sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Desembarque dos novos jogadores do Sampaio Corrêa em 1974


Em 1974 o Sampaio Corrêa foi o representante maranhense no Campeonato Nacional, após uma campanha vergonhosa do Moto Club no ano anterior na competição. O Presidente boliviano foi ao Sul do país buscar alguns bons reforços para a competição e no dia 01 de Fevereiro de 1974 parte do elenco Tricolor desembarcou no Aeroporto do Tirirical. A seguir, deixo trechos do Jornal O Estado do Maranhão, destacando sobre a chegada dos atletas bolivianos em São Luís.

Finalmente esta tarde estarão desembarcando em nossa capital, por volta das 13h30, viajando pela VASP, o novo time do Sampaio, a equipe de maior torcida do Estado, e que será recebido com Escola de Samba, faixas, algazarra e grande parte da torcida, que realizará verdadeiro carnaval pelas principais ruas da capital com foguetes, que não serão soltados ao Aeroporto do Tirirical, devido à proibição por parte da Aeronáutica, face dos depósitos de gasolina para avião ali existentes.

Virão em companhia do Presidente Nonato Cassas o arqueiro Orlando, que iniciou a sua carreira no São Cristóvão e acabou de se formar na Portuguesa de Desportos; Arizinho, zagueiro da Ponte Grossense; Marinho, zagueiro do Coritiba; Santos, zagueiro da Portuguesa de Desportos; Lourival, meio-campo do São Paulo; Buião, ponteiro-direito do Corinthians; Lucas, ponteiro-direito do São Paulo; Silva, centroavante da Portuguesa de Desportos; Ailton, ponteiro-esquerdo do Nacional de São Paulo; Benazi, lateral-direito dos juvenis da Portuguesa de Desportos; além de treinador Alfredo González e do preparador físico Gualter Aguirre. Lorico, Marão, Nandes e Jorge Luis chegarão somente na próxima semana e Raimundo desembarcou esta semana, viajando pela Trans-Brasil. 

02 de Fevereiro de 1974






Enfrentando uma chuva miúda, mas com muita animação, milhares de torcedores do Sampaio recepcionaram ontem no Tirirical os novos jogadores da equipe boliviana contratados no Sul do país. Desde cedo vários ônibus foram colocados à disposição da torcida que às 13 horas já lotava completamente a Estação de Passageiros do Aeroporto, transformado em um improvisado salão onde, ao som de marchas carnavalescas e sobretudo do hino do clube, os torcedores faziam ruidosa manifestação à espera do aparelho da VASO. À medida que se aproximava a hora prevista para o desembarque (13:30), aumentava o número de torcedores, quase sempre identificados pela camiseta Tricolor ou pelas bandeiras que apareciam agitadas em todos os cantos pelas ruas onde mais tarde passaria o ônibus que conduzia a delegação à nova sede do clube.

À falta de um melhor serviço de orientação do trânsito, o estacionamento ficou difícil para se transformar em grande engarrafamento quando todos deixavam o aeroporto. Como havia muita gente, foi pedido um policiamento reforçado da PME, que chegou sem tempo de evitar a invasão da pista de pouso e muito menos de controlar o trânsito.

Como chegaram dois aviões da VASP ao mesmo tempo, a confusão se generalizou, já que ninguém sabia ao certo qual dos dois conduzia a delegação. Finalmente alguém gritou: “É aquele lá atrás... Lá vem eles” e foi o suficiente para que dezenas de pessoas rompessem cordões de isolamento. O avião parou cerca de cem metros da estação e com muitas dificuldades os jogadores chegaram até o ônibus, que por medida de segurança já estava estacionado na pista. Na confusão que se formou, quase ninguém se entendeu e muito menos identificou os jogadores aparentemente calmos e se esforçando para atender aos jornalistas e torcedores que conseguiram se aproximar, mas muito atento às ordens que recebiam do presidente, que recebia cumprimentos de dirigentes e companheiros do clube e se desculpava por não poder atender a imprensa, preocupado em manter sempre à vista todos os jogadores e repetia: “Lá fora nós daremos as entrevistas. Tem muita gente aqui, Olha, não deixa ninguém se separara. Todo mundo ali, o ônibus está ali”.

Os jogadores, todos trajando roupas de esporte (um ou dois cabeludos), o técnico Alfredo González, o preparador físico Gualter Aguirre e o próprio presidente embarcaram no ônibus da empresa Araguarina, que deixou a pista saindo pelo portão de serviços do aeroporto e abriu caminhos no trânsito difícil de chegar à Avenida Santos Dumont. A torcida não parou de gritar “Sampaio, Sampaio” e cantar o hino, acompanhando uma escola de samba. Os jogadores acenavam para a torcida e pareciam já mais calmos e satisfeitos com a recepção.

Não se dando por satisfeita, grande parte da torcida seguiu o ônibus organizando um cortejo que foi do aeroporto percorrendo a avenida que dá acesso à Cohab e chegando à sede do Turu. Os jogadores desembarcaram protegidos por alguns funcionários do clube e o capitão Gedeon, da PME, que com muita dificuldade conseguiu manter as portas fechadas, De instante em instante a porta era forçada e alguns jogadores conseguiam entrar. Alguns privilegiados torcedores mais ligados à torcida tinham acesso, o que aumentava a revolta dos que ficavam barrados. Um rapaz furou o cerco e entrou. Reconheceu o goleiro Orlando. Estendeu a mão e, mostrando a camisa suada, disse: “Esta é a camisa do nosso time. Você vai ver a torcida, é como a do Flamengo”.

De modo geral, a recepção ficou prejudicada pela falta de um melhor serviço de segurança e organização do tráfego. Os dirigentes do clube mostravam-se surpresos e esclareceram: “Não esperávamos tanta gente com essa chuva toda”. A confusão foi tão grande que só ao chegar na sede os dirigentes sentiram falta das bagagens. Não houve tempo para receber e somente algumas horas depois chegavam os 26 volumes dos 14 integrantes da delegação. Todos vieram para uma temporada de onze meses e com contrato assinado.

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