quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Francisco de Assis Oliveira

Matéria de Edivaldo pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão.

Francisco de Assis Oliveira, ou simplesmente Assis, é um cearense que começou jogando como zagueiro de área e acabou de destacando como goleiro em equipes de ponta do futebol alencarino (Fortaleza) e maranhense (Moto, Sampaio Corrêa e Maranhão Atlético Clube). Parou de jogar há 17 anos, com 34 anos de idade, depois de se sentir magoado com uma atitude tomada por um dirigente do Moto Club. Ele fala disso e da paixão por futebol. Conta que se diverte quando senta com os amigos ou torcedores para relembrar fatos que marcaram a gloriosa carreira de atleta profissional.

Ele começou seus relatos relembrando de um golpe duro, sofrido pela falta de sensibilidade de um dirigente motense, que não cabe agora falar o nome. Golpe esse que o fez encerrar a carreira um pouco cedo, já que 34 anos, para goleiro, é a idade do amadurecimento, da credibilidade e da segurança. “Não parei com a bola, me pararam. Em um sábado de 1983, saí de casa para um treino recreativo no Moto. Íamos jogar contra o Sampaio no dia seguinte. Minha mulher não tinha nada para comer em casa e estava grávida. Firmei a ela que traria alguma coisa, antes de iniciar a concentração. Quando fomos concentrar, pedi para um diretor motense que me desse um vale para comprar comida e levar pra casa. Ele me garantiu que faria isso por mim e me pediu para concentrar tranquilamente. Jogamos e ganhamos do Sampaio Corrêa. Quando cheguei em casa, levei uma dura da minha mulher. Ela achou que eu havia esquecido do problema da falta do que comer. Expliquei tudo a ela e a partir desse fato lamentável, disse que não mais jogaria profissionalmente. Foi a maior desilusão que tive com o futebol. Não vou dizer o nome do diretor. Porém, ao ler esta reportagem, ele vai relembrar o fato desumano que cometeu”, desabafa de cabeça baixa o humilde goleio Assis.

Rapidamente ele muda de assunto e fala de sua vida. Assis nasceu em Fortaleza no dia 15 de Novembro de 1949. Começou a bater peladas descalço no Bairro Fluminense. Com 15 anos, já era zagueiro do aspirante do Campinense, time do bairro onde morava. Um dia o goleiro faltou e não tinha ninguém para substituí-lo. Falaram com ele e a partir dai a história do atleta mudou. “É aquela velha história, né? Fechei o gol e não me deixaram mais voltar a jogar na defesa. Aos poucos fui gostando e me adaptando à nova posição”. Aos 17 anos de idade, depois de jogar um ano no Campinense e outro no José de Alencar, Assis foi chamado para assinar com o Santa Cecília, equipe da Segunda Divisão do futebol cearense. Foram dois anos de muito aprendizado e de sonho. Ele sentia que era chegada a hora de se transferir para um grande clube ou então teria que parar de jogar para trabalhar e ajudar no sustento da família.

 Seleção Maranhense de 1970. Em pé: Assis (Moto), Nivaldo (Sampaio), Ribeiro (Moto), Neguinho (Sampaio), Gojoba (Sampaio) e Romildo (Moto); Agachados: Prado (Sampaio), Marcos do Boi (Moto), Sima (Moto) e Bero (Moto)

Por sorte e competência, Assis despertou o interesse do Fortaleza. “Era o início da realização de um sonho. Eles me contrataram por empréstimo por uma temporada. Infelizmente pouco joguei. No final do ano fiquei sabendo que um empresário maranhense por nome de Almir (Barca Furada) estava rodando a sede do Fortaleza à procura de um goleiro. Conversamos e depois de que o Antônio Bento Catanhede Farias, diretor do Moto Club, que também estava em Fortaleza, me viu jogar, acertamos a minha vinda para São Luis”.

Próximo de completar 20 anos de idade, com 1m78 de altura e 72 quilos, com fala de ter uma bola colocação, ser arrojado, dispor de uma excelente condição física, sair bem nas jogadas aéreas, orientar muito os companheiros da defesa e com muita vontade de vencer na vida. Assis desembarcou em São Luis em Novembro de 1969, juntamente com Oberdan, companheiro dele no Fortaleza. A data de estreia deles no Papão terminou sendo inesquecível. Aconteceu quando Assis completava 20 anos, dia 15 de Novembro de 1969. Era um jogo contra o Maranhão Atlético Club. “Comecei bem. Empatamos em 1x1. Hamilton fez para eles e o Carlos Alberto marcou para nós”. O Moto terminou perdendo o tetracampeonato justamente para o MAC.

Em 1970, Assis foi convocado para a seleção do ano do futebol maranhense. Ele jogou contra o Botafogo (RJ), que tinha Paulo César Cajú, Wendell, Zequinha, Roberto e companhia. De volta ao Moto, o grupo trabalhava pela reconquista do título. Assis, Paulo, Alzimar, Geraldo e Corrêa; Oberdan, João Bala e Carlos Alberto; Garrinchinha, Pelezinho e Ribamar. Com essa formação, o Moto ficou 26 partidas sem perder para ninguém. Porém, quis o destino que nenhum título estadual fosse conquistado no período de 1969/72.

 Assis no gol do Papão em Superclássico no Nhozinho Santos, em 1969

 Fortaleza x Moto, em 1970, no Presidente Vargas (PV), no Ceará

 Formação do Moto Club em 1971


De 1973 a 1983, Assis percorreu várias equipes. Jogou uma temporada no Fortaleza/CE (1973) e passou alguns meses no Guarani de Sobral. Depois voltou para São Luis e ficou no Sampaio Corrêa no primeiro semestre e no MAC no segundo semestre de 74. Em 1975, estava outra vez a defender as cores sampaínas e foi campeão estadual ao lado e Brito, Clécio e outros. De 1976 a 19878, assinou com o Ferroviário Esporte Clube. Foi vice-campeão no último ano de contrato Era reserva de Marcial. Em 1979, foi para o MAC. Os goleiros eram Marcelino, Assis e João Batista. Mais uma vez ele conquistou o título estadual. No Maranhão, Assis ficou até 1982. Em 83, se transferiu para o Moto e foi nessa época que aconteceu o desentendimento com o diretor do clube e o seu afastamento em definitivo do futebol profissional.

Formação do Moto Club em 1971

Assis não se preocupa em criticar os dirigentes. Ele afirma que os melhores com quem trabalhou foram Antônio Bento e Alberto Aboud do Moto. Os jogadores que o impressionaram em campo foram Djalma Campos, Hamilton, Alzimar, Gojoba, Pelezinho, Garrinchinha, Carlos Alberto, Riba e outros grandes amigos que teve. O espelho dele era Marcial, lenda no gol do Ferroviário e hoje treinador de goleiros do Sampaio Corrêa. Vendo, treinando, aplicando os conhecimento para defender os clubes por onde passava, foram os ingredientes para torna-lo um grande goleiro, fato reconhecido por ele. “Eu era um bom goleiro. Não tive a felicidade de ter mais sucesso porque na minha época não se tinha treinamentos específicos como hoje. Na verdade, os times não tinha nem campo para treinar normalmente”.
 

2 comentários:

  1. A foto da seleçao maranhense é de 1971,pois em 70 SIMA estava no piaui e marcos do boi no fortaleza.
    Ambos jogaram o nordestao daquele ano.

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  2. Bela reportagem. Artigo bem organizado.
    Não é saudosismo: décadas de 60,70 e 80 tínhamos muitos craques. Hoje não vemos mais nenhum jogador à altura dos daquela época. Parabéns pela reportagem.

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