Matéria de Edivaldo pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão.
Dizem que goleiro é a profissão mais maldita da fase da terra. Raimundo Nonato Matos de Abreu, o Bacabal, não tem motivo nenhum para acreditar nisso. A “maldição” se transformou em glória e esse goleiro, que fechou o gol do Moto Club, América (Fortaleza) e o Botafogo (Bahia), se tornou um dos mais importantes personagens da história do futebol nordestino.
Dizem que goleiro é a profissão mais maldita da fase da terra. Raimundo Nonato Matos de Abreu, o Bacabal, não tem motivo nenhum para acreditar nisso. A “maldição” se transformou em glória e esse goleiro, que fechou o gol do Moto Club, América (Fortaleza) e o Botafogo (Bahia), se tornou um dos mais importantes personagens da história do futebol nordestino.
Bacabal, como o
nome sugere, nasceu no dia 14 de Abril de 1928 na cidade de Bacabal (MA) e
muito cedo começou a jogar futebol. Ponta-direita medíocre, segundo ele
próprio, teve sua primeira chance no gol quando o goleiro do Bacabal Esporte
Club (time amador da cidade) adoeceu e não pôde jogar. “Comecei a segurar as
bolas e dei conta do recado”, lembra ele sobre o início, quase casual, da
carreira.
Em1948 a Seleção
de Bacabal veio a São Luis jogar o Campeonato Intermunicipal de Futebol Amador.
Bacabal, que tinha apenas 17 anos, começou a brilhar e, apesar da fraquíssima
campanha do selecionado as sua cidade, conseguiu respeito e um lugar ao sol no
time do juvenil do Moto Club. Ficou na categoria de base do rubro-negro durante
um ano. Nesse espaço de tempo, adquiriu certa experiência e trabalhou os
fundamentos básicos da posição de “goal-keeper”. Apesar da pousa estatura (1,66
m), Bacabal conseguia sair do gol com muita segurança e sempre (ou quase
sempre) impedia um bom ataque da equipe adversária. Debaixo das traves, parecia
um gato e era capaz dos mais belos malabarismos na tentativa de impedir um gol.
Em 1950, um
pouco mais tarimbado, foi promovido ao quadro de aspirantes do Moto. No ano
seguinte, disputou o Campeonato Brasileiro da Juventude Amadorística pela
Seleção Maranhense e foi vice-campeão do Norte. Começava a dar frutos o
trabalho de base das categorias inferiores do time motorizado. Tanto é assim
que em 1952, numa crise do futebol maranhense, o Moto Club teve que dispensar
alguns jogadores, dentre eles o experiente goleiro Rui. Sem alterar o nível
técnico do time, a diretoria rubro-negra promoveu, sem perda de tempo, os
goleiros Walber Penha e Bacabal.
Bacabal de
tornou, efetivamente, o goleiro titular quando Walber Penha fraturou a perna e
não pôde atuar durante algum tempo. Seu primeiro jogo foi contra o ABC de
Natal, numa excursão do Moto ao Nordeste do país. O jovem goleiro, com 21 anos,
não decepcionou e aos pouco foi impondo respeito aos companheiros e
adversários. Em 1952, foi vendido ao América de Fortaleza e, ao lado dos
craques maranhenses Merci, Canhoteiro, Cosmo e Misael, fez história no
tradicional time cearense. “Canhoteiro sempre foi um grande amigo e colega. Nós
tínhamos uma amizade fora do comum e fiquei muito feliz quando ele foi
contratado para o América. No América, Canhoteiro se destacou rapidamente,
tanto que em pouco tempo ele foi para o São Paulo”, lembra. No seu primeiro ano
no América, um vice-campeonato. O time de Bacabal perdeu o titulo para o
Fortaleza. Depois disso, o time não voltou mais a brigar pelo título. Bacabal
ficou no América durante três anos e conseguiu dois vice-campeonatos (1952/53).
Em 1955, o
Botafogo Esporte Club, de Salvador, interessou-se pelo passe do jogador e
tratou logo de compra-lo. “Foi num jogo do América contra o Botafogo. Eles
adoraram meu futebol e pagaram para ver”, lembra-se Bacabal sobre a
transferência para a Bahia. Jogou quatro anos no “Clube da Sociedade” de
Salvador e foi vice-campeão em 1955. Lá, defendeu também as camisas do Vitória
e do Bahia, três meses em casa clube. Mesmo tendo adquirido respeito como
jogador e uma certa estabilidade financeira no estado baiano, o goleiro saiu de
lá para os gramados maranhenses em 1959. De volta ao time que o relevou (Moto
Club), Bacabal consolidou seu nome e conseguiu ser bicampeão maranhense em 1960
e 1961. Ainda fez parte da maior Seleção Maranhense d todos os tempos e com ela
foi Campeão do Norte em 1962, no Pará. Na finalíssima, Bacabal garantiu o
empate de 1x1 contra os donos da casa, numa defesa espetacular no último minuto
de jogo. Foi saudado por todos e se transformou no astro da conquista
maranhense em terras paraenses.
Em 1968,
faltando oito meses para acabar o contrato, resolveu abandonar a carreira e
pendurou as chuteiras. “Fiz como Pelé: quando ia entrar em decadência,
abandonei”, relembra ele. Teve oportunidade de jogar contra vários craques
brasileiros, dentre eles Zagallo, Zizinho, Bellini, Paulinho de Almeida, Nilton
Santos, Didi, Garrincha e Jair da Rosa Pinto. Bacabal é lenda, é a história
viva do futebol maranhense.
O grande rival:
Vila Nova – durante os quase 11 anos em que permaneceu no Moto Club, Bacabal
teve apenas um grande adversário: o goleiro Vila Nova. Os dois se revezaram na
posição por cinco anos, entre os anos de 1963 e 1968. Para o arqueiro do Papão
na década de 60, Vila Nova tinha uma característica peculiar em relação aos
outros companheiros de posição. “O Vila Nova tinha uma capacidade intuitiva
muito grande. Ele praticamente previa as jogadas dos atacantes. Não há duvidas
de que ele foi um dos maiores do nossos Estado. Entre os jogadores, os que mais
davam trabalho para Bacabal foram Fernando, ex-Sampaio Corrêa, e Croinha, um
dos maiores jogadores do Maranhão Atlético Clube em toda a sua história. O
primeiro se destacava pela técnica; o segundo, pela potência do chute. “Quando
Fernando pegava na bola, eu confessor que esperava uma jogada brilhante ou algo
surpreendente. Ele era improvável. Croinha, por sua vez, chutava como ninguém.
Ele, sem dúvida nenhuma, teve um dos chutes mais fortes de todos os tempos no
Maranhão”. No período, Bacabal era companheiro de Hamilton e Nabor. Para ele,
uma sorte grande. “Além de ter aprendido muito com eles, eu não tive a
infelicidade de enfrentá-los. O futebol maranhense teve grandes jogadores e
eles foram um dos que mais se destacaram em todos os tempos. Confesso que
deveria ser horrível tê-los como adversários”, reconhece.
Acompanhando o treino do seu filho, o artilheiro Bacabal, em 1996
Seleção Maranhense de 1962 campeã do Norte: em pé – Bacabal, Ribeiro, Omena, Gojoba, Laxinha e Português; agachados – Garrinchinha, Santos, Croinha, Chico e Hamilton
Moto Club em 1966
Bacabal no Moto Club
Bacabal pela Seleção Maranhense
Seleção Maranhense x Botafogo (RJ), na década de 50. Na foto, Mané Garricha chuta ao gol de Bacabal
Seleção Maranhense x Botafogo (RJ), na década de 50. Na foto, goleiro Bacabal defendendo e sendo observado por Didi, Santos e Paulinho
Bacabal em jogo pela Seleção Maranhense no Nhozinho Santos
Bacabal em ação pela Seleção Maranhense
Bacabal pelo América, em jogo pelo Torneio Início ao Campeonato Cearense
Bacabal em ação pelo América cearense
Bacabal em ação pelo América cearense
Bacabal entre Bellini e Paulinho de Almeida
Bacabal no time do Moto em 1952
Ananias, Bacabal, Canhoteiro, Salomão Mattar e Nagib Heickel antes do amistoso Moto Club 0x1 São Paulo, em 1958, no Nhozinho Santos
Bacabal, primeiro da fila, no Moto Club Campeão Maranhense em 1960
Bacabal sofrendo gol no amistoso de faixas Moto Club 0x2 Vasco da Gama (RJ)
Bacabal sofrendo gol no amistoso de faixas Moto Club 0x2 Vasco da Gama (RJ)
Formação do Papão em 1960, antes do amistoso Moto Club 2x1 Flamengo (RJ)
Moto Club diante da maior goleada da história contra o Sampaio Corrêa, em 1963
PS: Agradecimento ao goleiro Bacabal, por ceder gentilmente a mim algumas fotos do seu acervo pessoal
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