quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Jackson, o bom filho à casa retorna

Texto atraído do livro "Salve, Salve, meu Bode Gregório: a História do Maranhão Atlético Clube", lançado em 2012:

Ainda na adolescência, quando batia bola no surrado campo do Estádio Renê Bayma, em Codó, Jackson jamais poderia imaginar o rumo que a sua vida tomaria. O garoto franzino, mas de um futebol de gente grande, deixaria para trás a cidade natal para brilhar nos gramados do Brasil com um futebol de muita técnica e habilidade. Antes de rodar por grandes clubes do futebol nacional, o meia ainda pensou em desistir, face às dificuldades que enfrentaria antes de se firmar. Craque consagrado, retornou após 18 anos ao Maranhão, onde chegaria à invejável marca de quatro títulos maranhenses em cinco disputados, além de anotar exatos 24 gols pelo Bode Gregório, fato este que o coloca como o 48º maior artilheiro atleticano em todos os tempos.

Filho de seu José Geraldo e dona Maria das Graças, o meia Jackson Coelho Silva nasceu no dia 23 de Julho de 1973, no Bairro de Santa Filomena, no Centro da cidade de Codó. De uma família bastante simples, o garoto dividia o seu tempo entre os estudos no Colégio Mata Roma e as peladas de final de tarde na Praça da Bandeira, aos 13 anos de idade. E foi pelo seu desempenho que o garoto despertou o interesse do seu Vimvim, que o via jogar e acabou convidando-o para formar no time amador do Grêmio, o qual era o Presidente. Jackson agradou e logo passou a atuar em uma das maiores e mais tradicionais equipes codoenses, o Fabril, em 1990, aos 16 anos. 

Campeão Codoense em 1991 (sempre jogando como meia-atacante), rapidamente o craque foi convidado pelo Prefeito da cidade e dono do Fabril, José Inácio, a integrar a equipe de salão de Codó, formada pelo Fabril e Nacional, para as disputas do Campeonato Maranhense de Futebol de Salão, em 1991. Apesar do vice-campeonato, Jackson foi o grande destaque daquele ano. E foi em uma apresentação em São Luís que o meia foi descoberto pelo Diretor de Futebol atleticano, França Dias, que o convidou para jogar no MAC. Jackson chegou em Fevereiro de 1992, aos 19 anos. Morava dentro da própria sede do clube e recebia apenas o necessário para se sustentar. Aos poucos o garoto foi caindo nas graças a torcida, com seus passes precisos, dribles e uma categoria impressionante. Após o vice-campeonato logo no seu primeiro ano de clube, quando perdeu a final de 1992 para o Sampaio Corrêa, Jackson iniciaria uma fase de ouro no clube atleticano, chegando rapidamente ao tricampeonato com uma base praticamente caseira.

Após o titulo de 1993, Jackson recebeu uma proposta para jogar pelo aspirante do Mogi-Mirim. Pelas suas atuações, rapidamente o treinador Vadão o colocou no elenco principal que disputaria o Paulistão de 1994. O Mogi, contudo, não demonstrou interesse em comprar o seu passe, apesar de a usa grande intenção em continuar por algum clube do Sudeste do Brasil. Frustrado, Jackson voltou ao MAC no segundo semestre. O seu gol mais importante com a camisa atleticana veio justamente no ano do seu segundo título, em 1994: diante do Sampaio, dia 16 de Dezembro, aos 10 minutos do segundo tempo Jackson fez o gol da vitória que daria a vantagem na melhor de quatro pontos para o Maranhão e, posteriormente, o bicampeonato ao clube. Antes da sua rápida passagem pelo futebol paulista, o craque ainda recebeu uma proposta apara jogar na Bélgica. Pelo modo como foram conduzidas as negociações, preferiu ficar no Brasil e rumou para o interior paulista.

O sucesso no Nordeste despertou a atenção do Goiás, que acertou com o jogador em 1995 para um período de testes, após o Campeonato Maranhense. Novamente não ficou e retornou ao MAC, a tempo de sagra-se tricampeão. No ano seguinte, Jackson foi levado por Oliveira Júnior, empresário paulista, para o Comercial de Ribeirão Preto, que enfim comprou o seu passe. Por atraso de salários, o jogador se rebelou e acabou deixando a equipe, voltando para a cidade de Codó. Em Dezembro o Presidente do Comercial contatou-lhe, avisando sobre a sua venda ao Sport, o divisor de águas da sua vitoriosa carreira. O começo em Recife foi difícil. Como o volante Wallace havia se machucado, Jackson ganhou a posição e começou a se destacar no time comandado por Hélio dos Anjos. Aos 25 anos, o meia já havia conquistado o Bicampeonato Pernambucano (1997/98), com o craque estourando para todo o Brasil no Campeonato Brasileiro de 1998. Em um time competitivo, mas sem grandes nomes, Jackson era a principal estrela do Sport. Pela quinta colocação na competição e a consagração do meia pela Bola de Prata pela revista Placar, rapidamente Jackson chegaria à Seleção Brasileira.

O treinador Wanderley Luxemburgo o convocou para o amistoso diante da Iugoslávia, dia 23 de Setembro de 1998, em São Luís. Apesar do clamor da torcida maranhense, Jackson vestiria a camisa amarela sobretudo pela sua excepcional fase naquele ano. Sobre a convocação, aliás, o elenco do Sport retornava de um jogo pelo Brasileirão contra o Internacional, em Porto Alegre, quando foi recepcionado por aproximadamente 20 mil torcedores no Aeroporto de Recife. Jackson não sabia, mas a convocação saiu justamente no intervalo do voo entre as capitais porto-alegrense e pernambucana. Foi uma festa merecida, inesquecível para o jogador. E no jogo em São Luís, muitos amigos e familiares (inclusive o seu primeiro filho, na época com apenas 1 ano) vieram de Codó para assistir ao seu filho mais ilustre vestir a camisa da Seleção Brasileira. Temeroso pela responsabilidade, Jackson entrou no segundo tempo, para delírio da torcida que lotou o Castelão, apesar da sua discreta atuação. Foi convocado em outras suas oportunidades (contra Equador e Rússia, ainda em 1998), mas Jackson não obteve sequência.

Cobiçado por vários clubes grandes do Brasil, o meia acabou despertando o interesse do treinador palmeirense Luiz Felipe Scolari, que pediu a sua contratação. O Verdão desembolsou cerca de R$ 3 milhões para tê-lo nas disputa da Taça Libertadores de 1999. As atuações irregulares de Alex, somada à incerteza na renovação do meio campo Zinho, condicionaram Jackson como possível titular da equipe, porém a história se mostrou diferente. O futebol veloz de chutes certeiros ficou em Pernambuco - no Palmeiras se via um jogador mais afobado. Jackson estreou no primeiro jogo do ano. O Palmeiras reserva, recheado de jovens atletas, poucos dos quais vingaram, foi goleado por 5 a 1, pelo Torneio Rio-São Paulo, e Jackson fez o de honra. Ele não rendeu muito pelo alviverde. Em virtude de uma contusão e pela categoria dos outros meias, se tornou um apenas um bom reserva, apesar de ser campeão da Taça Libertadores em 1999 e vice-artilheiro da competição, com 4 gols.

A falta de oportunidades na equipe alviverde motivou o jogador a buscar novos ares em 2000, após 66 jogos e 9 gols pelo Verdão. Jackson, então, foi defender o Cruzeiro, sagrando-se campeão da Copa de Brasil naquele ano ao lado de um bom elenco, com Sorín, Cléber e Oséas.

Após rodar por Internacional, Etti Jundiaí e Gama, Jackson defendeu o Ituano e o Coritiba, onde fez mais de 200 jogos pelo Coxa, antes de se aventurar no mundo árabe, defendendo o Emirates Club, em 2004. Aos 34 anos, voltou para defender o Vitória. Ajudou o rubro-negro baiano no retorno à elite em 2007 e no Tricampeonato Baiano (2007/08/09). Em 2010, dispensado pelo time do Barradão, acertou com o Santa Cruz, pouco tempo depois de ser anunciada a sua contratação pelo União Rondonópolis. Não conseguiu o acesso na Série D do Brasileiro e, em seguida, assinou com o ABC, onde foi Campeão Potiguar de 2011, marcando, inclusive, gol na final do campeonato. Sem espaço no time que disputou a Série B, Jackson acabou dispensado. Após passagem pelo Bahia de Feira, acertou com o modesto Santa Helena de Goiás, comandado pelo treinador e amigo Júnior Baiano, para as disputas da Segundona Estadual.

Jackson rescindiu o seu contrato com o Santa Helena em 2012 e foi descansar em Codó. Para se manter em forma para a temporada de 2013, ele disputaria a Série B do Campeonato Maranhense de 2012 pelo Expressinho, após reunião em um Shopping da capital com o presidente Carioca, do ‘Furacão da Cohab’. Por jogo, o craque receberia por R$ 1.500,00. Contudo, as negociações não andaram. Em 2013 ele quase vestiu a camisa do rival Sampaio Corrêa. O acordo, inclusive, foi fechado com o Presidente Sérgio Frota, que voltou atrás três dias antes da apresentação do elenco, alegando uma folha de salário muito alta para o Estadual.

Após dois meses de negociações, aos 39 anos Jackson, enfim, acertou o seu retorno ao Maranhão, após 18 anos. A demora no acerto foi motivado, também, por um problema pessoal, fazendo com que ele se concentrasse somente na família, ainda residente em Codó. Apresentado oficialmente no clube na tarde da sexta-feira, 08 de Fevereiro, o legítimo bom filho conquistou, de cara, mais um título, o de Campeão Maranhense de 2013, desbancando o fortíssimo Sampaio Correa. Ele não jogou a final por opção do técnico Saldanha, mas foi importante na campanha do Bode durante a competição, o seu 17 º título na vitoriosa carreira. Apesar do título e atuando como titular na equipe, o meia não teve o mesmo destaque de 12 anos atrás, quando foi tricampeão. Terminou o ano na reserva, durante as finais da Copa Cidade e eliminação precoce na Série D do Campeonato Brasileiro. O craque não renovou o seu contrato para o ano seguinte. Para a torcida, a sua apagada passagem em 2013 pouco importou. O craque já estava definitivamente consagrado na história do Maranhão. 

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