sábado, 23 de março de 2024

Moto Club 3x3 Clube do Remo/PA: Salomão Mattar, Diretor do Moto, tenta “Mattar” árbitro em campo (1961)

Texto extraído do Livro "Memória Rubro-Negra: de Moto Club a Eterno Papão do Norte"

Com todo o perdão do trocadilho, Moto Club x Club do Remo, válido pela Taça Brasil de 1961, proporcionaram uma das cenas mais absurdas já vistas em campo no confronto Maranhão x Pará. A histórica rivalidade existente entre os dois Estados sempre se configurou por passagens curiosas e até cômicas, a exemplo dos confrontos envolvendo clubes maranhenses contra os piauienses, sobretudo em décadas passadas. Quando o Moto Club atuava na capital piauiense, não raros eram os mementos de “gentilezas” do torcedor mafrense, com invasão a campo, agressão a atletas motenses no vestiário e até chuva de pedras. Mais cavalheiresco, impossível!

A título de curiosidade, pela mesma Taça Brasil, mas a edição de 1967, o Moto Club venceu o E. C. Piauí em pleno Lindolfo Monteiro por 1x0. Porém, a partida sequer chegou ao seu final, em virtude da condenável atitude do dirigente desportista piauiense ex-deputado Alfredo Nunes, que invadiu o campo para tomar satisfações com o juiz da Federação Carioca de Futebol, Sr. José Teixeira de Carvalho, que não marcou uma penalidade a favor da equipe piauiense. Na ocasião, torcedores piauienses saltaram o alambrado do estádio e agrediram o árbitro, que encerrou a partida aos 25 minutos da etapa final por falta de segurança. Após a partida, o árbitro ainda permaneceu em campo durante mais de uma hora, enquanto eram lançados foguetes, chupas de laranjas e outros objetos pelos torcedores contra a sua pessoal. Somente com a chegada de reforço policia fortemente armado foi possível ao mesmo abandonar o estádio. Mesmo assim, os torcedores postavam-se nos portões do estádio, insultando o pobre árbitro. Era a terceira vez que o mesmo Alfredo Nunes, na época o Presidente da Federação Piauiense de Futebol e Presidente do E. C. Piauí, infamava a torcida maranhense quando clubes da nossa capital jogavam no Lindolfo Monteiro. Em outra ocasião, durante o amistoso River 2x1 Moto Club, também em Teresina, o juiz piauiense Abdala Jorge Cury assinalou uma penalidade máxima em favor dos donos da casa, em partida realizada no dia 14 de Maio de 1961. Jogadores maranhenses queriam sair de campo, porém diretores da embaixada, mesmo reconhecendo o esbulho, não aprovaram a idéia dos atletas. Após o jogo, o Delegado de Polícia da cidade de Timon  agrediu o Presidente Alfredo Nunes.

Pela ocasião do embate entre maranhenses e paraenses, em Julho de 1961, os ânimos mais exaltados chegaram ao limite de levar um diretor do Papão do Norte a ameaçar de morte o próprio juiz do confronto entre Moto e Remo, manchando a história dos jogos entre as duas agremiações. Remistas e motenses estrearam na Taça Brasil daquele ano jogando em Belém, onde historicamente os clubes maranhenses sempre tiveram grande dificuldades para jogar (tanto pelo adversário como pela torcida). Os 4x0 do Clube do Remo na partida de ida mostraram bem o que significa jogar naquela cidade. Com uma vitória nas costas, a embaixada do Remo, tendo como Presidente do maranhense Vinicius Bahury (grande desportista e paredro remista havia muito tempo) desembarcou em São Luis para a partida de volta, ficando hospedado no Hotel Central, na época um dos melhores da nossa cidade. Como o Clube do Remo havia vencido a primeira partida, jogava apenas por um empate para seguir na competição. Ao time motorizado, atual bicampeão maranhense, somente a vitória importava, o que forçaria uma terceira partida (naquela época, o saldo de gols não importava, apenas o número de pontos. Ou seja, em caso de uma goleada por uma boa margem de gols, apenas uma vitória simples do adversário bastaria para a realização de um jogo extra). Para a partida de volta, desembarcou em São Luis até uma caravana de torcedores do Clube do Remo, pela “Paraense Transportes”, empresa aérea que havia muito tempo prestava serviços dentro da nossa capital.

Assim perfilou o Papão no jogo de volta, realizado no dia 23 de Julho de 1961 e sob a direção do experiente professor Rinaldi Maia: Bacabal; Baezinho, Calado, Terrível e Esmagado; Gojoba e Ananias; Garrinchinha, Nabor, Zezico e Neto. O Moto sentiu o peso da expulsão do capitão Ananias, apesar de atacar desde o início da partida. Porém, quando o rubro-negro maranhense apresentava-se melhor em campo, Estanislau inaugurou o marcador. Garrinchinha e Ananias colocaram o Moto Club à frente do marcador. Quando Valter, do Remo, empatou a partida, Ananias foi expulso por entrada maldosa em Isaias, dificultando a vida e a classificação do rubro-negro. No período final, mesmo lutando, o Moto Club nada mais pode fazer e ainda foi traído por um frango. Garrinchinha, cobrando pênalti, ainda empatou, mas já era tarde, o Moto Club dava adeus à competição. A desclassificação em pleno Nhozinho Santos passou até despercebido face ao fato vergonhoso que ocorreu após a partida...

O árbitro Orlando Pinto apitava pela segunda vez uma partida de futebol em nosso estado (nessa época, o juiz vinha junto com o time visitante, não havia ainda esse critério de um árbitro neutro). A exemplo da primeira experiência em solo maranhense, a sua arbitragem não agradou à torcida e foi vista como tendenciosa inclusive por parte da imprensa. No jogo em que o Papão foi desclassificado para o Remo no empate em 3 a 3, terminada a partida, registrou-se tremenda confusão, com o Sr. Salomão Mattar tentando atirar no juiz e a polícia distribuindo cacetadas para valer. Vale ressaltar que Salomão Mattar, com arma em punho, pulou da tribuna de honra e, na queda, ainda ficou “puxando” a perna por muitos anos depois. Com a expulsão de Ananias, a própria torcida, que já esperava a terceira partida entre motenses e azulinos, revoltou-se contra o juiz. O próprio Salomão, após a partida, entrou em campo, de revólver em punho, antes de ameaçar o árbitro. Somente não houve uma tragédia em campo devido ao Capitão Emílio Vieira, que interveio junto ao Diretor do Moto. Após o empate, alguns atletas motenses foram à casa de Salomão Mattar, receber um vale. Salomão incentivou os atletas a sequestrarem o juiz, para que a súmula fosse rasgada e não chegasse à CBD. Foi um final vergonhoso.

FICHA DO JOGO

Moto Club 3x3 Clube do Remo/PA
Data:
23 de julho de 1961
Local: Estádio Nhozinho Santos
Renda e público: não informados   
Juiz: Orlando Pinto/PA
Gols: Estanislau aos 10, Garrinchinha (pênalti) aos 35, Ananias aos 41 e  Walter as 44 minutos do primeiro tempo; Abel aos 26 e  Garrinchinha (pênalti) aos 39 minutos do segundo tempo
Expulsão:  Ananias aos 45 minutos do primeiro tempo
Moto Club: Bacabal; Baezinho, Calado, Terrivel e Esmagado (Português); Gojoba e Ananias; Garrinchinha, Zezico, Nabor e Neto. Técnico: Rinaldi Maia
Clube do Remo/PA: Piedade; Ribeiro, Abel, Socó e Pedro Buna; Isaias e Sessenta; Jorge de Castro, Walter, Estanislau e Chaminha

Nenhum comentário:

Postar um comentário