sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Itamar, o coringa boliviano

Matéria de Edivaldo pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão.

 Durante 13 anos o torcedor do Sampaio Corrêa viu Itamar jogando, aplaudiu suas grandes jogadas e xingou quando ele errava. Mas acima de tudo ficaram as palmas para um jogador que sempre esteve pronto para servir ao clube. Trabalhou com vários técnicos e passou por várias posições. Começou como ponta-esquerda, foi deslocado para a ponta-esquerda, para o comando do ataque, meio de campo e até para a lateral-esquerda. Um coringa, que fazia a diferença para o Tricolor. Veloz, dono de um invejável condicionamento físico e muito determinado, dividia as opiniões dos torcedores e da imprensa, que ora elogiavam, ora queria tê-lo fora da equipe. Mas na verdade todos tinham que tirar o chapéu para ele, porque foi um sinônimo de bola na rede.

Toda a família de Itamar é de Arari/MA. Apenas ele nasceu em Santa Quitéria/MA. O pai, coletor estadual, andava de cidade em cidade. Aos 12 anos de idade ele chegava com o pai, mãe e mais oito irmãos no Bairro do São Francisco, na capital do Estado. “Foi neste ano que recebi minha primeira proposta para me transferir para o Avante, time do mesmo bairro. Me ofereceram 200 cruzeiros por partida que eu disputasse. Era uma boa grana. Me transferi e andava com dinheiro no bolso”, conta ele, adiantando que essa foi a porta de entrada para o profissionalismo.

O fato é que o atleta passava a chamar atenção de muita gente. Fifi, ídolo do Sampaio Corrêa, foi um dos que se admiraram com o garoto Itamar. Fez a indicação ao diretor tricolor Antônio Bento Catanhede Farias, que condicionou a sua contratação se antes fizesse um estágio no Águia Negra, time que era dirigido por Zé Aroso e que funcionava como uma espécie de filial do Sampaio Corrêa. “Fiquei no Águia Negra durante seis meses. Depois fui para o Sampaio, onde me encontrei com feras do quilate de Pompeu, Nivaldo, Fifi, Djalma, João Bala, Santana, dentre outros”. Esse grupo jogava no aspirante. O torcedor ao para o campo mais cedo só para vê-los jogar.

Em 1968 Antônio Bento vendeu o time principal todo do Sampaio Corrêa para o Ferroviário/CE. Era a grande chance dos garotos do aspirante. A estreia de Itamar e de toda garotada foi fora de casa, em um torneio disputado em Belém/PA. “Jogamos contra o Esporte Clube Belém e perdemos por 1x0. Voltamos a perder para o Clube do Remo por 2x1. Mesmo assim os resultados foram considerados excelentes. Permanecemos juntos por um longo período”.

Em 1970, voltando a reforçar a equipe aspirante, Itamar conquistou o título estadual ainda por cima foi artilheiro da competição. Como profissional, sua maior conquista foi em 1972, quando o Sampaio Corrêa montou uma super equipe, cm base em atletas maranhenses e conquistou todos os títulos que disputou: II Torneio Maranhã/Pará, Tala Cidade de São Luis, Torneio Início, Campeonato Estadual e, finalmente, Campeão do Brasileirinho, competição promovida pela então Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje Confederação Brasileira de Futebol (CBF). “Os jogadores da terra mostraram que jogavam tanto ou mais que os dos outros Estados. Éramos um grupo fechado e determinado a vencer”, orgulha-se acrescentando. “Foi a melhor formação que o Sampaio montou até hoje”. A formação básica do super time do Sampaio Corrêa de 1972 era Jurandir (PE), Célio Rodrigues (MA), Neguinho (MA), Nivaldo (RN) e Valdecir Lima (PB); Gojoba (MA), Djalma Campos (MA) e Edmilson Leite (PI); Lima (PB), Pelezinho (MA) e Jaudenir (CE). Técnico: Marçal Tolentino Serra (MA). Itamar era um reserva de luxo desse grupo. Um coringa, que chegou a atuar nas três posições do ataque e ainda ajudou o time no meio de campo e na lateral-esquerda.

O atleta Itamar, mesmo com limitações técnicas, sabia tirar proveito de suas principais características: explosão, velocidade e preparo físico. Ria quando o apelidavam de raio ou ligeirinho, principalmente quando saia em disparada depois de receber um lançamento e levar a bola até o gol, deixando para trás os jogadores da defesa adversária. Em alguns momentos o torcedor boliviano ia à loucura quando ele perdia um gol que parecia fácil de fazer. Na maioria deles, a “Nação Tricolor” explodia de alegria com gols inacreditáveis que marcava. Assim era o imprevisível Itamar Chaves da Silva, que na infância torcia para o Flamengo/RJ e, por consequência, por causas das cores rubro-negras, torcida em São Luis para o Moto Club. “Com o passar dos anos acabei me apaixonando pelo Sampaio Corrêa. Dediquei 13 anos da minha vida esportiva ao Tricolor e tinha que virar um”.

Em 1975 e 1976 o Sampaio Corrêa conquistou o Bicampeonato Estadual e lá estava Itamar festejando mias vitórias. No final de 1976, depois que o Sampaio foi desclassificado do Campeonato Brasileiro, ele e o amigo Carlos Alberto estavam tomando umas cervejinhas sem compromisso e o preparador físico do clube na época, professor Carlos Conti (Zé Pipa), pegou os dois do flagra e solicitou ao então Presidente Djalma Campos a dispensa deles. “Essa passagem foi engraçada. O professor, depois que falou com Djalma, é que acabou sendo dispensado. O Presidente conhecia bem a mim e ao Carlos Alberto e sabia que nós não seríamos irresponsáveis para beber em plena competição”, se diverte ele. Ao contar este episódio, Itamar aproveita o momento para dizer que o maior jogador que ele viu atuar foi o amigo Djalma Campos. “Ele era fora de série. Só não gostava de treinos físicos. E tinha razão em não gostar porque jogava futebol de salão quase todos os dias. Tinha um preparo natural”.

 Itamar, o primeiro agachado, no Sampaio Corrêa

Itamar ainda ficou no Sampaio Corrêa até 1978. Decepcionado com os dirigentes e como a maioria dos atletas da época, resolveu largar a bola profissionalmente, quando ainda iria completar 30 anos de idade. “Me revoltei com algumas pessoas que não gosto nem de lembrar os nomes. Decidi parar com tudo e recomeçar a minha vida. Me deram um golpe de mais de 24 mil cruzeiro na época”. A decepção serviu como estímulo. O ex-jogador encarou uma reciclagem e conseguiu um emprego no Estado. Ainda dava aulas de Educação Física e futebol em escolas particulares e da Rede Estadual, como o Rosa dos Ventos, Marista e CEMA. Esqueceu a antiga profissão, mas mesmo sem raiva ou revanchismo, ficaram as mágoas. “Até hoje tenho a carteira de atleta profissional assinada pelo Sampaio. Se eu quisesse e fosse safado, botaria o clube na justiça. Mas não quero nada disso, quero viver em paz e com a consciência tranquila de dever cumprido”.

Um comentário:

  1. gostei muito do relato desse jogador amigo pois o conheci no bairro quê morei em São Francisco onde jogamos juntos nos campos campos de salinas quê tinha no bairro amei a materio pois não sabia a sua história final valeu.

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