segunda-feira, 1 de maio de 2023

Hamilton se despede do futebol com a camisa do Maranhão (1970)

 Texto extraído do livro "Salve, Salve, meu Bode Gregório: a História do Maranhão Atlético Clube"

Décimo primeiro artilheiro em toda a história do Maranhão Atlético Clube, com 71 gols em apenas duas temporadas (1969/70). Maior artilheiro na história do Moto Club e um dos grandes nomes que vestiram a camisa da Seleção Maranhense de Futebol. Isso, é claro, aclamado como o maior centroavante de todos os tempos do futebol maranhense. Alguns ousam em apontá-lo como o maior jogador que já existiu no Brasil. O seu único erro: ter nascido em época errada, segundo muitos comentam. A história de Hamilton Sadias Campos, paraense de Pesqueiro, mistura-se à história dos grandes clubes do nosso futebol. O craque dedicou toda uma vida aos gramados e hoje, na lucidez e tranquilidade do merecido descanso, ainda é lembrado pela antiga geração que o via desfilar em campo com a bola nos pés.

Quinze anos de futebol, tendo defendido Tuna Luso, Ferroviário, Santa Cruz e Moto Club e Maranhão. O craque, aos 37 anos de muito futebol e aproximadamente 499 gols oficiais, resolveu, enfim, abandonar os gramados. A sua estreia com a camisa do Glorioso aconteceu no dia 01 de Maio de 1969, em um amistoso diante do Atlético de Pedreiras, no Estádio Marechal Castelo Branco, em Pedreiras. E foi logo deixando a sua marca, no empate em 1 a 1 contra a equipe do interior do Estado.

Ainda em contrato vigente com o Maranhão, o craque despediu-se do futebol ostentando a camisa do Glorioso, em partida amistosa realizada no dia 08 de Dezembro de 1971, no Estádio Municipal Nhozinho Santos. E a data seria escolhida pelo próprio Hamilton, já que o 08 de Dezembro era dia consagrado a Nossa Senhora da Conceição. A Coordenadoria de Esportes, em parceria com a FMD, providenciou a promoção da festa de despedida do craque. A renda da partida seria toda destinada a Hamilton, sem taxas. O centroavante atuaria um tempo pelo Maranhão e outro pelo Moto Club. Os clubes não receberiam nada pela partida amistosa. Algumas homenagens seriam prestadas ao extraordinário jogador antes da sua despedida.

Pelo cronograma da festividade, que se iniciaria às 16h30, Hamilton seria homenageado pelo Maranhão, Moto Club, Ferroviário, imprensa, Coordenadoria dos Esportes e FMD. Todos os clubes ofereceriam placas de prata, com inscrições lembrando sua passagem por cada agremiação. A federação colocaria em jogo o troféu “Hamilton Sadias Campos” e o atleta daria a volta Olímpica. Receberia ainda as duas camisas com as quais atuaria e mais uma do Santa Cruz, vinda de Recife. Às 17h00 começaria a partida, com ingressos ao preço de Cr$ 6,00 e arquibancada e Cr$ 3,00 para a geral. A FMD e a Coordenadoria dispensaram todas as taxas e até o juiz Francisco Sousa apitaria de graça.

Seis dias antes do jogo, o craque foi homenageado antes do amistoso entre Moto Club e Santa Cruz, clube este pelo qual Hamilton jogou durante dois anos e foi campeão pernambucano. O craque deu o pontapé inicial à partida e ainda recebeu uma flâmula do clube de Recife, em partida realizada no dia 06 de Dezembro, no Municipal. O Coronel Josias Vasco, Presidente do Santa, ainda fez rasgados elogios ao craque à imprensa que cobria a partida.

Com o Municipal lotado, Hamilton, enfim, preparava-se para encerrar a sua vitoriosa carreira de 18 anos como profissional. O dia 08 de Dezembro ficaria marcado para sempre nos anais do futebol maranhense como o dia em que uma lenda não mais agraciaria o público com um futebol de muita habilidade, dribles desconcertantes, técnica e uma calma descomunal. Para quem o via jogar, sabia que o craque paraense era incapaz de provocar o adversário. Compensava a marcação com gols, muitos gols. E o fazia em seu melhor estilo: apenas erguia o punho cerrado, intimamente comemorava o seu tento e tão logo retornava para o reinício da partida, em uma clara alusão à sua famosa timidez. Assim perfilaram as duas equipes na histórica partida: o Moto Club do treinador Marçal mandou a campo Assis; Ribeiro, Marins, Sérgio e Romildo; Jorge e Joari; Ivanildo, Marcos, Hamilton e Garrinchinha; o MAC atuou com Marcos; Jacinto, Luís Carlos, Sansão e Elias; Almir e Lucas; Euzébio, Antônio Carlos, Sanega e Dario, comandados pelo técnico Walter Cruz.

Hamilton foi calorosamente aplaudido pela torcida. Em campo, Moto e Maranhão empataram pelo placar de 1 a 1, em partida das mais disputadas, chegando a agradar o público que compareceu ao Municipal. Na fase inicial, aos 31 minutos, o Maranhão marcou o seu gol através de Dario, em excelente jogada de Euzébio pela direita, que bateu seu marcador, cruzando rasteiro para a entrada fulminante do ponteiro-esquerdo, atirando sem chances para o goleiro Assis, que nada pôde fazer. No intervalo, recebendo o justo aplauso, Hamilton deu a volta Olímpica no gramado com as chuteiras nas mãos. Clubes e entidades então o homenagearam, exceção feita pelo Ferroviário, que inexplicavelmente não participou da festa. Até o Sampaio Corrêa, clube o qual Hamilton sequer atuou, prestou-lhe o devido reconhecimento. Hamilton recebeu cumprimento de todos os jogadores, dirigentes, troféus, placar e brindes de firmas comerciais. Na etapa final, Hamilton envergou a camisa do Maranhão, entrando em lugar de Antônio Carlos. E o Moto chegaria ao empate somente aos 44 minutos, após forte chute de Garrinchinha e que o goleiro Marcos não conseguiu segurar. Após a partida, Hamilton ofereceu a camisa que jogou a sua última partida como profissional ao diretor Carlos Guterres. A renda somou a quantia de Cr$ 7.500.

Após encerrar a carreira, Hamilton passou a ocupar a função de Diretor da Escolinha de Craques da Coordenadoria de Esportes da Prefeitura de São Luís – a mesma entidade que empregara, após o final de carreira, Dudu e Zé Raimundo (Sampaio Corrêa), Nabor e Baezão (Moto Club) e Serra (Vitória do Mar), dentre outros.

Elogiado pelos melhores comentaristas do Nordeste, Hamilton ganhou manchetes sensacionais, foi aplaudido de pé e cumprimentado por grandes autoridades, mas sempre humilde e dedicado ao clube que lhe tinha sob contrato. Ele foi um profissional correto. Após pendurar as chuteiras, o craque, a princípio, descartou a possibilidade de seguir carreira como técnico, tento rejeitado alguns convites para ficar dirigindo o Maranhão. “Futebol mesmo só jogando. Técnico é difícil”, relembra o craque, no alto da sua simplicidade. No ano seguinte, porém, iniciou carreira como treinador no São José. A sua passagem como técnico, porém, duraria pouco tempo. Para quem viu Hamilton jogar em grande forma, é difícil compará-lo a qualquer jogador de hoje. Ele esteve perto da perfeição como atleta.



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