sábado, 11 de agosto de 2012

Garrinchinha, o drible que acabou pela violência

Vou postar aqui uma matéria interessante publicada em um jornal no ano de 1990, ano do falecimento do ponta Garrinchinha. José Domingos Lopes Matos, o Garrinchinha, era maranhense de Rosário e fez fama jogando pelo Botafogo do Rio de Janeiro (dai o apelido, pela forma como jogava ao Garrincha mais famoso, o Mané). Nascido a 12 de Dezembro de 1938, Garrinchinha começou a jogar futebol aos 12 anos. O seu primeiro clube foi ainda no amador do Ipiranga. Defendeu o Nacional, o Botafogo, o Sporte (PE), o América (PE), o Moto Club e o Ferroviário (MA). Jogou no Papão do Norte na década de 1960, após uma confusão no Rio de Janeiro onde Garrinchinha, supostamente, havia se envolvido em um homicídio. Quando atuava pelo Sport, o craque esteve em São Luis com a equipe pernambucana e logo assinou com o Moto Club, onde praticamente encerrou a sua carreira. Foi ainda treinador do Maranhão Atlético Club e do próprio Moto.

"Decorridos cinco dias da morte do ponta-direita Garrinchinha, ex-jogador do Moto, Botafogo, Sport e Seleção Maranhense, o fato ainda repercute pela maneira brutal como aconteceu. Perdeu o Maranhão um desportistas que soube muito bem representar o Estado lá fora, que deu alegrias ao Moto na grande fase de Papão do Norte e à Seleção Maranhense, considerada uma das melhores da região para a década de 70. Enquanto isso, o assassino até ontem continuava solto, como se nada tivesse acontecido.


Garrinchinha com a camisa do Moto Club

José Domingos Lopes de Matos (Garrinchinha), maranhense de Rosário, começou sua carreira nas divisões inferiores do Botafogo, onde chegou à condição de reserva do famoso Mané Garrincha, ponta-direita de maior projeção mundial em todos os tempos. Disputou muitas partidas pelo alvinegro carioca, ao lado de Didi, Paulinho Valentim e Quarentinha, em 1958. Atuou também no América-RJ, no Moto e no Sport de Recife. Ao abandonar o futebol, dedicou-se à carreira de treinador, dirigindo o Imperatriz, Expressinho e Maranhão Atlético Clube. Funcionário da Marinha no Rio de Janeiro, veio a São Luis buscar sua documentação para aposentadoria.

Ribeiro, lateral-direito, um dos melhores da sua posição na década de 60, lembra-se muito bem da Seleção Maranhense de 62 que reunia grandes craques e que tinham Garrinchinha o titular da camisa 7. Bacabal; Ribeiro, Negão Omena e Português, Gojoba e Ananias; Garrinchinha, Hamilton, Croinha e Jouber. “Lembro-me ainda da esperteza de Garrinchinha. Ele dizia mais ou menos assim: Ribeiro, lança pra mim, encosta na tabela que vamos matar o nosso “conterra”, referindo-se ao lateral-esquerdo Carneiro, seu marcador. E como a coisa funcionou bem na última partida. Ele era um jogador rápido, driblador, com cruzamentos sob medida para os atacantes. Suas pernas faziam lembrar muito bem a Mané Garrincha, daí porque ganhou esse apelido de Garrinchinha, acredito também que, pelo estilo de jogo que ele adotava”.

Seleção Maranhense campeã do Norte em 1962: em pé - Português, Bacabal, Ribeiro, Omena, Gojoba e Negão; agachados - Garrinchinha, Hamilton, Croinha, Chico, Neto e Patrocínio (massagista)

Ribeiro mostrou-se surpreso quando soube da morte de Garrinchinha, pois sempre o considerou uma pessoa simples, pacata, um cidadão de bem. “Era acima de todo o companheiro exemplar de todas as horas. Brincalhão, mas respeitador. Não quis acreditar quando soube do seu assassinato. Fiquei me perguntando várias horas quais os motivos que o criminoso teve para tirar a vida de Garrinchinha, mesmo sabendo que ninguém tem o direito de tirar a vida do seu semelhante. E como todos que o conhecia certamente estão até hoje querendo saber porque isso aconteceu, logo com ele, que tenho certeza, não merecia tanto. Perdeu o Maranhão um grande desportista, uma pessoa que soube muito bem nos representar aqui e lá fora. Só nos resta esperar que a justiça agora cumpra seu papel”. 

Para Dejard Ramos Martins, jornalista, pesquisador e autor do livro “Um Mergulho no Tempo”, a morte de Garrinchinha foi uma grande perda para o nosso futebol. “Ele saiu de Rosário como ilustre desconhecido e quando reapareceu aqui foi como jogador do Botafogo. Jogou até de ponta-esquerda. No futebol, se notabilizou pela categoria que tinham como jogador de ataque, de muita habilidade, sem, contudo, seu futebol pudesse se aproximar de Mané Garrincha, indiscutivelmente o maior gênio da bola, que apenas não teve cabeça para continuar brilhando por mais tempo, lamentavelmente”.

Seleção Maranhense campeã do Norte em 1962: em pé - Bacabal, Ribeiro, Omena, Gojoba, Laxinha e Português; agachados - Garrinchinha, Santos, Croinha, Chico e Hamilton

Dejard lamenta a maneira como Garrinchinha desapareceu, pois considera que ele ainda poderia ser muito útil ao nosso futebol, contribuindo com seus ensinamentos à nova geração, de muitas coisas que aprendeu na sua brilhante carreira de atleta profissional. “Lamentável, sob todos os aspectos, a maneira como Garrinchinha desapareceu, de forma violenta. Com sua experiência, poderia prestar bons serviços aos nossos clubes, orientando e ensinando-lhes muitas coisas que aprendeu em centros mais adiantados”.

Um comentário:

  1. Amigos, que saudade! A nossa seleção de 1962 era um timaço. Não se pode esquecer o mérito do professor Sávio Ferreira, técnico daquela equipe maravilhosa. Quem viu, viu! Quem não viu, que pena (quem mandou nascer fora de tempo?)A qualidade da reposição de bola do Bacabal, a marcação do Ribeiro, a classe do Omena,o fôlego e competência do Gojoba, os dribles do Garrinchinha, a precisão do Croinha e do Hamilton! Pelo amor de Deus, o que está acontecendo com futebol do Marahão?

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