Trechos do livro "Salve, Salve, meu Bode Gregório: a História do Maranhão Atlético Clube", lançado em 2012:
O Maranhão vinha lutando arduamente para ser de novo campeão estadual desde 1979. Quatorze anos depois daquela última conquista, o título veio. E de forma dramática até, no empate sem gols com o Imperatriz, em jogo no qual não faltou briga entre os jogadores. O final, porém, não poderia ser mais feliz. Apaziguados os ânimos e suportada a forte pressão do adversário nos últimos minutos, a torcida atleticana pôde, enfim, invadir o gramado do Castelão é soltar o grito de “é campeão!”. Para chegar ao título, o MAC recorreu à política do bom, bonito e barato. Gastou pouco, prestigiando a prata da casa e conseguindo reforços em times do interior maranhense e de outros Estados, como o goleiro capixaba Paulo Márcio, o pernambucano Nevada e o baiano Josemar. O atacante Mano, que o clube foi buscar em Bacabal, terminaria eleito a revelação do campeonato. Nem mesmo as sucessivas trocas de treinadores foram capazes de segurar o Maranhão na sua caminhada até o título. O time começou o Estadual sob o comando de Rosclin Serra, ex-zagueiro do Sampaio Corrêa. Com ele o MAC ganhou o Primeiro Turno. Depois veio Arnaldo Lira, que levou a equipe à conquista do Terceiro Turno. Por fim, José Dutra dos Santos, posteriormente a Eliézer Ramos, assumiu o comando da equipe nos dois últimos jogos decisivos.
Os clubes se reforçaram para as disputas. O Sampaio Corrêa do Presidente Pedro Vasconcelos e atual tricampeão (1990/91/92) mantinha parte do elenco campeão e reforçado com alguns bons valores locais: comandado pelo treinador Edmilson Gomes, o Meinha, e com uma folha mensal em torno de Cr$ 800 milhões, o time boliviano mandava a campo uma formação com Juca Baleia; Luis Carlos (Seleção Brasileira, Santos e futebol espanhol), Toninho, Neném e Catita; Zé Carlos, Júlio César e Junior; Bernardino, Izone e Baroninho. Já o Moto Club, quarto colocado em 1992 e atual campeão da Taça Cidade de São Luís em 1993, formava, sob o comando de Djalma Cavalcante (campeão pelo próprio Moto em 1989), com Alexandre; Edmilson, Fernando Silva, Edson Luís e Djalma; Hélio, Alfredo e Lobinho; Fuzuê, Bacabal e Zé Filho. Já a surpresa da competição, o Imperatriz, jogava com a base formada por João Carlos, Anderson, João Carlos, Haroldo e Paulo César; Biro-Biro, Adilson e Amado; Batoré, Bill (que jogaria pelo Vasco da Gama) e Paulo Robson. De resto, outras nove equipes (exceto o MAC) que ditaram o ritmo normal da competição, como meros figurantes – a melhor colocação dentre os outros clubes disputantes ficou a cargo da Caxiense, quinta colocada.
O Maranhão, por sua vez, começou a desenhar o título de 1993, o nono da sua gloriosa história, pelo belíssimo empenho de uma dupla que fez (e ainda faz) história à frente do clube. Foi sem dúvida alguma a ótima atuação nos bastidores de Francisco Pinto Dias, o França Dias, e Carlos Mendes (Presidente do Conselho Deliberativo) que levou o jovem time atleticano à conquista da temporada. O trabalho deu tão certo que acabou por levar França Dias a ser escolhido por todos os veículos de comunicação como o melhor dirigente do ano. Convidado pelos diretores Antônio Carlos Pinto Dias e Evandro Marques, na administração do Presidente Carlos Mendes, França Dias chegou ao clube em 1991 para trabalhar nas divisões de base, sagrando-se vice-campeão. Pelos resultados, assumiu o cargo de Diretor de Futebol e, já nessa época, indicou ao clube o ainda garoto Jackson (vindo de Codó e que teria brilhante carreira por Sport (PE), Palmeiras, Cruzeiro e Seleção Brasileira) e o jovem goleiro Clemer, também com posterior passagem por grandes clubes, como Flamengo, Portuguesa, Internacional e até Seleção Brasileira - a base era a mesma desde 1990, quando o MAC começou a revelar alguns atletas das categorias inferiores. Outros membro da equipe atleticana, é claro, não poderiam ficar de fora do reconhecimento pelo título: o Preparador Físico Arlindo Azevedo, o Médico Dr. Júpiter, o Roupeiro Castrinho, o Massagista Baé e o Supervisor Sabiá, além de Edson, gerente da sede e que fazia as vezes de enfermeiro do quadro maqueano. Um time campeão dentro e fora dos gramados.
A estreia atleticana aconteceu na tarde do dia 28 de Março, no jogo que abria oficialmente os trabalhos do campeonato, diante do Vitória do Mar. A vitória pelo placar de 1 a 0 mostrou um ainda desentrosado Maranhão. As três fáceis vitórias seguintes, diante dos limitados Boa Vontade, Tupan e Expressinho, porém, não chegariam a convencer. Apesar de um bom ataque e uma defesa que até então sofreria apenas um gol, o time atleticano ainda pecava pela falta de ritmo. O empate no Maremoto, apesar da já garantida classificação antecipara para o Hexagonal Final do Primeiro Turno, demonstraria a necessidade de reforços para o elenco maqueano. Aliás, já perto do final da primeira fase, os clubes começaram a se reforçar: Lucas (goleiro), Wagner (lateral) e Luis Carlos (centroavante), por exemplo, chegaram para compor o elenco boliviano, reforçado com o dinheiro do empréstimo do ponta Ismael ao Vitória de Santo Antão (PE). O treinador Djalma Cavalcante, que substituiria Maurão, era a principal novidade no banco motense, além da chegada de Edson Luiz, ex-América do Rio de Seleção de Juniores. Josimar, Carioca e Paulo Márcio, este último goleiro vindo do futebol baiano e indicado pelo ex-treinador José Carlos Queiroz, seriam até então os principais reforços atleticanos.
O Moto entrou a campo precisando da vitória em pelo menos um dos clássicos que faria no restante do turno. Já o Maranhão, até então o único classificado dentre todos os treze clubes, lançaria a campo algumas novidades, como os atletas Josimar e Carioca, além de Hiltinho, que pela primeira vez desde a sua volta ao time atleticano teria a oportunidade de jogar como centroavante, em substituição a Juca, expulso na partida diante do Expressinho. O empate em 1 a 1, após péssima atuação do árbitro Rui Frazão, que chegou a insultar alguns atletas maqueanos, manteve o Quadricolor na liderança e o Moto com chances de classificação.
O último jogo da fase seria justamente contra o Sampaio Corrêa, candidato direto pela briga à liderança da chave. Uma vitória atleticana, de quebra, encerraria o jejum de onze jogos sem vitória frente ao seu rival. Contudo, o Maranhão teria problema para lançar a campo uma equipe ideal, já que vários dos seus titulares desfalcariam a equipe diante do Samará, como Hiltinho, que não se recuperou de uma contusão, inclusive submetendo-se a uma cirurgia no púbis em pleno campeonato; Juca, contundido, e Reginaldo e Luis Carlos, suspensos automaticamente. A derrota de 2 a 0 para os bolivianos, diante de 955 testemunhas, tiraria a liderança atleticana e quase custaria o cargo do treinador Rosclin. Pela natural falta de dinheiro para trazer um técnico mais experiente, o eterno zagueirão foi mantido no cargo. O empate boliviano no Superclássico, encerrando a fase inicial do turno, endossou o primeiro lugar sampaíno na chave e a vice-liderança atleticana.
O Maranhão começaria a fase final do turno com um problema fora de campo: o time atleticano ficou sem Presidente. Olímpio Guimarães renunciaria na tarde do dia 06 de Maio (exatos 48 horas depois da renuncia coletiva da diretoria do Tupan, que ameaçava não prosseguir na competição). O Presidente do Conselho Deliberativo, Carlos Mendes, demonstrou surpresa ao receber a carta-renúncia enviada pelo dr. Olímpio, alegando que estava perdendo o poder de comando dentro do clube, devido ao fato de algumas de suas determinações terem sido contrariadas. O estopim, contudo, veio por um motivo, no mínimo, inusitado: no final de 1992 o Governo do Estado ajudou financeiramente Sampaio, Moto, Maranhão e Tupan para as disputas do Estadual. A diretoria atleticana, então, destinaria a sua parte do incentivo como “bicho” aos jogadores pela conquista daquele ano. O MAC, porém, foi vice-campeão, perdendo a final para o Sampaio. Como parte do dinheiro em caixa para as disputas de 1993 foi utilizado com outra finalidade, como melhorias para a própria sede social, Olímpio, contrariado, renunciou. Evandro Marques, diretor, também abandonou o barco. Antes de sair, Marques ainda apregoou que o time maqueano não alcançaria o título daquele ano, o que foi veemente contestado por França Dias, que assumiu a presidência atleticana, após a tentativa de formulação de uma junta governativa para gerir as decisões do clube.
Foi nesse clima de incertezas e pelo atraso no inicio do Hexagonal que o Maranhão deu início à Segunda Fase do turno. Com dois empates pelo interior, diante de Caxiense e Imperatriz, o time maqueano enfrentaria o Moto Club, que necessitava com urgência da vitória, já que até então ocupava a terceira colocação, atrás de Sampaio e Imperatriz, e via a sua classificação se complicar. O Maranhão, contudo, era a equipe que menos havia atuado no Pentagonal e realizaria todas as suas últimas partidas da fase em São Luís. Para o Maremoto na terceira rodada, o MAC ganharia o reforço do volante Josemar, liberado após uma pequena cirurgia, e do zagueiro Oliveira Lima, com o cumprimento da suspensão automática. Seria a primeira vez que o time utilizaria a formação considerada ideal no Pentagonal: Raimundão; Marcos, Carlinhos, Oliveira Lima e Reginaldo; César, Josemar e Carioca; Mael, Luis Carlos e Jackson. E o resultado, contudo, não foi o esperado. O Maranhão perdia o jogo até os 46 minutos do segundo tempo, quando Jackson empatou e deu números finais ao Maremoto para menos de 600 pagantes.
Após a fácil vitória diante do lanterna Caxiense, a chave ficou indefinida: Moto, Maranhão, Sampaio e Imperatriz, todos empatados com 6 pontos, brigavam desesperadamente por três vagas. No Samará, que terminou empatado em 0 a 0, dia 07 de Junho, os Tricolores jogaram com um atleta a menos desde a metade do primeiro tempo, quando o lateral Luis Carlos foi expulso. Apesar disso, o Maranhão não soube aproveitar e continuou sem conhecer vitória frente aos bolivianos. Como castigo, a vitória motense no interior diante da Caxiense colocou o rubro-negro no topo da classificação. E seria diante do Papão o compromisso próximo dos atleticanos. Em jogo que valia a classificação para a final do Primeiro Turno, Carlinhos, com um gol aos 22 minutos do segundo tempo, garantiu o time atleticano na fase final do turno. Ao Moto e Sampaio Corrêa, este último surpreendido com a derrota diante do lanterna Caxiense, restava lutar pelas duas últimas vagas. Com o empate no Superclássico e a vitória maqueana diante do Imperatriz, na última rodada, o time boliviano deus adeus à decisão e Maranhão, Moto e Imperatriz classificaram-se para o Triangular Final do Primeiro Turno.
Apesar de golear o Imperatriz e jogar por um simples empate diante do Maremoto para conquistar a taça, o Maranhão tropeçou e perdeu a chance de levantar a taça em definitivo do Primeiro Turno de forma antecipada. A derrota veio com um chute fraco de Djalma na cobrança de falta. A bola, após tocar no campo, enganou o goleiro Paulo Márcio, a dois minutos do final da partida. Os atleticanos estavam beneficiados pelo regulamento, que determinava que o campeão do Triangular, em caso de duas equipes terminarem em condições de igualdade, seria o clube com melhor campanha no Pentagonal. Em caso de uma vitória motense, o time rubro-negro seria declarado como campeão do Triangular, mas seria obrigado a fazer mais um jogo extra com o Maranhão, vencedor do Pentagonal, conforme determinava o parágrafo 1º do artigo 15. Em caso de empate, o critério para conhecer o campeão seria através de penalidades máximas, depois de uma prorrogação de trinta minutos em que também houvesse igualdade. Mais confuso, impossível. Dessa forma, motenses e maqueanos voltariam a campo para decidir, agora de forma definitiva, o confuso Primeiro Turno.
O time motorizado entrou a campo com um tenso clima pela quase demissão voluntária do treinador Djalma Cavalcanti, insatisfeito com as críticas por setores da imprensa e das torcidas organizadas. Para amenizar, o Presidente Sebastião Murad prometeu sanar dívidas atrasadas e dar uma gratificação em torno de Cr$ 1 milhão ao elenco em caso de conquista do turno. Não deu. Mesmo sem a presença de Juca e Jackson, suspensos, e do lateral Reginaldo, contundido, o Maranhão jogou com muita garra e determinação, principalmente no segundo tempo. Mano, com um belo gol já nos últimos cinco minutos finais, garantiu o título de campeão do turno ao MAC e a classificação antecipada para as finais da competição, com um ponto de bonificação. A conquista foi festejada pelos atleticanos durante toda a noite e só se falava em quebra de jejum de 14 anos. Ao Moto restou mandar embora Djalma Cavalcanti e promover o treinador da equipe de juniores, Baezinho.
Ao final do Primeiro Turno, o saldo mais do que negativo da competição: o fracasso de renda e público deixou preocupado dirigentes dos três maiores clubes da capital. Moto e Sampaio Corrêa, por exemplo, gastaram nada menos do que Cr$ 2 bilhões até então, tanto para a formação das suas equipes como para o pagamento de despesas extracampo, e não tiveram nenhum retorno. O Presidente boliviano Pedro Vasconcelos chegou a pedir doações para recuperar a depredada sede do Turu, apesar de contar com o apoio de Cr$ 80 milhões mensais por conta da publicidade do IPTU nas camisas. Já o Presidente maqueano não seguiu o mesmo caminho. As somas das despesas mensais chegaram, até então, perto de Cr$ 600 milhões. Sem nenhum dinheiro em caixa, restava contar com a ajuda de alguns abnegados conselheiros. A melhor arrecadação aconteceu no clássico Maremoto, que decidiu o turno e atingiu os Cr$ 221 milhões, para um inexpressivo público de 2.016 pagantes, número pífio em se tratando de uma partida decisiva. A menor renda ficou por conta de Tupan x Vitória do Mar, dia 02 de Abril: Cr$ 860 mil, onde apenas 10 testemunhas compareceram para o desinteressante jogo.
A diretoria do Maranhão, mesmo satisfeita com a conquista do Primeiro Turno e no vermelho, resolveu se mexer para o returno e providenciou algumas boas contratações para que o técnico Rosclin tivesse também um banco à altura na hora de decidir o título máximo. Uma das grandes contratações foi a do apoiador Barrote, que havia jogado em 1992 pelo próprio MAC e retornava vindo do futebol cearense. A sua volta acontecia no momento em que o meio-de-campo atleticano, apesar da excelente qualidade, alternava boas e más atuações, com César jogando o fino da bola, Josemar organizando as jogadas e Jackson com um bom futebol. Quanto a Chita, mais uma vez ficou comprovado que o atleta rendia mais quando entrava no andamento dos jogos. Na defesa, Carlinhos ganhou definitivamente a posição de titular na zaga central, pela seriedade com a qual vinha atuando e pelo entendimento com Oliveira Lima.
Com uma nova postura, o Maranhão voltaria arrasador no Segundo Turno, onde foi líder de ponta a ponta, não escapando sequer os dois clássicos que o time realizaria, contra motenses e bolivianos. Após as fáceis goleadas diante dos três menores da capital (6 a 1 no vice-lanterna Boa Vontade, 3 a 0 no Tupan e 4 a 0 no Vitória do Mar), chegava a hora da reedição da final do Primeiro Turno. Desfalcado do atacante Juca, que teve o seu passe vendido por U$ 10 mil (cerca de Cr$ 700 milhões) ao empresário Rubilota (o mesmo que iniciara as negociações de atletas maranhenses ao exterior, sobretudo a Bélgica), novamente o Maranhão venceu o Maremoto, e novamente pelo placar de 1 a 0. No jogo diante do lanterna Expressinho, uma goelada de 4 a 0, apesar dos desfalques de Filho, Josemar, Luis Carlos e Mano.
Antes do final da Primeira Fase do Segundo Turno, o regulamente da competição foi modificada, a fim de atrair o público, ausente desde o início do campeonato. Dirigentes dos três principais clubes homologaram na DMD as modificações. A falta de datas foi a principal justificativa para a modificação, que previa mais dois longos Hexagonais em segundo e terceiro turnos. A competição passaria, então a contar com um Pentagonal formado por três equipes da chave na capital e duas da chave do interior, em sistema de ida e volta, classificando-se três para a disputa do turno. E a confusão não parou por ai: na disputa do Pentagonal, o campeão dos jogos de ida disputaria com o vencedor dos jogos de volta para ser conhecido o time que levaria um ponto de bonificação para o Terceiro Turno (sim, ainda haveria mais um turno e, dependendo da situação, até um Quarto Turno!), que contaria, além do campeão do primeiro e segundo turnos, com os dois vice-campeões, sendo que o Moto Club já estava incluído por ser o vice no Primeiro Turno. Caso o Maranhão, único que já havia vencido um turno, não conquistasse os outros dois turnos restantes, decidiria a competição no chamado Quarto Turno. Dessa fase, que poderia ser disputada em Triangular ou até mesmo em Quadrangular, o time que, além daqueles que venceram o primeiro e segundo turnos, tiver obtido a melhor campanha em todo o campeonato, teria participação assegurada. Caso essa equipe vencesse a fase em disputa, teria que decidir com o vice o titulo de campeão maranhense da temporada. Entendeu, caro leitor? Nem eu.
A vitória por 1 a 0 no Samará garantiu ao Maranhão, além do título da Primeira Fase do Segundo Turno, a quebra de uma escrita: o time atleticano não vencia o Sampaio Corrêa havia 14 jogos e, em 630 minutos, os atacantes maqueanos não conseguiram vazar a meta boliviana.
Na Segunda Fase do Segundo Turno, o Maranhão viu a sua equipe cair de produção, perdendo jogos teoricamente fáceis, chegando mesmo a perder em casa para o lanterna Caxiense. Em virtude de derrotas contra Moto, Imperatriz e Caxiense e o empate diante dos bolivianos, o Maranhão saiu da briga pela conquista da fase. O título ficou com o Imperatriz, que garantiu o seu ponto de bonificação para as finais da competição. O time imperatrizense, na ocasião da conquista do turno, era treinador por José Dutra - ironicamente seria o próprio Dutra que chegaria ao título máximo de 1993, já que, no meio do campeonato, transferiu-se para o Sampaio, que, eliminado, o cedeu ao Maranhão às vésperas das finais. No último jogo, sentado no banco de reservas rival, estava também por outra ironia, Rosclin, que havia iniciado a campanha vitoriosa da equipe. Rosclin, aliás, pela eliminação atleticana precoce do Segundo Turno, deixou o cargo e assinou com o Sampaio, onde passaria a receber quase quatro vezes mais (no MAC, o eterno xerifão recebia Cr$ 18 mil mensais). Para o cargo, a diretoria atleticana trouxe o técnico Lira, ex-jogador com passagens por Santa Cruz, Bangu (RJ), Ceará, Avaí e Ferroviário-CE e ex-treinador do CRB, Icasa, Guarany de Sobral e Bacabal, seu último clube.
Para o Terceiro Turno, o time maqueano entrava embalado pela vitória diante do Sampaio (3x1) e a goleada frente ao Americano (5x1), sobretudo pela reação demonstrada em campo no momento em que o Maranhão já não aspirava absolutamente nada no Segundo Turno. Ainda sem poder contar com Carlinhos, recém-operado, o treinador Lira, de cara, deu a condição de titular ao jovem Raimundão, apesar de Paulo Márcio se configurar como o melhor goleiro da competição, e promoveu a volta do médio-volante César, que voltava de contusão e daria mais equilíbrio ao setor. Raimundão, aliás, começou a jogar profissionalmente em 1993, com apenas 22 anos. A inexperiência o tiraria do momento decisivo do clube na competição. O empate no Maremoto e a vitória diante do Imperatriz, que terminaria o turno na última colocação com apenas uma vitória, foram maculadas pelo deslize diante do Sampaio Corrêa, no primeiro jogo atleticano no Castelão em 1993, até então fechado para reformas. Sem Barrote, suspenso pelo terceiro cartão amarelo, e com a volta de Marcos à lateral-direita, o time atleticano foi derrotado pelo placar de 2 a 1, de virada, e viu o Sampaio subir para a segunda colocação, com cinco pontos; o MAC permaneceu na terceira colocação, com apenas 3 pontos.
O time atleticano, para conquistar o Terceiro Turno, necessitava vencer os dois clássicos e, dependendo dos resultados, empatar com o Imperatriz. E foi justamente isso o que aconteceu. Com uma campanha quase impecável nos jogos de volta, o Maranhão começou vencendo o Moto do treinador Djalma Linhares. Aos bolivianos, apenas a vitória interessava diante do Maranhão para sonhar com a conquista do turno. Em caso de derrota, o Sampaio precisaria de uma combinação de resultados: com apenas cinco pontos e apenas um jogo, precisaria vencer o clássico diante do Moto Club por uma boa diferença de gols e esperar uma vitória do Imperatriz diante do MAC para ainda assim disputar dentro dos critérios de desempate a vaga para o restante do campeonato. Não seria preciso nem se preocupar, já que o Maranhão goleou e despachou o Sampaio Corrêa. Álvaro, Nevada, Marcos e Hiltinho trataram de enterrar qualquer tentativa dos bolivianos pela luta rumo ao tetracampeonato. Após a goleada, o treinador Arnaldo Lira acabou aceitando a boa proposta do Presidente Sebastião Murad e se bandeou para as hostes do Moto Club.
Na última rodada, o treinador dos juniores, Roberto Costa (pai do Deputado Roberto Costa) assumiu o time atleticano para a partida diante do Imperatriz, no Sul do Estado. Com o empate em 0 a 0no Frei Epifânio D’abadia, o Maranhão sagrou-se campeão do Terceiro Turno, garantindo mais um ponto de bonificação para o quarto e decisivo turno, juntamente com Moto e Imperatriz.
Depois de colocar o nome de Meinha (então trinador do River) como o primeiro da lista de preferência para o lugar de Lira, os dirigentes atleticanos voltaram atrás e apresentaram o treinador Eliézer Ramos, que havia dirigido várias equipes desde que parou de jogar futebol no próprio MAC. Eliézer, além do salário, teria direito ainda a uma gratificação entre Cr$ 200 mil e Cr$ 300 mil em caso de conquista do campeonato.
Na abertura do turno decisivo, o Moto Club estreou vencendo, em casa, o Imperatriz. O Maranhão, com dois pontos ganhos dos turnos conquistados, teria então a difícil missão de jogar no Sul do Estado diante do Cavalo de Aço, mordido pelas três derrotas consecutivas para o Papão. O jogo seria no chamado “Caldeirão do Diabo” (denominação para o estádio imperatrizense, em virtude das naturais dificuldades em vencer a equipe cavalinha e pela pressão que vinha das arquibancadas, muitas vezes gerando até protestos contra a equipe visitante, face toda sorte de objetos lançados a campo contra o adversário do Imperatriz). Com o empate em 1 a 1, o Maranhão manteve-se na ponta da tabela, com apenas um ponto de vantagem diante do segundo colocado, o Moto Club, seu próximo adversário.
Somente a vitória interessava ao Papão. Por isso, o time rubro-negro jogou pra frente, com o deslocamento de Mazinho para a meia-esquerda e Rildo para o comando de ataque. Ao Maranhão, uma vitória garantiria um passo gigantesco para a conquista antecipada do título Estadual. Em uma partida equilibrada realizada no Estádio Castelão, o time rubro-negro foi mais aguerrido e Chita e Fuzuê trataram de dar a vitória ao Papão pelo placar de 2 a 1, aumentando as chances de conquista do rubro-negro e a inclusão de mais uma fase para conhecer o vencedor da competição.
Após a derrota no Maremoto e o baixo rendimento da equipe em campo, o treinador Eliézer Ramos foi demitido. Antes do novo encontro entre maqueanos e motenses, o Presidente França Dias encontrou com Pedro Vasconcelos na Secretaria da Fazenda. Informalmente, Pedro o orientou a tirar o “pé frio” Eliézer e avisou que havia liberado do Sampaio o treinador José Dutra do comando boliviano. À noite, em reunião na sede da Cohama, França colocou a ideia de mudança de treinador, o que foi prontamente aceita por todos. Dutra, que morava no Cohaserma e tinha contrato com o Sampaio Corrêa até o final da temporada, recebeu França e Ivan (dono da escolinha de natação Golfinho) em sua casa e acertou as bases salariais para as duas últimas partidas do campeonato.
Apresentado oficialmente no MAC no dia 24 de Setembro, Dutra estreou já eliminando o rubro-negro da competição. O Moto Club morreu na praia ao perder fôlego justamente na reta final do campeonato. As derrotas para o Imperatriz (2x1) e para o próprio Maranhão, também pelo placar de 2 a 1, encerraram as pretensões rubro-negra na competição. A disputa do título aconteceria, então, na última rodada, no confronto entre Maranhão e Imperatriz. Para levantar a taça, a equipe maqueana jogaria por um simples empate na grande decisão. E que decisão!
A partida final do bagunçado Campeonato Maranhense de 1993 ficou para a tarde do dia 05 de Dezembro, no Estádio Castelão. Ao Imperatriz, somente a vitória interessava para o título, o primeiro de um clube na elite do futebol maranhense. O MAC, líder com cinco pontos, apresentava, no geral, melhor campanha que o seu adversário: 34 pontos ganhos contra 32, além de ter o artilheiro da competição – Luis Carlos, com 14 gols marcados. O time atleticano chegaria à decisão com uma equipe jovem, unida, bem ajustada e que vinha jogando a mais tempo que o seu adversário, além de ter um treinador experiente, acostumado a grandes decisões. Do lado do Imperatriz, uma figura polêmica: Damião Benício, Presidente cavalinho. Irrequieto, insistente, bravo, destemido, enfrentando todo tipo de pressão contra o seu time, o mandatário investiu muito, contratou mais de 50 jogadores e até os dois treinadores da grande decisão deram a sua parcela de colaboração.
Diante de 2.803 pessoas, o menor público dentre todas as decisões do Campeonato Maranhense até então, assim perfilaram as duas equipes: o Maranhão entrou com Paulo Márcio (Raimundão, pela sua natural inexperiência, foi para o banco face à importância do jogo), Marcos, Carlinhos, Oliveira Lima e Reginaldo; César, Barrote e Filho; Mauro, Luis Carlos e Jackson; o Imperatriz do treinador Sérgio Belfort lançou a campo João Carlos, Anderson, João Carlos, Haroldo e Paulo César; Biro-Biro, Adilson e Amado; Batoré, Bill e Paulo Robson. Aqui, um momento inusitado: quando realizava o seu aquecimento, o goleiro Valdir, do Imperatriz, foi substituído pelo reserva João Carlos, antes mesmo do início da partida, por motivo de contusão.
Em seu pior jogo no campeonato, o time atleticano não apresentou o mesmo brilho de outrora. O nervoso jogo foi difícil para os dois lados, mas ninguém conseguiu marcar pela falta de objetividade, em que pese algumas pontadas perigosas das duas equipes. No primeiro tempo, notou-se a preocupação maqueana em se defender e assegurar o empate. O Imperatriz ainda tentava, haja vista a necessidade da vitória, mas esbarrava na forte marcação do quadro atleticano, que encontrou no goleiro João Carlos uma barreira, com importantes defesas, uma delas de Barrote num chute longo de fora da área. Com Jackson fazendo a sua pior partida e sem Álvaro para fazer os lançamentos, o Maranhão perdeu-se em meio ao emaranhado defensivo, deixando o jogo feio e sem graça. Na segunda etapa, aos 20 minutos, o jogador Filho deixou Mano de cara para o gol, que chutou forte, proporcionou boa defesa para João Carlos. O imperatriz responder aos 24 minutos, quando a defesa atleticana deu rebote e César quase marcou. O Imperatriz, então, conseguiu três escanteios seguidos, quase no final.
Aos 44 minutos houve um novo escanteio para a equipe cavalina quando o zagueiro Haroldo atingiu Oliveira Lima sem bola e provocou a reação imediata de Paulo Márcio, que saiu correndo atrás do zagueiro imperatrizense. A torcida, que já estava à beira do gramado, entrou a campo, mas a Polícia Militar conseguiu limpar a área e o árbitro Marcelo Filho, então, autorizou a cobrança de escanteio. Os jogadores do Imperatriz se negaram a bater, alegando falta de policiamento (estavam no jogo cerca de 2 mil pessoas e um pouco mais de 100 policiais destacados para dar segurança, segundo o comandante, Capitão Chagas). Ficando caracterizado abandono de campo, Marcelo Filho, então, encerrou o jogo e dai em diante o que se viu foi uma grande comemoração dos jogadores, dirigentes e torcedores maqueanos. Os torcedores, nas comemorações, carregaram o técnico José Dutra e vários jogadores, principalmente os considerados mais destacados durante todo o campeonato, como o lateral-direito Marcos e o meio-campo César.
Finalmente o Maranhão quebraria o jejum que já perdurava desde o longínquo ano de 1979. A FMD colocou o nome de Domingos Leal no troféu, que foi entregue pelo desportista Raimundo Silva, atualmente configurando como o Vice-Presidente do Conselho Deliberativo do MAC, ao capitão César, então com 26 anos e eleito pela ACLEM como o melhor jogador do ano. O Imperatriz não apareceu na festa para receber o troféu de vice-campeão, pois a sua direção pretendia recorrer no TJD, tentando a marcação de um novo jogo. Em vão. O título estava em boas mãos, com um legítimo campeão.
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