sábado, 28 de setembro de 2013

César “industrial, político, desportista” Aboud, eterno Presidente do Papão do Norte

Fragmentos extraídos do livro "Memória Rubro-Negra: de Moto Club a Eterno Papão do Norte".

César boud

Acreano de nascença, maranhense de criação – e por que não dizer de coração? Quando se fala em alguém que tenha trabalhando tanto e em diferentes áreas em nosso Estado (e em prol dele), sobretudo na industrial e na política, automaticamente vem à cabeça o nome do ex-governador, um dos fundadores do Moto Club de São Luis e dono da extinta Fábrica de Tecidos Santa Isabel, durante anos um dos principais pilares da economia maranhense. A fábrica constituiu-se apenas em um dos braços do império que a família Aboud montou na capital e que envolvia a posse de dezenas de áreas e prédios habitacionais e comerciais. Junto com o seu irmão, Alberto Aboud, fundou um império de empresas em São Luis e pertencia a uma família tradicional do Estado e descendente de libaneses. Esse era César Alexandre Aboud, nascido no dia 23 de Fevereiro de 1910 e falecido, aos 84 anos, em 20 de Agosto de 1996. Foi um jovem senhor que conseguiu ser ao mesmo tempo comerciante, industrial, político, esportista, maçom, rotariano e líder empresarial. César foi um dos principais fundadores do Moto Club. Foi, também, o responsável pela inclusão do time motense na modalidade de futebol. Ficou na história rubro-negra pelo seu trabalho e dedicação na tentativa de colocar o Moto entre as grandes associações do desporto maranhense. César Aboud emprestou, substancialmente, a lucidez de sua inteligência administrativa, tornando o poderoso rubro-negro em um dos mais temíveis clubes de futebol das praças gonçalinas, na época em que nosso esporte sofria visível decadência em seu plantel. Debaixo de sua diretriz, conseguiu ao fim de pouco tempo elevá-lo à condição de onzena respeitável em todo o território nacional.

No começo do século XX, a viúva Júlia Drubi, acompanhada dos filhos Jorge e Rajy Nahoun, desembarcavam na cidade do Rio de Janeiro, vindos do Líbano. Assim como a grande maioria dos descendentes libaneses da época – e mantendo a tradição da união somente entre casais sírio-libaneses, dona Júlia conheceu, na Cidade Maravilhosa, o libanês Alexandre Aboud, com o qual se casou. A vontade de vencer na vida, uma das principais características dos libaneses no continente americano, fez com que Alexandre e Júlia partissem, no ano de 1907, para a cidade acreana de Cruzeiro do Sul, onde nasceram os três primeiros filhos – Eduardo, Vitória e César. Quando César estava com 2 anos, os pais, em 1912, se transferiram para o maranhão, a convite de Wady, Manih e Felipe, irmãos de Alexandre, que trabalhava no comércio. Na capital maranhense, César foi alfabetizado e passou a estudar no Colégio Marista, onde fez o curso primário. Contudo, um fato mudou o rumo da família Aboud: o seu pai Alexandre, estabelecido na cidade de Pinheiro, onde trabalhava no comércio, veio a falecer. César e família, então, mudaram-se para Buenos Aires, em 1920. Na Argentina, César começou a trabalhar como transportador de mercadorias na firma José Gassard, para ajudar a mãe na manutenção da família. Em 1922, Dona Júlia e os filhos já estavam de volta ao Brasil, a convite do seu tio, Many. Em São Luis, César foi estudar no Colégio Gilberto Costa e empregou-se na firma Chames Aboud, onde viajava pelo interior do Estado, convencendo os comerciantes a comprarem as suas mercadorias, especialmente tecidos. A partir daquele emprego, o gosto pelo trabalho se enraizou na alma e no corpo de César, que, mesmo trabalhando, não abandonou os estudos.

Inclinado para a atividade empresarial, matriculou-se no Centro Caixeiral, por onde diplomou-se contador, em 1926. Mudou-se, em seguida, para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar na empresa Many Aboud e Companhia, da qual César e o irmão Alexandre se associaram, e cuja atividade principal era importar do Maranhão arroz e babaçu e colocar no mercado sulista. Em seguida, casou-se, em 23 de Julho de 1933, cidade de São José (SC), com a catarinense Ruth, irmã da esposa de Many, e com quem teve as filhas Nazi (adotiva), Maria Ruth, Ana Maria, Júlia Flávia e Cristina. A empresa Many Aboud e Companhia estava em expansão quando, inesperadamente, em 1938, César voltou para São Luis e colocou em ação toda a experiência profissional adquirida na Companhia Industrial Mineira, por onde trabalhou durante um ano antes do seu retorno à capital maranhense. A Fábrica Santa Isabel, de propriedade de Nhozinho Santos, não atravessava uma boa situação financeira e decretou falência em 1935; foi comprada em 1938 pelos novos acionistas, os Aboud. César foi convocado para gerenciá-la, passando a residir no casarão colonial da Rua Oswaldo Cruz. Após morar na Rua Grande com a sua família, essa foi a primeira residência de César sem a sua família. Em virtude das dificuldades geradas pela Segunda Guerra Mundial, foi imediatamente deflagrado um trabalho para a recuperação da Fábrica Santa Isabel, com a importação de equipamentos vindos da Europa. Em pouco tempo a fábrica já apresentava uma nova linha de produção, que ia do riscado, seu principal artigo, à produção de novos tipos de tecidos, como a lona, morim, brim, mescla, xadrez, etc. Sob o comando de César, a fábrica tornou-se uma das indústrias mais sólidas e conceituadas do país, exportando seus tecidos até para o estrangeiro.

Um esportista nato. Assim era César Aboud. A sua forte personalidade ligada ao esporte veio desde a infância, onde o box e o futebol, ao longo da vida, constituíram-se duas fervorosas paixões. O box, por exemplo, César praticou durante a estadia da sua família na capital Buenos Aires. Quanto ao futebol, aos 4 anos de idade já tinha organizado em São Luis um time, o Botafogo, que saía pela cidade a desafiar a garotada que jogava bola. Na adolescência, fez parte do Esporte Clube Sírio Brasileiro, formado à base de descendentes libaneses, do qual era dirigente e jogador (lateral direito). Anos mais tarde, após uma dissidência no Sírio Brasileiro, César chegou ao Maranhão Atlético Clube, onde foi técnico. Em 1939 a sua fama de esportista já ganhava repercussão, fato que lhe rendeu um convite do capitão do exército, Vitor Santos, para dirigir o Moto Club de São Luis. No rubro-negro, César Abou dedicou nada menos do que 15 anos da sua vida como Presidente. Durante o seu mandato, o Moto conquistou 13, dos 16 títulos disputados no campeonato estadual.

Com o dinamismo que corria nas veias, procedeu mudanças e alterações no Moto, começando pelas cores da camisa, que de verde e branca passou para vermelho e preto, por causa do Flamengo. Reorganizou a estrutura do clube, ampliou o departamento de voleibol e basquete e reformou o estádio Santa Isabel, construindo arquibancadas, para dotá-lo de condições apropriadas para o exercício do bom futebol que se praticava no Maranhão. O plantel de jogadores era constituído da melhor qualidade técnica, pois os recursos para tal fim eram fornecidos pela Fábrica de Tecidos Santa Isabel, que mantinha o clube. Foi sob o comando de César Aboud que o Moto viveu seus maiores dias de glórias. Foi ele quem comandou o heptacampeonato (de 1944 a 1950), título que só o Moto possui no futebol maranhense e poucos times no cenário mundial têm. Graças à formação do elenco que possuía, o Moto passou a ser conhecido nacionalmente como Papão do Norte. Dos 19 títulos de campeão maranhense, César Aboud ganhou 13, como presidente do Conselho Diretor e do Conselho Deliberativo. A história do Moto está inteiramente ligada à família Aboud. Foram eles que, por mais de 20 anos, praticamente sustentaram o clube, desde alojamento, campos de futebol, títulos memoráveis e a célebre equipe dos anos 40, na inédita façanha do heptacampeonato, que até hoje envaidece a torcida rubro-negra.

Vítima de um acidente vascular cerebral na noite do dia 20 de Agosto de 1996, César Abou faleceu, aos 86 anos, após trinta dias internado na UTI do hospital São Domingos, deixando de luto a família rubro-negra e o futebol maranhense. O corpo foi enterrado no setor dos Cravos do Cemitério Jardim da Paz, na estrada de Ribamar. Sobre o caixão foi colocada uma camisa do Moto Club, fundado e presidido por Aboud por quase duas décadas. A sua última aparição pública havia sido no dia 13 de Setembro de 1995, quando foi homenageado pela passagem dos 58 anos de fundação do Papão. O Presidente José Raimundo Rodrigues lhe entregou uma placa de prata em sinal de agradecimento pelo muito que fez pelo rubro-negro.

FOTOS DE CÉSAR ABOUD

 Papão do Norte campeão maranhense em 1947: em pé – desconhecido, Santiago, Carapuça, Rui, Sandoval, Zuza, Waldemar, Walber, Frázio e César Aboud; agachados – Nêgo Luz (massagista), Galêgo, Mosquito, Pepê, Vinicius, desconhecido, desconhecido e Jaime

  Casarão onde César Aboud morou, ali no Canto da Fabril, próximo ao Ministério da Fazenda

  César Aboud

 César Aboud e Antônio Frazão, na década de 80

  César como goleiro do Rotary Club, na década de 40

  Arquibancadas do extinto Estádio Santa Izabel, construídas na gestão de César enquanto Presidente do Papão do Norte

 César Aboud quando era Presidente do Moto Club

  César, primeiro em pé, com o Moto tricampeão em 1947

 César sendo homenageado pelo então Presidente do Moto, José Raimundo Rodrigues, em 1995, no Nhozinho Santos

Enterro de César Aboud, em Agosto de 1996

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