Matéria de Edivaldo Pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão, em 12 de Outubro de 1998
Moto Club em 1963. Em Pé: Bacabal, Baezão, Omena, Gojoba, Carvalho e Português; Agachados: Zezico, Laixinha, Hamilton, Nabor e Ananias
Em 1963 o Moto Club montou um super time. O técnico era Rinaldi Maia. Nas preleções, que aconteciam antes de casa partida do Campeonato Estadual, era comum ele afirmar que queria no time um goleiro e mais 10 Baezão. Uma referência do professor ao lateral que jogava com garra, determinação e amor pela camisa rubro-negra. Tanto que todos os times ou queriam tê-lo do mesmo lado ou tremiam, por respeitá-lo com um “jogador que não abria nem para o trem”. Por 16 anos foi assim. O garoto do subúrbio passou a ser falado por jornalistas, radialistas e torcedores e hoje faz parte da história do futebol maranhense.
A história de Baé é igual a de tantos outros garotos que insistiram em jogar a década de 40 Os pais não queriam que ele se envolvesse profissionalmente com a bola. Eles eram pobres e mantinham a esperança de ver os filhos estudando para um dia “serem alguém na vida”. A brincadeira não parou. O apelido que o consagrou foi dado por um vizinho, quando ele e a família moravam na Floresta, bairro que hoje é conhecido como Liberdade. “Não me lembro o nome desse vizinho. O que sei é que, quando eu tinha sete para oito anos de idade, ele me disse que eu parecia um Baé (um porquinho novo e gordinho). Como não gostei do apelido e ficava zangado quando me chamavam assim, a coisa pegou de tal forma que até hoje ninguém sabe meu nome verdadeiro, explica Simão Vieira dos Santos.
Mesmo apaixonado por futebol, Baé teve que seguir os conselhos do pai e já aos 13 anos de idade trocou as peladas de tua pelos estudos e trabalho. “Minha adolescência foi dura. Estudava pela manhã, ia aprender uma profissão em uma oficina à tarde e à noite minha mãe me colocou em um colégio particular. Era fogo”. Aos domingos Baé acompanhava Zé Baiano (irmão mais velho) nos jogos do São Marcos da Floresta. Era goleiro. O irmão jogava e Baé sonhava um dia ser profissional da bola, mesmo contrariando a vontade dos pais. O tempo foi passando e aos 17 anos de idade, depois de concluir o curso ginasial (o equivalente hoje ao primeiro grau), Baé teve que abandonar os estudos para trabalhar e ajudar no orçamento familiar. “O meu lazer passou a ser as peladas jogadas descalças no time da Floresta que era do Zé Maria Jabota. Por lá fiquei pouco tempo até chegar no Aliados”. O Aliados era o time principal da Floresta. Ele representou o bairro no Campeonato Amador da Ilha em 1949. Eram 24 equipes disputando a competição. A final foi numa melhor de dois jogos contra o Flamengo do Monte Castelo. “Me lembro bem como se fosse hoje esses dois jogos. Eles foram disputados no campo do Moto (Estádio Santa Izabel). No primeiro, a arrecadação ultrapassou os 1.500 réis. Era dinheiro muito. Nosso uniforme era igual ao do Fluminense e o deles era idêntico ao Flamengo do Rio. As torcidas faziam o carnaval. Fizemos 2x0. Eles diminuíram e empataram no finalzinho do segundo tempo. Foi uma grande festa e só terminou uma semana depois.
Começava assim a carreira gloriosa de um dos principais jogadores do nosso futebol. No ano seguinte (1950) Baé ingressou no Quartel e foi jogar no famoso General Sampaio, do 24 BC. Foi bicampeão por lá (1950/51). Depois que deu baixa no quartel, saiu decidido a jogar futebol profissionalmente. “Eu não era técnico. Tinha muita raça, vontade e determinação. Espantava tudo ali atrás. Comecei jogando de cabeça de área e depois fui para a lateral-direita e zaga-central. Aprendi a ser disciplinado no quartel e levei isso para o campo. Estava pronto para seguir no profissionalismo. O Vitória do Mar e o Moto me queriam. Eu disse que iria para quem me arrumasse um serviço seguro com carteira assinada e tudo o que tinha direito”. Na época do quartel o Tenente Valdir Rocha Sales era vice-presidente do Moto. Foi ele quem indicou Baé ao Presidente César Aboud. “Me empregaram na Fábrica Santa Izabel como vigia. Eu trabalhava de manhã, treinava à tarde e jogava à noite. Ganhava 200 mil réis e era feliz”.
A estreia no Moto foi contra o MAC, com uma vitória por 3x0. Daí pra frente seguiram-se 16 anos de muitas lutas e conquistas. “Durante esse tempo ainda joguei emprestado algumas partidas pelo Sampaio Corrêa, mas sempre retornando ao Papão”.
Muita gente ainda comenta sobre a forma como o Presidente César Aboud gritava da torcida quando o Moto começava uma partida perdendo. Ele dizia: “fecha a porta, Baé”, como se estivesse falando com o porteiro da Fábrica Santa Izabel. E dava certo. A partir daí o jogador não deixava mais oo ataque adversário funcionar e o Moto sempre mudava o jogo com uma vitória.
Em 1955 o clube foi campeão em cima do MAC com um gol de Baezão, segundo ele, “uma conquista inesquecível”. Foi nesse campeonato que o chamaram de Beque central de ferro – aquele que enverga, mas não quebrava. Em 1956 veio o bicampeonato. Outro bi foi conquistado em 1959/60. “No tricampeonato de 1966/67/68, mesmo na reserva e em fim de carreira, eu participei de mais essa conquista”.
Assim que o Moto contratou Baezinho, o grande Baé, inspirador do mais novo, passou a ser chamado de Baezão. “Esse novo apelido foi dado pelo locutor Jafé Mendes Nunes. Era uma maneira de diferenciar eu e Baezinho”.
Era comum equipes paulistas e cariocas virem jogar em São Luís nos meses de Outubro e Novembro de cada ano, depois que encerravam seus campeonatos. “Os clubes buscavam grana e mantinham o grupo em atividade”. Baezão teve seu passe pretendido pelo Atlético Mineiro, Santa Cruz de Recife e Paysandu. “Seu Salomão Mattar, diretor de futebol do Moto na época, estipulou o meu passe em 120 mil réis. O Atlético Mineiro chegou a oferecer 80 mil. Ele não quis. Estava bem empregado e não ia arriscar tudo depois que casei aos 22 anos de idade e já era responsável pela minha família”.
Baezão parou de jogar em 1968, quando já estava com 37 anos de idade, Continuou no Moto até 1970, como massagista, mesmo sem ter curso especializado. “Foi com muita tristeza que no dia 31 de Dezembro de 1970 recebi a notícia que a Fábrica Santa Izabel iria fechar. Foi decepcionante. O Dr. César Aboud me levou para ser massagista do Jaguarema. Um ano depois Cláudio “Alemão” Vaz pediu minha contratação. Por lá fiquei até 1976. Nesse mesmo ano fui transferido para a Coliseu, onde me aposentei em 1989”.
A história de Baé é igual a de tantos outros garotos que insistiram em jogar a década de 40 Os pais não queriam que ele se envolvesse profissionalmente com a bola. Eles eram pobres e mantinham a esperança de ver os filhos estudando para um dia “serem alguém na vida”. A brincadeira não parou. O apelido que o consagrou foi dado por um vizinho, quando ele e a família moravam na Floresta, bairro que hoje é conhecido como Liberdade. “Não me lembro o nome desse vizinho. O que sei é que, quando eu tinha sete para oito anos de idade, ele me disse que eu parecia um Baé (um porquinho novo e gordinho). Como não gostei do apelido e ficava zangado quando me chamavam assim, a coisa pegou de tal forma que até hoje ninguém sabe meu nome verdadeiro, explica Simão Vieira dos Santos.
Mesmo apaixonado por futebol, Baé teve que seguir os conselhos do pai e já aos 13 anos de idade trocou as peladas de tua pelos estudos e trabalho. “Minha adolescência foi dura. Estudava pela manhã, ia aprender uma profissão em uma oficina à tarde e à noite minha mãe me colocou em um colégio particular. Era fogo”. Aos domingos Baé acompanhava Zé Baiano (irmão mais velho) nos jogos do São Marcos da Floresta. Era goleiro. O irmão jogava e Baé sonhava um dia ser profissional da bola, mesmo contrariando a vontade dos pais. O tempo foi passando e aos 17 anos de idade, depois de concluir o curso ginasial (o equivalente hoje ao primeiro grau), Baé teve que abandonar os estudos para trabalhar e ajudar no orçamento familiar. “O meu lazer passou a ser as peladas jogadas descalças no time da Floresta que era do Zé Maria Jabota. Por lá fiquei pouco tempo até chegar no Aliados”. O Aliados era o time principal da Floresta. Ele representou o bairro no Campeonato Amador da Ilha em 1949. Eram 24 equipes disputando a competição. A final foi numa melhor de dois jogos contra o Flamengo do Monte Castelo. “Me lembro bem como se fosse hoje esses dois jogos. Eles foram disputados no campo do Moto (Estádio Santa Izabel). No primeiro, a arrecadação ultrapassou os 1.500 réis. Era dinheiro muito. Nosso uniforme era igual ao do Fluminense e o deles era idêntico ao Flamengo do Rio. As torcidas faziam o carnaval. Fizemos 2x0. Eles diminuíram e empataram no finalzinho do segundo tempo. Foi uma grande festa e só terminou uma semana depois.
Começava assim a carreira gloriosa de um dos principais jogadores do nosso futebol. No ano seguinte (1950) Baé ingressou no Quartel e foi jogar no famoso General Sampaio, do 24 BC. Foi bicampeão por lá (1950/51). Depois que deu baixa no quartel, saiu decidido a jogar futebol profissionalmente. “Eu não era técnico. Tinha muita raça, vontade e determinação. Espantava tudo ali atrás. Comecei jogando de cabeça de área e depois fui para a lateral-direita e zaga-central. Aprendi a ser disciplinado no quartel e levei isso para o campo. Estava pronto para seguir no profissionalismo. O Vitória do Mar e o Moto me queriam. Eu disse que iria para quem me arrumasse um serviço seguro com carteira assinada e tudo o que tinha direito”. Na época do quartel o Tenente Valdir Rocha Sales era vice-presidente do Moto. Foi ele quem indicou Baé ao Presidente César Aboud. “Me empregaram na Fábrica Santa Izabel como vigia. Eu trabalhava de manhã, treinava à tarde e jogava à noite. Ganhava 200 mil réis e era feliz”.
A estreia no Moto foi contra o MAC, com uma vitória por 3x0. Daí pra frente seguiram-se 16 anos de muitas lutas e conquistas. “Durante esse tempo ainda joguei emprestado algumas partidas pelo Sampaio Corrêa, mas sempre retornando ao Papão”.
Muita gente ainda comenta sobre a forma como o Presidente César Aboud gritava da torcida quando o Moto começava uma partida perdendo. Ele dizia: “fecha a porta, Baé”, como se estivesse falando com o porteiro da Fábrica Santa Izabel. E dava certo. A partir daí o jogador não deixava mais oo ataque adversário funcionar e o Moto sempre mudava o jogo com uma vitória.
Em 1955 o clube foi campeão em cima do MAC com um gol de Baezão, segundo ele, “uma conquista inesquecível”. Foi nesse campeonato que o chamaram de Beque central de ferro – aquele que enverga, mas não quebrava. Em 1956 veio o bicampeonato. Outro bi foi conquistado em 1959/60. “No tricampeonato de 1966/67/68, mesmo na reserva e em fim de carreira, eu participei de mais essa conquista”.
Assim que o Moto contratou Baezinho, o grande Baé, inspirador do mais novo, passou a ser chamado de Baezão. “Esse novo apelido foi dado pelo locutor Jafé Mendes Nunes. Era uma maneira de diferenciar eu e Baezinho”.
Era comum equipes paulistas e cariocas virem jogar em São Luís nos meses de Outubro e Novembro de cada ano, depois que encerravam seus campeonatos. “Os clubes buscavam grana e mantinham o grupo em atividade”. Baezão teve seu passe pretendido pelo Atlético Mineiro, Santa Cruz de Recife e Paysandu. “Seu Salomão Mattar, diretor de futebol do Moto na época, estipulou o meu passe em 120 mil réis. O Atlético Mineiro chegou a oferecer 80 mil. Ele não quis. Estava bem empregado e não ia arriscar tudo depois que casei aos 22 anos de idade e já era responsável pela minha família”.
Baezão parou de jogar em 1968, quando já estava com 37 anos de idade, Continuou no Moto até 1970, como massagista, mesmo sem ter curso especializado. “Foi com muita tristeza que no dia 31 de Dezembro de 1970 recebi a notícia que a Fábrica Santa Izabel iria fechar. Foi decepcionante. O Dr. César Aboud me levou para ser massagista do Jaguarema. Um ano depois Cláudio “Alemão” Vaz pediu minha contratação. Por lá fiquei até 1976. Nesse mesmo ano fui transferido para a Coliseu, onde me aposentei em 1989”.
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