Hoje o Blog “Futebol
Maranhense” faz uma pequena (e justa) homenagem a um grande atleta que passou
pelos gramados maranhenses e que deixou a sua história registrada nos anais do
nosso futebol. Estamos falando do ponta Tutinha, cearense de Maracanaú e que
fez fama atuando por alguns clubes maranhenses, como Sampaio Corrêa, Moto Club e
Ferroviário, além de outras importantes equipes da região Nordeste. Infelizmente
a história desse craque não havia sido ainda registrada, dai a dificuldade em
trazermos aqui ao leitor alguma passagem importante da sua carreira. Em contato
com o seu filho, Frank Sousa, agora pudemos colher algumas informações e deixar
um pouco sobre a vida e carreira do Tutinha. Frank, que muito gentilmente cedeu
as informações aqui postadas, também seguiu os mesmos passos do seu pai: começou
no Sampaio Corrêa em 1997, trazido pelo preparador de goleiros, Marcial, e pelo
saudoso Djalma Campos, eterno ídolo bolivianos em décadas passadas. Após dois
anos vestindo a camisa Tricolor, Frank teve uma breve passagem pelo Ceará
Sporting Club antes de transferir-se para o Moto Club nos anos de 1999 e 2000.
Em seguida, rumou para o exterior, atuando na Bélgica (2002) e futebol francês,
antes de fixar residência na Espanha, onde vive há quatro anos. Em 2007, quase assinou
com o Sampaio Corrêa, na época treinado por Agnaldo Liz. Como havia a proposta
de atuar pelo futebol espanhol, rumou para a capital da província de Lugo.
Frank, atualmente com 32 anos, joga pelo S.D.R. Sacido, um pequeno clube da
cidade. Além de ainda atuar nos gramados, o filho do eterno craque Tutinha tenta
manter a geração de boleiros da família. A aposta são os seus dois filhos, Dener
e Kluivert, que estão jogando pelo modesto Viveiro Club de Fútbol, equipe da
região da Galícia espanhola. Kluivert herdou do avô a velocidade e faz muitos e
gols; Dener, canhoto, apresenta um perfil mais técnico.
A HISTÓRIA DO CRAQUE
Quando criança,
Tutinha ficava impressionado pela extrema habilidade do jogador Garrincha, o
maior ponta-direita de todos os tempos do futebol mundial. As jogadas
desconcertantes e o refinado toque de bola do eterno “Mané” fascinaram o
garoto, que passou a incorporar a posição e que o consagraria, anos depois, nos
campos de futebol do Nordeste. Francisco Nogueira de Souza, cearense de Maracanaú
(pequeno município da Região Metropolitana de Fortaleza), nasceu no dia 28 de Maio
de 1943. Ainda criança, foi morar com a sua família no Bairro Vila Manuel Sátiro,
na capital cearense. Foi ali que o garoto começou a dar os primeiros passos com
a bola, jogando na equipe juvenil do Floresta, time do próprio bairro. Torcedor
do “Vozão”, o jovem Tutinha era um assíduo frequentador dos treinos da equipe
principal do clube alvinegro, no Estádio Alencar Pinto, o popular “Ninho das
Cobras”. Das arquibancadas para um teste no Vozão foi um pulo. Jogador de
extrema habilidade, logo em seu primeiro treino ele foi chamado pra fazer parte
da equipe, onde permaneceu nos juvenis entre 1959 e 1960. No ano seguinte, aos
18 anos, foi remanejado para a equipe principal do alvinegro cearense,
estreando em um clássico no Estádio Presidente Vargas. Tutinha permaneceu no
Ceará Sporting Club até 1963. Por divergências com a diretoria, que não o
deixou assinar com o ABC de Natal, o craque trocou o alvinegro pelo seu maior
rival, o Fortaleza. A troca deixou insatisfeita toda a sua família, declaradamente
torcedora do Ceará.
Tutinha pela Seleção Cearense, em 1965
Após uma breve e
apagada passagem pelo Fortaleza, Tutinha acabou transferindo-se, em 1966, para
o Quixadá, equipe do interior cearense. Desiludido com o futebol, o craque
esperou o encerramento do Campeonato Cearense daquele ano e resolveu retornar a
Fortaleza, a fim de dar seguimento aos seus estudos. A paixão pela bola, porém,
não o fez abandonar o futebol e Tutinha passou a atuar pela equipe amadora do
seu bairro. Um fato, porém, o fez repensar e retornar aos gramados como
profissional: o Ferroviário, terceira força da capital, estava com o seu campo
em reformas e foi treinar justamente no bairro onde Tutinha residia. O jogador foi
reconhecido pelo técnico, que o convidou pra treinar no “Ferrim”, para manter a
forma. Na mesma semana, desembarcavam em Fortaleza o dirigente Antônio Bento Cantanhede
Farias e o diretor Barroso, ambos do Sampaio Corrêa, pra contratar o ponta-direita
Lambreta, do Fortaleza. Ambos foram visitar o treino do Ferrim e dissera-lhes que
havia ali um ponta-direita mais novo que Lambreta. Por indicação, os diretores
bolivianos acabaram então levando Tutinha e Lambreta, para um período de observação
no Tricolor maranhense. Tutinha, com intenção de sair do futebol cearense,
decidiu assinar com o Sampaio Corrêa e desembarcou em São Luis no dia 26 de Maio
de 1967, justamente dois dias antes do seu aniversário de 24 anos.
Tutinha e
Lambreta estrearam pelo Tricolor de São Pantaleão no dia 28 de Maio de 1967, em
um jogo da Taça Cidade de São Luís, contra o todo poderoso Moto Club,
configurando-se na época como o atual campeão maranhense. A estreia de Tutinha
em um Superclássico não havia sido por acaso: segundo as palavras do treinador Alberino
de Paula, o Bero, um jogador quando é bom, se conhece em um clássico. E a
premissa de Bero se confirmou: o Sampaio Corrêa venceu a partida por 1 a 0, com
um gol de falta do ponta Tutinha, que rapidamente caiu nas graças da torcida.
Lambreta, infelizmente, não conseguiu firmar-se e na mesma semana o mandaram de
volta a Fortaleza. Sobre a estreia de Tutinha na Bolívia, em partida realizada
no Estádio Nhozinho Santos, assim perfilaram as duas equipes: Sampaio Corrêa - Zé
Raimundo; Pompeu, Geraldo, Osvaldo e Nivaldo; João Bala e Carlos Alberto; Fifi,
Tutinha, Lambreta e Ribamar; o Moto Club, do experiente treinador Rinaldi Maia,
entrou a campo com Vilanova; Paulo, Alzimar, Alvim da Guia e Corrêa; Ronaldo e
Ananias; Zezico, Hamilton, Pelezinho e Nabor. Nessa época, o Tricolor, com
sérios problemas financeiros, acabou promovendo à equipe principal alguns
grandes nomes que vieram dos chamados juvenis, como Marcial, Pompeu, Djalma,
Fifi e João Bala.
Rapidamente adaptado ao nosso futebol, logo Tutinha foi convocado pelo treinador Ênio Silva para a histórica partida entre a Seleção Maranhense do poderoso Santos de Pelé, em jogo que entrou para a história pela célebre frase do então Governador do Maranhão, José Sarney: “Vim ver o Santos jogar e vi a Seleção Maranhense”. O jogo foi realizado no dia 05 de Novembro de 1967 e o nosso selecionador era formado à base do Moto Club: Manguito; Paulo (Nivaldo), Alzimar, Alvin da Guia e Corrêa; Nélio (Carlos Alberto) e Barrão (Santana); Garrinchinha, Isaac, Cândido (Américo) e Pelezinho (desses onze titulares, apenas Manguito e Cândido eram do Ferroviário; todos os outros pertenciam ao Papão do Norte). Tutinha, porém, nem chegou a entrar em campo, fato esse que o frustrou como jogador profissional.
Rapidamente adaptado ao nosso futebol, logo Tutinha foi convocado pelo treinador Ênio Silva para a histórica partida entre a Seleção Maranhense do poderoso Santos de Pelé, em jogo que entrou para a história pela célebre frase do então Governador do Maranhão, José Sarney: “Vim ver o Santos jogar e vi a Seleção Maranhense”. O jogo foi realizado no dia 05 de Novembro de 1967 e o nosso selecionador era formado à base do Moto Club: Manguito; Paulo (Nivaldo), Alzimar, Alvin da Guia e Corrêa; Nélio (Carlos Alberto) e Barrão (Santana); Garrinchinha, Isaac, Cândido (Américo) e Pelezinho (desses onze titulares, apenas Manguito e Cândido eram do Ferroviário; todos os outros pertenciam ao Papão do Norte). Tutinha, porém, nem chegou a entrar em campo, fato esse que o frustrou como jogador profissional.
Tutinha com a camisa do Sampaio Corrêa
Sampaio Corrêa em 1968. Em pé: Zé Raimundo, Vico, Sansão, Faisca, Laixinha e Célio Rodrigues. Agachados: Ernani Luz, Tutinha, Santos, Luís Carlos, Lobato e Itamar.
Sampaio Corrêa em jogo contra o Vitória do Mar, em 1967. Em pé: Pompeu, Nivaldo, Maneco, Marcial, Osvaldo e Vico. Agachados: Tutinha, Laixinha, Carlos Alberto, Santos e Jocemar.
No ano seguinte,
1968, mesmo com o tricampeonato motense, Tutinha foi um dos grandes destaques
do Campeonato Maranhense e recebeu proposta para retornar ao Fortaleza. A
imprensa cearense, inclusive, já dava certa como a sua transferência para a
equipe do Pici. Porém, quis o destino que o craque ficasse por mais um tempo no
futebol maranhense: durante um torneio amistoso no Municipal, Sampaio e Moto
realizaram a preliminar de Fortaleza 0x1 Ferroviário, dia 15 de Setembro de
1968. No Superclássico, vencido pelos motenses pelo placar de 1 a 0, os
dirigentes do Fortaleza observaram Tutinha. Logo no primeiro tempo, Carlos
Alberto cobrou um escanteio e Tutinha se chocou de cabeça com o motense
Geraldo, indo os dois para o hospital. Mais do que isso, encerrava-se ali em
definitivo para Tutinha qualquer tentativa de retorno ao futebol cearense.
Tutinha acabou assinando com o Papão do Norte no segundo semestre de 1968, para
as disputas da Taça Brasil daquele ano. Após renovar com alguns atletas, a
diretoria foi buscar alguns grandes nomes para compor o restante do elenco.
Trouxeram então Tutinha, Osvaldo e o meio-campo Carlos Alberto, pertencentes ao
Sampaio Corrêa e que chegaram por empréstimo de três meses. Antes de vestir a
camisa do rubro-negro, Tutinha novamente foi convocado para a Seleção
Maranhense, desta vez em jogo contra o todo poderoso Corinthians do craque
Roberto Rivelino, em excursão pela nossa região. Na partida, realizada no dia
14 de Abril de 1968, a equipe paulista acabou vencendo o nosso combinado pelo
placar de 2 a 0, em partida realizada no Municipal.
Tutunha com a camisa do Papão do Norte, pelas disputas da Taça Brasil de 1968
Pela Taça
Brasil, Tutinha integrou-se ao elenco composto por verdadeiras feras, como Djalma
Campos, Zezico, Ribamar, Ronaldo, Geraldo, Corrêa, Vilanova e Alzimar. Porém, o
craque foi mal aproveitado na equipe titular, sobretudo após declarações por
parte do experiente treinador Marçal Tolentino Serra na imprensa, que dizia que
o ponta só jogava mesmo com a camisa do Sampaio Corrêa. Após a eliminação da
Taça Brasil para o Bahia, Tutinha deixou o Papão do Norte e assinou com o
Ferroviário, que retomava as atividades do elenco profissional. A equipe da
REFFSA formou um grande time, com Tutinha, Neto, Esquerdinha, Vivico, Valdinar,
Antônio Carlos, Garrinchinha e Neguinho, tendo o pernambucano Géo como treinador.
Pós perderam a decisão de 1969 para o Maranhão Atlético Clube, Tutinha recebeu
uma proposta do Sport Belém e decidiu rumar para o Pará. Após uma breve
passagem pelo futebol paraense e com o falecimento da sua mãe, Josefa Marinho, Tutinha
assinou e defendeu as cores do Comercial de Campo Maior, do Piaui.
Tutinha (Ferroviário) e Itamar (Sampaio Corrêa), em 1969
No ano seguinte,
1971, Tutinha retornou à capital cearense, desta vez para defender as cores do
América de Fortaleza, onde chegou logo ao vice-campeonato do Torneio Inicio ao
Campeonato Cearense. Em 1972, o craque voltou a São Luis, onde assinou com o
modesto São José, do Bairro do João Paulo. Após destacar-se em um amistoso na
cidade de Imperatriz, Tutinha chamou a atenção da própria diretoria do clube
imperatrizense, sendo chamado em seguida para defender as cores do “Cavalo de
Aço” (Tutinha sequer retornaria a São Luis com a delegação do São José, assinou
logo com a equipe do Baixo Tocantins). Pelo Imperatriz, o ponta atuou durante
dois anos (1972 e 1973). E foi justamente em 1973 que Tutinha teve a chance de
dividir o mesmo gramado com aquele que seria o seu grande ídolo da infância: Garrincha
esteve na cidade de Imperatriz para um amistoso beneficente, envergando a camisa
do Cavalo de Aço. Tutinha concedeu-lhe a camisa 7 para que o craque das “pernas
tortas” atuasse na ponta-direita. A
partida, realizada no dia 16 de Julho daquele ano, uma quinta-feira de feriado
municipal, terminou empatada em 0 a 0 e Garrincha atuou durante trinta minutos
pelo Cruzeiro (do desportista Diomar) e outros trinta minutos pelo Imperatriz. Com
certeza foi a maior emoção em vida do craque Tutinha ao conhecer de perto o seu
grande ídolo do passado.
Mané Garrincha em jogo beneficente em Imparatriz
Após a passagem
pelo interior do Maranhão, Tutinha resolver encerrar a sua carreira como atleta
profissional. O Imperatriz foi o seu ultimo clube e Tutinha pendurou as
chuteiras após um amistoso contra o MAC. Ainda recebeu uma proposta para voltar
a atuar em São Luis, mais o fator família pesou na decisão em abandonar os
gramados, fixando residência em Imperatriz, onde residiu por 24 anos. O craque
faleceu em Teresina no dia 08 de Agosto de 1996, aos 53 anos, vítima de
insuficiência respiratória. Em vida, Tutinha sempre dizia que o melhor jogador
maranhense que viu em campo foi o meia Djalma Campos, seu amigo pessoal e
padrinho de um de seus filhos. O Sampaio Corrêa, seu clube de coração, passou a
ter por Tutinha um carinho muito especial e o eterno ponta-direita sempre foi
bem querido pelos torcedores bolivianos.
* créditos das fotos ao Frank Souza
* créditos das fotos ao Frank Souza
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