Extraído do livro "Almanaque do Futebol Maranhense Antigo: Clubes Menores da Capital":
O Campeonato Maranhense de 1971 foi vencido pelo Ferroviário, o seu terceiro título estadual, com uma bela campanha, desbancando equipes fortíssimas, como o Sampaio Corrêa do treinador Bero e com alguns grandes nomes em seu elenco (Célio Rodrigues, Neguinho, Nivaldo, Gojoba, Prado, Pelezinho, Djalma, Itamar e outros), o Moto Club de Clécio, Faísca, Paraíba e João Bala, e do até então bicampeão MAC, que apresentava em seu elenco nomes como Baezinho, Luís Carlos, Sansão, Riba, Dario e a dupla Hamilton e Croinha. O Ferrim foi campeão de ponta a ponta, vencendo os dois turnos. O título, porém, somente pôde ser comemorado após um imbróglio envolvendo uma partida anulada diante do Graça Aranha e que teve de ser novamente disputada praticamente dois meses após o término da competição. Coisas do nosso futebol.
Ferroviário e Moto Club abriram o Estadual daquele ano na tarde do dia 23 de maio, no Municipal. Comandado pelo experiente treinador Marçal Tolentino Serra, a equipe da RFFSA, para a sua estreia, sentiu a falta da presença de área com a ausência de Mineiro, inativo por alguns dias. E a falta de ritmo e de todos os titulares seria sentida logo na abertura do certamente de 1971. Assim perfilaram as duas equipes: o Moto, do técnico Antônio Pereira, com o concurso de Josafá; Reinaldo, Dodó, Clécio e Romildo; Faísca e Toca; Pedrinho, Paraíba, João Bala e Palheta; o Ferrim com Marcial; Paulo, Alzimar, Vivico e Zulu; Valdinar e Santana; Joari; Gimico, Carlos Alberto e Coelho. Faísca foi o autor do gol da vitória rubro-negra, assinalado aos 15 minutos do primeiro tempo, após um tiro de longe que o goleiro Marcial não conseguiu deter.
Após previsíveis vitórias diante dos inexpressivos Vitória do Mar e São José, o Ferrim não passou de um empate sem abertura de contagem diante do Sampaio Corrêa. Sem Antônio Carlos e Edson, o time da RFFSA, reduzido a nove homens, aguentou a pressão boliviana, que lançou a campo uma forte equipe: Alemão; Célio Rodrigues, Neguinho, Nivaldo e Geraldo; Noberto e Gojoba; Prado, Zé Carlos e Pelezinho. Pelas circunstâncias, o empate ficou de bom tamanho, com o time ainda se ajustando taticamente em início de competição.
A vitória diante do Bode Gregório na rodada seguinte foi tão comemorada que o jornalista Ribamar Bogéa, titular do Jornal Pequeno, gravou uma paródia de sua autoria sobre o feito dos Ferrins (paródia criada sobre a música “Essa Moça Está Diferente”, do consagrado Chico Buarque de Holanda). Os compactos, horas depois, foram tocados no Parque do Bom Menino e nas principais emissoras locais (numa época em que o nosso futebol era levado mais a sério e a cidade parava para prestar atenção nos fatos que aconteciam em nossas praças esportivas). Eis a letra:
O famoso bode, coitado, com joguinho lero-lero. Foi pelo trem esmagado, apanhou de dois a zero. O avante Carlos Alberto, na fase inicial, com endereço bem certo fez tento sensacional. Veio a fase complementar, quando a partida esquentou. Mineiro, espetacular, a vitória consolidou. O Ferrim está vem contente com a vitória que alcançou. E o Bode bem doente, de dois a zero apanhou.
Mineiro, aliás, havia assinado com o Ferrim dias antes e estreado contra o Maranhão. Apesar da grande comemoração, o Ferrim caiu diante do Graça Aranha na rodada seguinte, mas, por ironia do destino, esse seria o jogo que mudaria o rumo do campeonato e daria mais um título para a galeria do Ferroviário.
No Segundo Turno, após empates diante de Maranhão e Sampaio e a boa vitória frente aos rubro-negros do Moto Club, o Ferroviário goleou impiedosamente o Vitória do Mar por 7 a 0, este último sem nenhuma aspiração na competição. Com a conquista, o representante da Estrada de Ferro foi declarado então o campeão do certame de 1971, com o Sampaio alcançando o vice-campeonato. A federação, porém, forçou o novo encontro entre Ferrim e Graça Aranha (GAEC), na partida que acabou anulada ainda no Primeiro Turno, pela escalação irregular de um atleta do GAEC.
Em nova partida, realizada no dia 24 de agosto, no Nhozinho Santos (quase um mês após o término do campeonato), as duas equipes lançaram as suas formações consideradas ideais: o Ferroviário com Martins; Airton, Alzimar, Antônio Carlos e Carrinho; Valdinar, Joari e Carlos Alberto; Edson, Mineiro e Coelho; o GAEC, treinado pelo radialista Fernando Sousa, atuou com Vilenor; Mário, Castelo, Sebastião e Catel; Wilson, Baldez e Raimundinho; Burunga, Chico e Moraes.
O Graça Aranha entrou em campo com o intuito de prejudicar o andamento da partida contra o Ferroviário. A maioria dos seus atletas fez o que bem entendeu em campo, principalmente o lateral Catel, que não foi excluído de campo talvez por temor do juiz José Salgado, que não teve o pulso necessário para expulsá-lo, preferindo terminar o jogo com quase todos os jogadores, exceção feita a Baldez, que resolveu chamar nomes obscenos e recebeu o cartão vermelho aos 35 minutos do primeiro tempo. O Ferroviário encontrou um adversário fácil pela frente, mas se atrapalhou todo, com um Ailton jogando mais uma vez abaixo da crítica e não aproveitando a vantagem de o adversário não possuir ponta-esquerda. O Ferroviário marcou no primeiro tempo através de Edson e Mineiro; na etapa final, Valdinar, cobrando falta, e Carlos Alberto deram números finais, numa partida em que o representante da RFFSA dominou inteiramente seu adversário e conquistou o título de campeão maranhense agora em definitivo. Após a goleada sobre o Graça Aranha, o Ferrim realizou sua festa na sede do clube, que se prolongou até a madrugada.
Primeiro Turno
23/05/1971-Moto Club 1x0 Ferroviário
26/05/1971-Ferroviário 5x0 Vitória do Mar
09/06/1971-Ferroviário 1x0 São José
13/06/1971-Sampaio Corrêa 0x0 Ferroviário
20/06/1971-Ferroviário 2x0 MAC
23/06/1971-Ferroviário 0x2 GAEC (*)
Segundo Turno
07/07/1971-MAC 1x1 Ferroviário
11/07/1971-Ferroviário 0x0 Sampaio Corrêa
14/07/1971-Ferroviário 2x1 Moto Club
25/07/1971-Vitória do Mar 0x7 Ferroviário
24/08/1971-GAEC 0x4 Ferroviário
(*) Jogo anulado pelo TJD. A partida foi realizada no dia 24 de Agosto
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