sexta-feira, 24 de abril de 2015

Serra "Pano de Barco"

Uma das formações do Sampaio Corrêa de 1959/60. Em pé: Zé Raimundo, Milson Cordeiro, Vadinho, Maneco, Macaco e Decadela; Agachados: Nilson, Fernando Pernambucano, Serra "Pano de Barco", Canhotinho e Pinagé

Matéria de Edivaldo Pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão, de 07 de Agosto de 2000.

Na infância, quando todos os garotos eram apaixonados por futebol, Serra vibrava com bons filmes e se espelhava nos grandes atores de 1940/50. O futebol surgiu por acaso na vida dele, que estava prestes a completar 20 anos de idade. Jogava sem uma posição fixa. Certa vez, improvisado no gol, vestindo uma camisa de cor berrante e bem folgada, magro na hora de abrir os braços, dava a impressão que seria carregado pelo vento. Um torcedor resolveu batizá-lo de “Pano de Barco”. Atuou principalmente pela lateral-direita. Depois de defender várias equipes amadoras de São Luís, se profissionalizou e rodou por clubes de ponta do Maranhão, Piauí e Rio de Janeiro. Hoje, longe do futebol, se dedica a servir a Deus.

Em 1940/50, a brincadeira natural da garotada era o futebol. Não faltava espaço para jogar. Em todos os bairros da Ilha de São Luís tinha uma salina ou uma quinta, que acabavam virando um campo. O grande time maranhense da época era o Moto Club. Contrariando a normalidade do período, o garoto Benedito Vicente Serra, ludovicense e nascido em 05 de Abril de 1930 no Bairro da Madre Deus, filho dos rosarienses José Maximiano Serra e Joana Francisca Serra, acabou optando por assistir filmes no cinema. Sem condições de comprar ingressos, não se envergonhava em varrer os cinemas em troca de entradas. Indo aos cines São Luís (que depois se tornou conhecido como Rialto – Rua do Passeio), Olímpiada e Rival (que ficava na Rua Grande), aprendeu a gostar dos grandes astros e estrelas da época. “Eu sonhava em ser um daqueles galãs. Gosto de relembrar os nomes deles e a situação em que viviam e como vivem até hoje. Tenho catalogado na memória e no papel mais de 350 nomes de atores e atrizes do cinema nacional e internacional”, conta ele, mostrando que gostava mesmo da situação dos astros, que contracenavam com grandes estrelas, “mulheres verdadeiramente nota 10”, segundo Serra. Todo dinheiro ganho era investido em roupa e adereços que pudessem lembrar seus ídolos do cinema.

Em 1950, quando já estava prestes a completar 20 anos de idade, sem chances de vencer na carreira artística, resolveu jogar futebol. “Foi um início fácil. Jafé Mendes Nunes, radialista e técnico de futebol de salão e campo, me chamou para jogar como lateral-direito ao lado de verdadeiros craques: Caroba, Rui, Xavier (Peru), Gimico, Garcia, Moacir Bueno, Leôncio, Lelé Rodrigues e Calango (apelido do ex-atleta e árbitro profissional Wilson de Moraes Wan Lume). Todos esses feras jogavam no Tupi, do Bairro do Caminho da Boiada. Fomos campeões da segunda divisão e passamos a disputar o Campeonato Estadual da Primeira Divisão”.

Em apenas um campeonato Serra mostrou todo o seu potencial e acabou sendo convidado para jogar no Maranhão Atlético Club. Era a grande chance de se jogar um profissional de futebol. “Fui contratado para jogar no MAC na mesma posição do Tupi. Com o passar do tempo, acabei virando uma espécie de coringa, que se dava bem em qualquer posição” Confessa que o seu maior objetivo era estar no grupo e defender o clube.

Com habilidade nata, o inteligente Serra se adaptou aos esquemas táticos do futebol. Tinha um físico privilegiado e seu fôlego de gato permitia que corresse o tempo todo em campo. Jogava falando, orientando e, às vezes, xingando os companheiros. Chutava muito bem com as pernas direita e esquerda. Walfredo Maranhense, ex-companheiro de Sampaio Corrêa, relembra: “Com ele a bola corria. Sabia cadenciar o jogo quando era preciso”.

Serra jogou no MAC no período de 1952 a 1958. Durante esse tempo, conheceu muita gente boa que passou pelo clube. Cita Derval (goleiro), Rabelo “Carne Assada”, Batistão, Jejeca, Marianinho, Arel, Reginaldo Menezes, Mucurão, Coelho, Nélio, Moraes, Edson Moraes, Rego, Nonato, Xavier (Peru), Laxinha, Durvalino, Nunes, Kid, Calazans, Zé Ferreira, Cural e outros. “Muita gente passou pelo MAC e eu fui ficando. Acabei me tornando o líder do time. Pena que não tenha conseguido o título. O máximo que alcancei foi ser vice-campeão nas temporadas de 1956/57”, relembra.

No final de 1957, aconteceu uma coisa marcante na vida de Serra. Por não concordar em pagar pensão alimentícia à mulher que vivia com ele na época, acabou sendo predo em uma quarta-feira. No domingo o MAC iria jogar com o Moto. Deram um jeito de soltá-lo momentos antes da partida. Veio a vitória por 4x1. Cural e Moraes fizeram i gol cada e Serra fez dois. O gol do Moto foi de Aracatu. É evidente que depois do feito ele foi posto em liberdade.

Em 1958, “Pano de Barco” trocou o MAC pelo Sampaio Corrêa. Juntamente com Fernando Pernambucano, Vadinho, Peu, Zé Carlos “Barca Furada”, Jereba, Milson Cordeiro, Zé Raimundo, Macaco, Nonato Cassas, Canhotinho, Regino e outros, deu muitas alegrias à torcida sampaína. “Serra era cheio de molecagem nas concentrações. Gostava de andar engomadinho e adorava cantar em castelhano. Fazia coleções de revistas e dizia que era um artista. Nós o chamávamos de La Sierra por conta disso tudo”, relembra Milson Cordeiro, companheiro no Sampaio.

Em 1961 o Sampaio Corrêa foi campeão estadual. Serra jogou apenas o primeiro turno porque foi negociado com o Auto Esporte do Piauí e chegou a ser vice-campeão estadual e jogou na seleção piauiense.

Em 1962 retornou a São Luís e jogou no Graça Aranha Esporte Clube (GAEC), que havia subido da primeira divisão para a divisão especial. Um ano depois, foi tentar a sorte no Madureira do Rio de Janeiro, quando já estava com 32 anos de idade. “Era difícil tentar a sorte nessa idade. Uma ótima experiência que infelizmente não deu certo”. Em 1965 Serra voltou novamente a São Luís, como técnico do GAEC. Implantou o sistema tático 4x2x4 e chegou a ser campeão de um torneio chamado “Torneio da Morte”. Gostou da experiência e acabou dirigindo por vários anos equipes profissionais de São Luís, Teresina e seleções de cidades do interior do Maranhão que participavam do Torneio Intermunicipal.

Ferroviário Esporte Clube em 1976

Belo registro da equipe do Ferroviário Esporte Clube em Janeiro de 1976.


Lourival "Bazar de Barulho"

Sampaio Corrêa em 1955: Neto Peixe Pedra, Lourival e Pipira

Matéria de Edivaldo Pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão, de 26 de Junho de 2000

Lourival é da época em que jogar futebol era sinônimo de paixão pelo esporte e pelo clube que defendia. Ninguém se tornava profissional. Ganhar dinheiro, só como atleta “amador marrom”, o suficiente para tomar umas e outras cervejas com os companheiros após cada partida. Com pouco mais de 1m60 e 59 quilos, esse ponteiro tinha muita coragem, habilidade e técnica: impunha respeito aos adversários. Batia mais do que apanhava. Dentro e fora de campo sempre foi casqueiro. Adorava uma boa briga. Ao longo dos seus quase 72 anos de vida, ganhou alguns apelidos que condizem com a sua personalidade: “Prejuízo”, “Consumição”, “Loló da Bolívia” e o mais marcante de todos, “Bazar de Barulho”.

Lourival começou nossa conversa demonstrando sua antiga paixão pela bola. “Tem dia que acordo com uma vontade danada de bater uma bolinha. Depois da minha família, a bola foi a minha maior paixão”. De cara dá pra perceber que para ele o outros da época jogar futebol era puro prazer. O atleta procurava honrar a camisa que vestia. Ao contrário dos dias atuais, o nome do clube estava à frente de qualquer interesse, fossem eles financeiros ou políticos. Com algumas exceções, todos trabalhavam e saiam direto do serviço para o campo. Não pera permitido o uso do “regra três”, ou seja, o reserva. Apenas onze atletas faziam parte da equipe. Quem se machucasse durante uma partida, adoecesse ou faltasse ao jogo por qualquer motivo, desfalcava o grupo. “Nós tínhamos que ser bons de bola e responsável. Todos dependiam de todos”, complementa.

Lourival foi uma pessoa que nunca frequentou uma cadeira de escola, Não saber ler nem escrever, mas que teve a dignidade de criar onze filhos e, a exemplo da vida atlética, ser um vencedor no dia a dia. A luta pela vida começou quando ele tinha oito anos de idade. Morava com mais quatro irmãos menores e os pais Teotônio José Ferreira e Amazília Rosa Ferreira em um sítio na Maioba – onde nasceu, no dia 15 de Dezembro de 1928. Pegava as frutas no quintal de casa e saía a pé até o Anil para vendê-las. Foi por lá que deu os primeiros toques em bolas de meia, depois de bexiga, até chegar a de couro.

Dois anos depois veio morar com a família na Rua Paulino de Souza, no Bairro do Matadouro. “Eu não tinha registro de nascimento quando morava na Maioba. Só fui registrado quando cheguei no Matadouro; Isso era um acontecimento comum da época”, disse Lourival.

Com uma personalidade forte, foi se destacando em peladas de futebol batidas no Matadouro. Quando estava com 12/13 anos de idade, a família foi morar no Bairro do João Paulo. Se enturmou com Misael, Benedito, Zé Rocha e Leônidas, todos jogadores do Vitória do Mar e o Canto do Rio do João Paulo. “Não demorou muito e eu estava vestindo a camisa do Canto do Rio juntamente com eles”, lembra.

No início gostava de jogar na meia ou ponta direita. Se orgulha quando diz que era pequeno, mas não se amedrontava com o tamanho dos seus marcadores. Casqueiro, arrumava confusão para si e para os companheiros. Jogava o tempo inteiro falando, orientando os companheiros e provocando os adversário. Tinha um excelente toque de bola, além de ser ligeiro e chutar bem a gol. “Eu não via a hora de chegar o domingo. Depois de uma semana inteira de batalho, jogar bola me relaxava, Até brigar era bom. Chegava em casa leve e pronto para mais uma semana de dureza”.

Por jogar bem, foi convidado para trabalhar como colaborador de ônibus na linha que fazia São José de Ribamar/São Luís. Em troca defendia o Ribamar. Ele lembra de um clássico da confusão entre Ribamar x São Cristóvão. “Dificilmente o jogo terminava. As cascarias acabavam antecipando o final em forma de briga”, frisa. Do lado do time de Ribamar os dois melhores eram Lourival e Neto Peixe Pedra. No São Cristóvão se destacava Gedeão Matos (hoje coronel da PMMA). Paralelo ao campeonato ribamarense, Lourival jogava no Bacuritíua e depois defendeu o Onze da Ilha.

Em 1950/51, quando estava com 22 para 23 anos de idade, Lourival foi levado para fazer um teste no Sampaio Corrêa, time que sempre torceu. Jogou bem e foi aprovado. Por lá encontrou só feras: Baltazar; Cid e Serejo; Reginaldo Mucurão, Jejeca e Decadela;, Boninho, Duó, Geovane, Albano e Zé Pequeno. “Era um timaço! Ficava sem acreditar que iria fazer parte dele. Um sonho realizado. Imagina que eu ainda iria receber um bom dinheiro para jogar no time do meu coração. Minha vida se transformou em pura alegria”, relembra com emoção.

Em 1952 Lourival e toda a equipe do Sampaio Corrêa tiveram que se render ao imbatível Vitória do Mar, que acabou conquistando o único título estadual durante toda a sua existência.

Em 1953 e 1954 só deu Sampaio Corrêa. “Foi uma fase maravilhosa. Fui seleção maranhense e aceitei uma proposta para jogar no Moto Club. Eu ganhava 300 réis no Sampaio e o Papão me ofereceu 2 contos de réis, muito dinheiro. Não pude recusar”.

Em 1955 e 1956 Lourival levantou outro bicampeonato pelo Moto Club, juntamente com Nabor, Zezico, Walber Penha, Baezão e outros craques. Em 1857 a torcida sampaína exigiu a volta dele ao clube. Mesmo assim foram quatro anos de jejum. O Ferroviário ficou com o bicampeonato em 1957/58 e o Moto em 1959/60. As alegrias só voltaram em 1961/62, quando o Sampaio conquistou outro bicampeonato, Lourival estava lá.

Em 1963, quando estava prestes a completar 35 anos de idade, largou o futebol e foi trabalhar como vigia portuário. “Encerrei minha carreira e nunca mais joguei bola, nem peladas. Hoje recordo, com um imenso prazer, alguns nomes com quem joguei no Sampaio Corrêa. São amigos inesquecíveis: Terrível, Cacaraí, Wallace, os coronéis Gedeão Matos, Bebeto e Xavier (Peru), Reginaldo Almeida, Jozafá, Qui Qui Qui (García), Reginaldo Mucurão, Almério, Canhotinho, Chamorro, Biné, Nonato Cassas, Pedro Baa, Neto Peixei Pedra, Enêmer, Ceará, Zé Ferreira, Pipira, Chico Preto, Milson Cordeiro e outros”.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Juizes maranhenses no quadro nacional em 1976

Matéria interessante do Jornal O Estado do Maranhão, de 09 de Julho de 1976, sobre os árbitros maranhenses indicados para o quadro nacional no ano de 1976.

Nacor Arouche

Movimentando a nossa equipe de reportagem, conseguimos apurar extraoficialmente que o COBRAF já tem em mãos, pronta para enviar à Federação Maranhense de Desportos, a relação dos cinco nomes dos árbitros que irão integrar o quadro nacional para os jogos do Campeonato Brasileiro de Futebol.

Segundo notícias colhidas junto àquele órgão, foi encaminhado expediente ao senhor Diretor do Departamento de Árbitros da FMD, Dr. José Ruy Salomão Rocha, solicitando imediatamente o Curriculum Vitae dos seguintes juízes, integrantes do quadro local: Wilson de Moraes Van Lume, Josenil Souza, José Salgado, Nacor Arouche e Roberval Castro.

Sendo assim, se por toda esta semana por confirmada a notícia, ficarão de fora os senhores Francisco Souza, Claudionor Lopes e Jamil Gedeon Filho, que o ano passado pertenciam ao quadro nacional, permanecendo, entretanto os senhores Van Lume e José Salgado.

Dentre os novos integrantes do quadro nacional, o nome do senhor Roberval Castro se constitui uma surpresa em meio aos desportistas locais, mesmo considerando-se que o referido juiz teve uma rápida ascensão no decorrer do ano passado, tendo dirigido com acerto alguns clássicos do certame de 75.

Josenil Souza foi outro árbitro que se projetou na presente temporada, surgindo como uma das promessas do atual quadro de juízes da FMD, e sua indicação vem servir de incentivo àqueles que pretendem ingressar na difícil carreira.

Quanto a Nacor Arouche, não há nada a acrescentar, ainda que alguns companheiros só tenham criticado severamente após conturbado encontro entre Sampaio Corrêa e Maranhão, atirando-lhe sobre os ombros a responsabilidade atual do tumulto.

Toda a imprensa especializada reconhece as qualidades de Nacor Arouche, sem dúvida alguma, tecnicamente, o melhor juiz do nosso futebol, com uma passagem brilhante na Federação Cearense e por demais conhecido por suas boas atuações em todos os gramados do Nordeste.

O senhores Lercílio Estrela e Renato Rodrigues deixaram de participar da lista, naturalmente, porque o primeiro se desligou deliberadamente do quadro local e o segundo somente se reintegrou ao Departamento este ano, exercendo suas funções o ano passado em Teresina.

 Van Lume

 José Salgado

 Josenil Souza