Matéria de Edivaldo pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão.
Alencar era daquele
tipo de ponta-esquerda que todo treinador gostaria de ter no time hoje, como
todas as modernidades introduzidas no treinamento de futebol. Imagine então na
época em que jogou, 39 anos atrás, no MAC e Fortaleza/CE. Habilidoso, técnico,
responsável e cumpridor rigoroso do seu papel tático na equipe, tinha também um
fôlego privilegiado e um talento nato: era preciso nos passes e lançamentos.
Talvez tenha se espelhado na máquina que admirava, a do Santos Futebol Clube,
de Pelé e companhia. Chegava a ser comparado a Pepe, famoso ponta santista, que
tinha o apelido de “O Canhão da Vila” (Belmiro). Em outras ocasiões, pela forma
com vinha buscar o jogo atrás, ou ainda quando ajudava na marcação do meio de
campo, diziam que se assemelhava a Zagalo “Formiguinha”, do Botafogo e da
Seleção Brasileira.
A história de
Edson Alencar com o futebol começa e termina em Coroatá, cidade que fica no
interior do Estado, a pouco mais de 300 km de São Luis. O pai dele, Oton
Alencar Araripe, sempre foi apaixonado por futebol. Quando jovem, defendeu as
cores do Vera Cruz, como zagueiro central. O filho Edson acompanhava o pai nos
jogos e, evidentemente, tomou gosto pela bola também. Magrinho e com seus 13
para 14 anos de idade, Alencar estudava, mas não abria mão das peladas batidas
à beira do Rio Itapecuru. Foi lá que ele percebeu o gosto pela profissão de
jogador de futebol. Gostava de jogar no meio de campo ou de ataque. Começou a
se destacar e rapidamente já estava jogando no América de Coroatá.
Ao completar 16
anos, Alencar veio prestar exame para entrar na antiga Escola Técnica Federal
do Maranhão (ETFM), depois Centro de Ensino Federal Tecnológico (atual IFMA).
“Passei no exame e fiquei como interno da Escola. Lá, os professores Braga e
Rubem Goulart me viram jogar em uma das aulas de Educação Física e me convocaram
para a seleção. A primeira disputa foi contra o Liceu, no Estádio Santa Izabel.
Vencemos por 3x1, com dois gols meus. Foi uma loucura! Muita gente me chamou
para jogar em times amadores e eu acabei aceitando o convite do professor
Micuin e fui para o São Paulo, do Bairro do João Paulo”.
Em uma
preliminar de Moto x MAC pelo campeonato de profissionais de 1858, Alencar
estava lá. Após a partida, os dirigentes dos dois times foram conversar com
ele. Como o professor Micuin era muito amigo de Nicolau Duailibe Neto,
dirigente do MAC, não deu outra, Alencar acabou indo para o Bode Gregório. Aos
17 anos de idade, dava início a carreira de profissional de futebol de um dos
maiores talentos genuinamente maranhense. Se tinha talento nato, quando ele
chegou ao MAC, encontrou muita gente boa e um ambiente saudável para crescer. Jogavam
Moacir Bueno, Valdeci, Adaupi, Juraci (goleiro), Haroldo (goleiro), Edson
Moraes Rego, Joca, Jaime e outros. “Nessa época para jogar dependia de todos os
esforços possíveis. Ou mostrava serviço ou estava fora do time”. Como Alencar
havia assinado como “não-amador”, de vez em quando ele dava uma escapulida da
Ilha de São Luis e ia defender o América, no clássico amador de Coroatá, contra
o Bangu. Além dessas viagens corridas, ele arrumava tempo para estudar e jogar
futebol de salão no Rio Negro (ao lado de Pula Pula) e no Elmo, de João Bento. A
paixão mesmo, o futebol, ele ia peando experiência e, aos poucos, conquistando
a torcida, comissão técnica e dirigentes maqueanos. Durante muito tempo foi
titular absoluto da ponta-esquerda. Parecia um diamante bruto sendo lapidado
aos poucos. Quanto mais tempo passava, melhor ele ficava.
Maranhão Atlético Clube em 1963. Alencar é o último agachado
Maranhão Atlético Clube em 1963. Alencar é o segundo agachado
Maranhão Atlético Clube em 1963. Alencar é o penúltimo agachado
Maranhão Atlético Clube em 1965. Em pé: Zuza,
Clécio, Neguinho, Juvenal, Juraci e Carlindo. Agachados: Patrocínio
(massagista), Wilson, Silvio, Croinha, Barrão e Alencar
Amigos lembram
que quando Alencar lançava uma bola para alguém, pedia sempre para esse alguém
não sair do lugar. A bola, como se medida milimetricamente, chegava aos pés de
quem ele queria. Além de ser preciso, era frio, uma fortaleza inabalável. Tinha
um chute fortíssimo com a perna esquerda que amedrontava alguns goleiros. Os
jogadores de defesas adversárias faziam de tudo para tirá-lo do sério, para se
livrarem dele com uma expulsão. Não conseguiam!
O futebol
começava a lhe dar fama, mas dinheiro que era bom, nada. De 1958 a 1965,
defendeu o MAC. Foi campeão do Torneio Epitácio Cafeteira, Taça Cidade de São
Luis, Torneio La Ravardiere. Em 1963 conquistou o campeonato estadual ao lado
de uma das melhores formações do clube, que tinha Lunga; Neguinho, Clécio,
Vareta e Moacir Bueno; Negão e Barrão; Valdeci, Wilson, Croinha e ele. “Um time
inesquecível, que jogava por música e prazer”. Em 1965 a máquina atleticana conquistou
o título do Torneio Maranhão/Piauí e troféu Marinho Rodrigues. Alencar estava
em estado de graça. Tudo o que fazia dentro de campo dava certo. O Vitória
(BA), o próprio Bahia, Fluminense (RJ) e outros times da região de interessaram
pelo seu passe. O MAC não vendia sua joia, até porque podia ganhar dinheiro,
mas ter outro igual para substituí-lo, seria muito difícil.
“No início de
1966 as coisas não estavam bem financeiramente no MAC e a diretoria acabou
aceitando a proposta feita pelo Fortaleza (CE) para ficar com meu passe. Foram
pagos 6 milhões de cruzeiros pela minha transferência. Para que tudo se
concretizasse, tive que abrir mão dos 15% que tinha direito e até dos meus
salários atrasados no clube. Iniciei vida nova na capital cearense”. Alencar
viveu momentos mágicos por lá. Estreou contra o Ceará Sporting e venceu por
3x1. Além de marcar um dos gols, deu os passes para outros gols, de Birungueta
e Croinha, “Fiquei de moral elevado”. E não era pra menos! Alencar defendeu o
Fortaleza durante três temporadas: 1966/67/68. Foi campeão em 67 com uma
formação que os torcedores do clube não esquecem jamais: Pedrinho; Mesquita,
Renato, Português e Carneiro; Joãozinho e Zé Augusto; Birungueta, Luiz Mário,
Croinha e Alencar. “Quando fomos receber as faixas de campeões, jogamos contra
o Botafogo (RJ). Garrincha autografou a minha. Tenho-a guardada até hoje com
muito orgulho”.
Os tempos bons
de Fortaleza foram embora com a chegada do técnico pernambucano conhecido como
Caiçara. “Ele me sacaneou o que pode. Não aguentei”. Com o passe preso ao
Fortaleza, Alencar desembarcou em São Luis no inicio de 1969. Por conta
própria, foi treinar no Moto Club. Por lá ficou apenas uma semana. “Fizeram uma
molecagem comigo no Moto que não gosto nem de lembrar. Alguns caras que pensei
que fossem meus amigos, me sacanearam e eu acabei me desiludindo com o futebol
e voltei para Coroatá”. No interior, Alencar trabalhava e jogava no Santa Cruz
nos finais de semana. Em 1970 casou-se, passou a ser técnico do Bangu,
representante de Coroatá no Torneio Intermunicipal e, depois, parou
definitivamente com a bola como profissional. O passe dele continua preso ao
Fortaleza até hoje.