negros e bolivianos presenciariam o Papão alcançar um dos títulos mais festejados em toda a sua história. A façanha do Papão no Torneio Maranhão-Pará seria uma extensão do carnaval em nossa cidade. E a torcida rubro-negra tinha motivos de sobra para isso...
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