Não
há dúvidas de que o Bairro do Anil, um dos maiores e mais tradicionais de São
Luis, continua sendo o que mais revela craques para o futebol profissional
maranhense. Toca foi um deles. Se destacou no Cruzeiro e chegou a ser ídolo no
Maranhão Atlético Clube. Jogava por amor ao clube que aprendeu a gostar desde a
época que o pai o levava aos estádios. Até hoje dirigentes e torcedores do MAC
não o esquecem e falam dele com muito orgulho e respeito.
Um
ídolo, que acima dos seus próprios interesses profissionais coloca o clube, é
difícil de se encontrar. Toca era assim, até porque o futebol sempre esteve no
sangue da sai família. O pai dele, conhecido no Anil como Chico Velho, fez fama
como half-direito (lateral-direito) do Esporte Clube Cruzeiro, um dos times
mais tradicionais do Anil. Também era bom de bola o tio Alemão, irmão de Chico
Bola e pai de um dos maiores atletas que o maranhense já viu em campo, o meio
campista Carlos Alberto (que jogou nas principais equipes profissionais de São
Luis e que morreu no Sul do Brasil).
Os
dois, pai e tio, jogavam em times opostos, como nos conta Toca. Para vencer,
eles chegavam a brigar em campo. “Meu pai jogava no Cruzeiro e meu tio no
Botafogo. Com eles não tinha moleza. Meu batia muito no tio Alemão. Quando eles
chegavam em casa, meus avós já tinham conhecimento do que havia acontecido no
campo entre os dois que acabavam sendo surrados pela avó. Isso era até
engraçado. Esse duelo é lembrado até hoje no Anil”. O interessante é que seu
Chico, torcedor do Maranhão Atlético Clube, gostava de jogar futebol mas não queria
que os filhos seguissem a carreira de atleta profissional. “Ele chegava a
proibir a gente de jogar até no próprio bairro”.
Escapando
da marcação serrada do pai, Toca vestiu uma camisa do time pela primeira vez
aos 12 anos de idade. “Foi no Botafoguinho. Um time que tinha na curriola meu
primo Carlos Alberto, Mundão, Ali Uta, Neife, Pingo, Zequinha e outros amigos
do bairro. Jogávamos todos descalços. Chegamos a ficar invictos em 53 partidas.
Era bom demais aquela época”.
Toca
e os amigos jogaram no Botafoguinho durante dois anos. Depois, todos foram para
os clubes que disputavam o principal campeonato anilense: Cruzeiro, Nascente, Botafogo
e 1 de Maio. “Como o patrono do Botafoguinho era o Carrinho Sales, o principal dirigente
do Botafogo, muitos dos amigos saíram do Botafoguinho e foram direto para o
Botafogo. Apenas eu e Zé Carlos fomos para o Cruzeiro”.
Antônio
José Buna Ribeiro (26/11/1947) não sabe porque e nem quando ganhou o apelido de
Toca. Se destacou desde cedo no futebol pela inteligência, garra, força,
vontade e excelente controle de bola. Muito criativo na distribuição das
jogadas de ataque, fazia diferença principalmente pelo amor com que entrava em
campo. Jogava porque sabia e gostava. Lutava pela vitória até o apito final do
árbitro. Emotivo, não gostava de perder. Quando vinha a derrota, chorava de
tristeza. Quando era premiado pela vitória, chorava de alegria.
Dos
14 aos 17 anos de idade, Toca jogou no meio de campo do Cruzeiro, clube que até
hoje é a imagem da família Buna. Sua primeira grande experiência foi quando a
seleção anilense enfrentou o seu time do coração. “Quando eu estava com 17
anos, Carrinho Sales formou uma Seleção Anilense para jogar um amistoso contra
o MAC, no antigo Estádio Sant Isabel. O técnico era meu tio Alemão, que acabou
me colocando na seleção como centroavante. Foi um dia de glória para mim.
Primeiro porque eu iria enfrentar pela primeira vez o time que meu pai e eu
torcíamos. Segundo porque ganhamos o jogo por 3 x 2, com dois gols meus. Foi o
máximo”.
O
Presidente do MAC na época, Raul Guterres, se encantou com o futebol
apresentado pelo garoto Toca no amistoso. O MAC tinha acabado de vender o
centroavante Croinha para o Fortaleza/CE e estava procurando um substituto. O
maior problema era encontrar o seu Chico e deixar o garoto jogar
profissionalmente. Inteligentemente, Raul Guterres fez com que Babá Azevedo,
atleticano e primo de seu Chico, convencesse-o de deixar o filho vestir a
camisa do Bode Gregório. “Babá pegou meu pai pelo coração e eu acabei
realizando meu sonho de menino, que era vestir a camisa gloriosa do MAC”.
Toca,
por ser novo, jogava na equipe principal do MAC e também na aspirante. Pelo
excelente desempenho, caiu nas graças da torcida. Se adaptou bem na posição de
centroavante e passou a marcar belos e importantes gols. Mesmo jogando na
frente, entrava duro nos zagueiros. Era respeitado por eles. Jogava bem com a
bola no chão ou no alto, com a cabeça. Mas ele jamais disse que esse desempenho
era mérito só dele, muito pelo contrário. “Era fácil jogar com um meio de campo
formado por Barrão e Zuza. Barrão sempre me deixava na cara do gol com
lançamentos precisos. Vivi momentos mágicos ao lado dos meus ídolos da época”.
O
técnico do MAC, José Carlos de Assis, foi o introdutor do esquema tático
conhecido como 4-3-3. Todos os times da época jogavam no 4-2-4. “Ele aproveitou
minhas habilidades e me mostrou que eu poderia me dar bem jogando no meio, ao
lado de Zuza e Barrão. Gostei da nova formação e o time seguiu uma carreira
vitoriosa”. O MAC dessa época jogava com Bastos; Neguinho, Decadela, Geraldo e
Carlinhos; Zuza, Barrão e Toca; Euzébio, Mazola e Coelho. Uma curiosidade é que
esse time ganhou todas as Taças Cidade de São Luis que disputava. Porém, quando
vinha o campeonato oficial, quem levava era o Moto, tricampeão estadual em
1966/67/68.
Formação do MAC com Toca, o terceiro agachado, ao lado do artilheiro Hamilton
MAC em 1969
O
MAC sempre foi um time que deu e continua dando oportunidades aos atletas
maranhenses. Com um trabalho desenvolvido de forma bem especial, os atleticanos
chegaram ao título estadual de 1969 de forma espetacular e inquestionável com
Da Silva; Baezinho, Luis Carlos, Sansão e Elias; Toca e Yomar; Eusébio, Jacinto
ou Riba; Hamilton e Dario. “Um time pra ninguém botar defeito. Só o Hamilton
não era maranhense, mas já estava radicado aqui há muito tempo”.
Já
nessa época Toca trabalhava no extinto Banco Econômico. Ele trabalhava meio
período e no outro, treinava. Ganhava bem pouco no MAC. Na verdade, jogava por
puro prazer. Era segundo Raul Guterres, o grande capitão atleticano, que
ajudava o clube dentro e fora de campo.
No
final de 1969, a diretoria maqueana contratou o centroavante carioca Antônio
Carlos. Sem contrato, Toca pensava e parar quando o Moto se interessou pelo seu
passe, depois que ele foi participar de um amistoso contra o Remo em Belém,
vestindo a camisa rubro-negra. “Perdemos por 1x0, mas joguei bem e o Moto
comprou meu passe junto ao MAC por 4 mil cruzeiros, grana alta! Foi ai que
joguei por dinheiro, até então jogava por paixão”.
Maranhão Atlético Clube em 1969, em Manaus: Coelho, Toca e Iomar
Em
1970 o MAC conquistou o bicampeonato. As coisas não andaram bem para o Moto e
nem para Toca. No ano seguinte, o Moto formou um super time. Lá estava Paulo
Figueiredo, Alzimar, Paulo Silva, Garrinchinha, Carlos Alberto, João Bala,
Oberdan, Toca e outros feras mais. Quem ficou com o título foi o Ferroviário. “Um
fato ocorrido nesse campeonato não me sai da cabeça até hoje. O episódio ficou
conhecido como o “jogo do Paulo Figueiredo”. Ele era nosso goleiro. Na partida
contra o Sampaio, valendo uma vaga para a grande final contra o Ferroviário, em
menos de 10 minutos do primeiro tempo nos ganhávamos os tricolores por 2x0.
Antes de completar 20 minutos ainda do primeiro tempo, Paulo Figueiredo tomou
quatro gols seguidos e de forma estranha. O resultado: perdemos a partida e,
coincidentemente, uma semana após essa histórica derrota, Paulo Figueiredo foi
contratado pelo Sampaio. Estranho, não?”.
Toca no Moto em 1969. Em pé: Paulo, Paulo Figueiredo, atleta não identificado, Almeida, Pinto, Pereira, Osvaldo, Alzimar, Geraldo, Manda e Assis. Agachados: Corrêa, Antônio Chupila, atleta não identificado, Toca, João Bala, Marcílio, Pelezinho e Cadinho.
Esse
fato influenciou na decisão de Toca, 24 anos de idade, em plena forma, a
abandonar o futebol profissional. “Estava bem empregado no Banco Econômico e,
antes que eu me decepcionasse mais ainda com o futebol profissional, resolvi
que só voltaria a jogar se fosse de forma amadora no meu Cruzeiro do Anil”. E
assim aconteceu. Toca ficou no Cruzeiro mais uns dois anos, depois jogou no
time da Família Buna e em seguida foi parando definitivamente com a bola”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário