sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Zé Carlos, pernambucano bom de bola

Matéria de Edivaldo pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão.

 Zé Carlos foi um desses garotos precoces com o dom de jogar futebol. Iniciou  carreira em Recife/PE e passou por vários Estados brasileiros fazendo o que mais gostava. Durante 12 anos sonhou em ganhar dinheiro e ficar famoso. Quando percebeu que a realidade era outra, se decepcionou e trocou a vida atlética pela carreira de empresário de jovens jogadores. Adotou o Maranhão como sai terra natal e maneta até hoje a morte prematura de Domingos Jorge Pires Leal, um dos maiores dirigentes esportivos do Estado, a quem ele chama de segundo pai. Zé Carlos é uma personalidade polêmica. Porém em uma coisa todos concordam: ele era bom de bola.

No meio de campo, ele jogava nas três cabeças de área. Tinha um toque sutil, lançava muito bem e marcava melhor ainda. Por cima ou por baixo, sua grande paixão desde que se entendeu por gente. Zé Carlos nasceu no Bairro Largo da paz, em Recife, no dia 05 de Abril de 1941. Com 16 anos de idade, já estava vestindo a camisa do Santa Cruz. Jogou dois anos como aspirante e três como profissional, sendo bicampeão pernambucano em 1959/60, ao lado de Palito, Neves, Paraíba, Mituca, Nagel, Zequinha (ponta-direita que mais tarde seria ídolo no Botafogo/RJ e da Seleção Brasileira) e outros feras.

Em 1961 começou a peregrinação pelos estados brasileiros. O Ceará foi o primeiro deles, onde jogou no Fortaleza. Foi vice-campeão da Taça Brasil, perdendo o titulo para o Palmeiras/SP em dois jogos históricos. O primeiro, na capital cearense, foi 3x2 para os paulistas. Em São Paulo o Verdão ganhou por 8x2. Em Outubro de 1961, Antônio Bento Catanhede Farias, Presidente do Sampaio Corrêa, foi buscar Zé Carlos no Ceará. Ele chegou e estreou no Superclássico. “Me lembro como se fosse hoje. Ganhamos por 2x1 com um gol meu e outro de Fernando (Hamilton descontou para o Moto). Foi uma festa só. Tínhamos um excelente time e já dava para perceber que outros bons resultados viriam”. Dadá, Juvenal, Vadinho, Decadela e Damasceno; Maneco, Chico e Zé Carlos; Nenê, Fernando e Toninho. Com este time, o técnico Jair Raposo conquistou o bicampeonato estadual em 1961/62. Uma formação que enche de orgulho os bolivianos. Nessa época Zé Carlos ganhou o apelido de Vaca Brava, porque ele protegia bem a bola e não deixava ninguém encostar nele. “Eu jogava muito com os braços abertos e para tomar a bola de mim era muito difícil”, relembra. No final de 1962 Zé Carlos casou-se com Juarina. As condições financeiras dele não eram boas e a idéia era ir embora, tentar um futuro melhor. “Eu queria dar um conforto maior à minha esposa. Não tinha ganho dinheiro com o futebol e achei que indo para o Rio de Janeiro, ganharia grana e fama”. Assim, no início de 1963, Zé Carlos deixou a mulher em São Luis e foi para o Rio de Janeiro, juntamente com Nenê, um baiano que jogava no Sampaio Corrêa e que tinha sido convidado para jogar no Fluminense/RJ. Quebrou a cara. “Os times grandes do Rio tinham oito times. Um pra cada ocasião, ou seja, um time para amistosos, outro para campeonatos e assim por diante. Senti que não teria vez. Aproveitando uma oportunidade que me foi dada por Dida e Zagallo, que eu havia conhecido no Botafogo/RJ, fui para Alagoas e joguei no CSA (Centro Sportivo Alagoano). A peregrinação continuou. Depois de Alagoas, ele passou uma temporada jogando no ABC de Natal. Em 1967 já estava no Botafogo de Campina Grande/PB. Foi lá que teve a maior decepção com o futebol. Enfrentou Garrincha e saiu de campo desmoralizado. “Participamos de um amistoso contra o Botafogo/RJ, me colocaram na lateral-esquerda e tive que marcar Garrincha. Nos primeiros cinco minutos de jogo, não deixei o Mané pegar na bola. Achei que estava com tudo e me desconcentrei. Quando quis me recuperar, já tinha levado tanto drible que estava tonto. No intervalo, nos vestiários, pedi para sair. Disse ao treinador que para marcar o homem só se jogasse com dois revólveres caibre 38, um para atirar na bola e outro para atirar nele. O homem era o cão em pessoa, desmoralizava os seus marcadores. Fui mais uma vítima dele”. Depois desta, Zé Carlos começou a pensar em parar com a carreira. Em 1968 ainda teve fôlego para jogar no Flamengo/PI e na Seleção Piauiense. No final da temporada, fez uma avaliação do que tinha ganho como atleta. Pensou no filho e a esposa e resolveu, aos 28 anos de idade, esquecer a profissão de jogador profissional.

Sampaio Corrêa Bicampeão Maranhense em 1961/21: em pé – Juvenal, Vadinho, Decadela, Zé Carlos, Damasceno e Dadá; agachados – Peu, Chico, Fernando, Maneco e Toninho.


Uma das formações do Sampaio Corrêa em 1976: em pé - Almir, Dorival, Cabrera, Mendonça, Ferreira e Rosclin; agachados – Itamar, Cabecinha, Bira, Chicão, Bimbinha e Patrocínio (massagista)

 No início de 1969 ele e a família retornaram a São Luis. Um convite do Ícaro, time da Base Aérea, o levou a ser técnico. Ainda dirigiu os times da Polícia Militar do Maranhão, do Fabril da cidade de Codó e a Seleção de Cedral no Torneio Intermunicipal. “Foram boas experiências, sí que dinheiro que é bom nada. Eu continuava desencantado com a bola”. Seguidamente Zé Carlos tentou a carreira de empresário, que não deu certo e nem rendeu dinheiro. Terminou ganhando apenas o apelido de “barca furada”. Em meio ao desencantamento geral pelo futebol, Zé Carlos conheceu Domingos Jorge Pires Leal, um dos maiores dirigentes esportivos do Maranhão, que chegou à vice-presidência da Confederação Brasileira de Futebol. “Domingos foi meu segundo pai, me acolheu, me empregou no Estado e na Federação Maranhense de Futebol. Minha vida mudou completamente. Eu e minha família sonos eternamente gratos a ele. Sofri muito quando ele morreu. Fiquei sem saber o que fazer. Sobrevivi às duras penas”.

Um comentário:

  1. O último agachado à direita de quem vê a foto é Pinagé. Que por sinal é meu tio paterno

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