Belo texto do jornalista Oliveira Ramos e que reproduzo aqui, com os devidos créditos:
Desde que se “inventou” o futebol até os dias de hoje, para quem conheceu e gosta do bom “association”, nunca existiu um time que tenha jogado tanto quanto a seleção da Hungria de 1954. Não era, concordamos, um time imbatível. Era apenas um grupo de jogadores reunidos para proporcionar a boa disputa e garantir o prazer da plasticidade para os torcedores.
E foi exatamente ali que começou a surgir a primeira adjetivação do que venha ser uma “dupla” jogando futebol. Ferenc Puskás e Sándor Kocsis realizavam magia sob o comando do técnico Gustáv Sebes. Havia um entrosamento tão magistral – o time fora formado para a disputa dos Jogos Olímpicos e o fizera com inquestionável competência – que, depois, muitos foram jogar profissionalmente na Espanha.
E foi a partir dali que a ideia da “dupla” foi reforçada. Puskás chegou ao Real Madrid para formar “dupla” com o fenomenal argentino Alfredo Di Stéfano.
No Brasil a prática confirmou totalmente o conceito com Pelé-Coutinho, Zizinho-Canhoteiro, Tostão-Dirceu Lopes, Adílio-Zico, Paulinho-Beline, Parada-Bianchini, Dudu-Ademir da Guia e outras tantas duplas formadas competentemente por este país continental.
Mas, momentos estelares à parte, até porque muitos não tiveram a sorte de ver, vamos nos ater hoje ao futebol maranhense. Mais propriamente a uma “dupla” que não era tão dupla assim. Mas que fez quase tudo junto, inclusive na conquista meteórica do sucesso.
Quem naqueles tempos das décadas de 60 e 70 pretendesse emitir opinião a respeito de um jogador com o nome de “Dolimar”, certamente seria vilipendiado e debochado. Até mesmo no bairro do Anil, onde o craque nasceu e foi iniciado para o estrelato, quase ninguém conhecia esse tal “Dolimar”. Da mesma forma, já vestindo a gloriosa camisa rubro-negra do Sport Clube Recife, ninguém conheceria um tal “Pelezinho”. O nome do craque e artilheiro que vestia a camisa 9 do Sport, era “Nunes”. Faz sentido, pois o homem foi registrado na pia batismal e no cartório com o nome de José Dolimar Nunes. No Anil e, mais tarde no nosso futebol profissional, foi apenas “Pelezinho”.
Mas “Pelezinho” não é nenhuma dupla. Mas esse José Dolimar Nunes foi formar dupla de sucesso no futebol com outro também maranhense de São Luís, José Raimundo Moraes. Aí enrola tudo, José Dolimar Nunes e José Raimundo Moraes – a “dupla” de cidadãos desconhecidos. Mas, Gojoba e Pelezinho, alguém do meio futebolístico já ouviu falar? Não?!Azar seu!
Pois, tradicionalmente conhecido como Celeiro de Craques, o futebol amador do Anil, para alegria de muitos, não “formou” apenas Carlos Alberto, Alencar e Santos. E o Primeiro de Maio, tanto quanto o Nascente, Botafogo ou XI Anilense nos dias atuais, era o principal formador de jogadores para o futebol profissional, no mesmo tempo do Bahia e do Santos do Monte Castelo.
Foi o hoje extinto Primeiro de Maio que “descobriu” Gojoba e Pelezinho. Juntos, chegaram ao Moto Club no final da década de 50 e, mais uma vez juntos, agora no começo dos anos 60, foram negociados ao Sport Club Recife.
A negociação dos dois, contam os que aqui viviam, teve para o Moto o mesmo rendimento das negociações de hoje: nada. Mas, ao Sport e ao futebol pernambucano rendeu muito. Gojoba perpetuou-se como um dos melhores meias (hoje chamado de segundo volante) do futebol pernambucano, equiparando-se a Zequinha e Salomão, dois ícones do setor em todos os tempos daquele futebol. Pelezinho, digo, Nunes, consagrou-se como artilheiro mesmo num período em que o Clube Náutico Capibaribe de Recife fazia parte da lista dos maiores do Brasil.
Reconhecidos e intocáveis, Gojoba e Nunes foram convocados pelo técnico Gentil Cardoso para defender a seleção brasileira principal (na verdade, uma seleção pernambucana que defendeu brilhantemente o nome do Brasil numa competição internacional da época), apelidada de “Seleção Cacareco” pela Imprensa do sul-sudeste.
Realizados e vitoriosos, Gojoba e Pelezinho, ainda Nunes, iniciaram o caminho da volta. Na ida, Gojoba fora na frente, antes de Pelezinho. Na volta fizeram o contrário, e Pelezinho, ainda Nunes, retornou ao futebol maranhense, exatamente para o lugar de onde saíra: Moto Club de São Luís.
No primeiro ano que voltou a defender a camisa rubro-negra, Pelezinho sagrou-se campeão estadual numa partida memorável diante do Sampaio Corrêa, com o Nhozinho Santos recebendo grande público – para a época.
Moto Club 1×0 Sampaio Corrêa
Local: Estádio Municipal Nhozinho Santos – Árbitro: Francisco Sousa (Tim)
Bandeirinhas: José Salgado e Benedito Brandão
Público: 6.921 pagantes. Renda: Cr$ 10.706,00
Expulsão: Santana aos 44 minutos do segundo tempo
Gol: Ribamar aos 49 minutos do primeiro tempo
Moto
Club: Campos; Neguinho (Paulo), Alzimar, Geraldo e Corrêa; Buliado
(Zezico), Amauri e Santana; Djalma, Pelezinho e Ribamar. Técnico: Marçal
Tolentino Serra.
Sampaio Corrêa: Marcial; Vico, Osvaldo,
Laxinha e Tomás; Faísca, Tutinha e Carlos Alberto; Canhoto, Lobato (Luís
Carlos) e Itamar. Técnico: Alberino de Paulo.
Gojoba tomou rumo diferente. Foi brindar o torcedor cearense com o futebol plástico e eficiente em defesa do Ceará Sporting Club, onde encontrou o também maranhense Carlindo, que substituíra o também genial maranhense Carneiro. Gojoba foi destaque numa das mais importantes conquistas do alvinegro cearense: Campeão da Copa Norte-Nordeste de 1969.
Mas, “dupla” que se preza não separa por muito tempo e firma melhor se permanecer junta. Caso contrário não seria uma dupla. E foi exatamente o que aconteceu quando, num rompante de Walter Zaidan, o Sampaio Corrêa sagrou-se campeão estadual de 1972 e campeão brasileiro, invicto, também naquele ano, com time bastante reforçado. Mas a “dupla” permaneceu e foi importante para a conquista nacional.
Depois de “parar” de jogar profissionalmente, Gojoba passou a ganhar a vida para sustentar a família, como Desenhista Técnico e foi trabalhar na CEMAR (Companhia Energética do Maranhão). Por anos, como participante de jogos e colaborador, trabalhou também no Grêmio Lítero Recreativo Português. Hoje, aposentado, José Raimundo Moraes, Gojoba, convive com o Mal de Parkinson, mas recebe assistência total da família.
José Dolimar Nunes, Pelezinho, continua morando no populoso bairro do Anil e, depois de corrigir problemas cardíacos (fez ponte de safena), pouco se ausenta de casa e quase nunca frequenta praças esportivas.
Seleção Pernambucana diante dos Alemães. Gojoba (penúltimo em pé) e Pelezinho (agachado, ao centro) foram os grandes nomes daquela partida
Pelezinho na decisão contra a Campinense, em 1972
Jacinto, ao centro, entre Gojoba e Pelezinho, em 1970
Gojoba no Ceará
Gojoba no Papão do Norte
Gojoba no Moto Club
Gojoba e Pelezinho no Moto Club
Gojoba
Pelezinho, o terceiro agachados, no Moto Club em 1968
Pelezinho no Moto Club
Gojoba no Papão
Pelezinho Tricampeão Maranhense (1966/67/68) pelo Moto Club
Pelezinho no Sampaio Corrêa
Pelezinho
Pelezinho no Moto, em 1969
Pelezinho com a camisa do Papão
Pelezinho com a camisa do Sampaio Corrêa
Pelezinho no Sampaio Corrêa
Pelezinho na Bolívia Querida em 1971
Gojoba na Seleção Maranhense
Gojoba na Seleção Maranhense, ao lado de uma constelação de craques
Pelezinho e Pelé, em 1967